Vinícius Valfré e Lauriberto Pompeu / O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA — Mesmo com cargos, ministérios e até o controle do Orçamento, o Centrão deve se opor a candidatos bolsonaristas em ao menos cinco Estados nas eleições de outubro. Em São Paulo, Pernambuco, Piauí, Ceará e Maranhão, líderes e parlamentares de partidos como PL, Progressistas e Republicanos – tripé de sustentação do governo de Jair Bolsonaro – resistem a romper com adversários do Palácio do Planalto e traçam saídas para manter espaços em círculos petistas ou do PSDB.
Levantamento feito pelo Estadão com dirigentes de partidos mostra que o ex-presidente Lula Inácio Lula da Silva (PT) já tem palanques negociados em 18 dos 27 Estados. O presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, acertou até agora 14.
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Para conseguir filiar Bolsonaro ao PL, em novembro, o ex-deputado Valdemar Costa Neto – que comanda o partido – prometeu romper acordos regionais com o PT e com tucanos. Agora, porém, tem sido pressionado por seus pares a liberar os diretórios regionais na campanha ou ao menos permitir que o PL adote posição de neutralidade nas disputas para governador.
Em São Paulo, por exemplo, o Centrão até agora não se entendeu. A meta do presidente é eleger o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, para o Palácio dos Bandeirantes. Sem partido, Tarcísio vem sendo sondado para se filiar ao PL, mas também tem convite do Progressistas. O problema é que, a exemplo de um pedaço do PL, o presidente do Progressistas em São Paulo, Guilherme Mussi, já combinou de apoiar o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB) na disputa ao Bandeirantes. Garcia foi lançado pelo governador João Doria – hoje pré-candidato tucano à sucessão de Bolsonaro.
O cenário tem causado mal-estar entre aliados do presidente e acusações de traição por parte de tucanos. Motivo: Doria abriu espaço tanto para o PL como para o Progressistas no primeiro escalão e agora espera respaldo tanto na sua campanha como na de Garcia.
Pragmático, o Centrão tem alianças do centro à esquerda. O presidente do PL no Piauí, por exemplo, é secretário no governo de Wellington Dias (PT). Mesmo com a filiação de Bolsonaro, Fábio Xavier continua à frente da pasta de Cidades até o prazo legal para a desincompatibilização, em abril, e vai indicar o substituto.
O provável candidato do polo bolsonarista ao governo daquele Estado é o ex-prefeito de Teresina Silvio Mendes, do PSDB. Apoiado pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (Progressistas), Mendes é o nome mais lembrado nas pesquisas, ao lado do secretário estadual da Fazenda, Rafael Fonteles (PT), o preferido do governador.
Para desfrutar de benefícios políticos da aliança com os petistas e, ao mesmo tempo, manter o controle do partido, a direção do PL no Piauí argumenta que Mendes é do PSDB, legenda de Doria, que vai concorrer contra Bolsonaro. Mas uma ala também está com o candidato de Dias.
“Nossa esperança é essa, a de haver essa neutralidade”, disse o deputado Fábio Abreu (PL-PI), numa referência à liberação do diretório. “Continuaríamos todos no partido, apoiaríamos o governador, podendo fazer a campanha, e, para presidente, cada um declararia apoio em quem bem entendesse.”
No Ceará, o presidente regional do PL, Acilon Gonçalves, prefeito de Eusébio, é um conhecido aliado do governador Camilo Santana (PT) e dos irmãos Ferreira Gomes (PDT). O partido de Bolsonaro pode lançar ao governo o deputado Capitão Wagner, atualmente no PROS.
Apesar do interesse dos bolsonaristas em rivalizar com o PT, Gonçalves não declarou apoio a Capitão Wagner e se anunciou pré-candidato. A expectativa do grupo do presidente é a de que o prefeito perca o partido para o deputado estadual André Fernandes, que trocou o Republicanos pelo PL. A saída de Gonçalves do PL, caso confirmada, pode significar a perda de importantes prefeituras. Em 2020, por exemplo, ele elegeu outros três prefeitos de cidades da região metropolitana de Fortaleza.
A deputada estadual Dra. Silvana (PL) confirmou que a busca pela neutralidade formal é uma estratégia dos aliados dos PT. Afirmou, porém, que isso não será tolerado. “Na outra eleição, o Valdemar (Costa Neto) deixava claro que a gente podia apoiar quem quisesse. Mas, agora, deixa claro que fez acordo com Bolsonaro e não pode quebrar”, insistiu ela.
Os acenos emitidos por integrantes da base aliada do Planalto a adversários de Bolsonaro nos Estados não são restritos a parlamentares de pouca expressão. Até mesmo o deputado André Fufuca (MA), presidente nacional do Progressistas, também enviou sinais de simpatia a Flávio Dino (PSB) no Maranhão. Dino deve ser candidato ao Senado.
Ex-filiado do PCdoB e hoje no PSB, o governador nomeou o irmão de Fufuca na Secretaria de Meio Ambiente, em 2019, e o substituiu, em razão das eleições de 2020, por Diego Fernando Rolim, também aliado do presidente do Progressistas. Ao Estadão, Fufuca disse que as diretrizes nacionais do partido sobre apoios regionais só serão discutidas após o recesso parlamentar.
Em Pernambuco, a situação é semelhante. O possível candidato de Bolsonaro é Gilson Machado, ministro do Turismo. O presidente regional do Progressistas, Eduardo da Fonte, negocia espaços no governo de Paulo Câmara (PSB) e vem declarando não ver empecilho para caminhar com Lula na campanha. O deputado Sílvio Costa Filho, presidente estadual do Republicanos, vai na mesma linha. Costa Filho disse a interlocutores que o presidente nacional de seu partido, Marcos Pereira – aliado de Bolsonaro – respeitará acordos regionais. A promessa inclui a aliança que ele próprio pretende costurar para apoiar Lula em Pernambuco.
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Fonte: O Estado de S. Paulo
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