Marco Antonio Villa / Revista IstoÉ
O Brasil inicia o ano já pensando no próximo, ou seja, no novo presidente da República que assumirá a 1º de janeiro de 2023, isto após superar o pior pesadelo da nossa história, a presidência Jair Bolsonaro. Há um sentimento de alegria, de que as urnas, em outubro, vão possibilitar ao eleitor escolher o substituto daquele que conspirou — e ainda conspira — diuturnamente contra o Estado democrático de Direito.
Mas até o final feliz deste terrível drama, temos todo um ano a percorrer.
E, com a mais absoluta certeza, Bolsonaro não vai perder a oportunidade de buscar o conflito, o confronto, com os democratas, com os Poderes constituídos, com a Constituição de 1988. Para complicar este quadro temos a permanência da pandemia com efeitos ainda impossíveis de serem quantificados. E a contínua luta obscurantista de Bolsonaro contra a vacina e as recomendações sanitárias indispensáveis para enfrentar a Covid-19.
Pelos primeiros sinais apresentados por Bolsonaro logo na primeira quinzena de janeiro, a tendência é de que aumente seu isolamento político. Não há nenhum indicador que apresente uma possibilidade de que as pesquisas de intenção de voto alterem o atual quadro, extremamente desfavorável à sua reeleição. Ele será o primeiro presidente da República derrotado na tentativa de ser reeleito — diferentemente de Lula (em 2006) e Dilma (em 2014).
Desta forma, caso ele permaneça na Presidência até outubro, o Brasil assistirá pela primeira vez a um candidato derrotado governando por mais um trimestre. E, o que poderá ser sombrio para o País, com a possibilidade de tentar tensionar ainda mais o clima político.
Se a sorte de Bolsonaro já foi lançada e condenada à derrota, ainda é cedo para afirmar que a eleição será decidida no primeiro turno ou de que já há um vencedor no segundo turno. Evidentemente que Lula aparece, neste momento, como favorito. Mas até o dia 2 de outubro mauita água ainda vai correr sob a ponte. Nas duas últimas eleições tivemos surpresas nos meses de agosto (2014) e setembro (2018). Neste pleito a conjuntura política é muito mais complexa desde o restabelecimento das eleições diretas para a Presidência da República, em 1989.
O afastamento da possibilidade de Bolsonaro chegar ao segundo turno será extremamente benéfico ao processo eleitoral. Permitirá um debate de ideias, mesmo com a presença — inevitável — das agressões, tão típicas de uma eleição brasileira. E os dias de aflição serão apenas um registro da história.
Fonte: IStoÉ
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