João Vitor, da equipe da FAP*
O cientista político Hussein Kalout, pesquisador de Harvard, afirma que o presidente Jair Bolsonaro (PL) pôs o Brasil em isolamento na política externa. “Ninguém cresce no isolamento. E o Brasil se impôs a um auto isolamento no sistema multilateral. O multilateralismo sempre foi a raia em que nós melhor navegamos nossos interesses”, diz ele, em entrevista exclusiva à revista Política Democrática online de dezembro (38ª edição).
A revista é editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília. A instituição disponibiliza, gratuitamente, em seu portal, todo o conteúdo da publicação mensal na versão flip. O autor é, também, conselheiro do Harvard International Relations Council e pesquisador da Universidade Harvard.
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“Para países do tamanho do Brasil, com os problemas do Brasil, com as responsabilidades do Brasil, o sistema multilateral é o parlamento onde os mais vulneráveis, os menos fortes, se protegem dos mais fortes, onde conseguem impor as suas demandas, onde o direito internacional é minimamente respeitado”, diz o pesquisador. “Nem sempre se consegue, mas é nesse plano que se cria uma relação minimamente baseada em regras”.
De acordo com Kalout, Bolsonaro só consegue desempenhar uma diplomacia presidencial onde pode ser recebido, e não aonde quer ir. “No dia em que o Bolsonaro conseguir ser recebido por uma grande democracia europeia, ou na América do Norte, nós podemos, talvez, dizer que o Brasil está conseguindo recuperar o poder da narrativa, está conseguindo recuperar seu prestígio internacional”, observa.
Kalout alerta para desafios que despontam como centrais na plataforma de interesses do Brasil no mundo. “Na inovação tecnológica, nós já estamos atrasados, mas, por outro lado, no que diz respeito às mudanças climáticas, somos, incontornavelmente, um dos três atores mais potentes na matéria no planeta”, afirma.
Na avaliação do cientista político, mudou-se o estilo da abordagem diplomática, mas mantiveram-se as mesmas linhas da política externa. “A política externa é a mesma, nada mudou, o presidente é o mesmo, o governo é o mesmo, portanto, na minha avaliação, nada se alterou da passagem do Ernesto Araújo para o Carlos França”, diz.
Para Kalout, o Brasil não sabe o que quer nem como projetar seu poder, para liderar e ser um indutor do desenvolvimento. “No atual governo, perdemos totalmente o compasso em nossa própria região, o que gera custo ao criar um vácuo de poder”, observa.
“Esse vácuo de poder já está sendo preenchido por potências extrarregionais. Pela própria China, pelos próprios Estados Unidos, até pela presença da Rússia na Venezuela. Portanto, nós ficamos à deriva e no nosso próprio entorno”, explica Kalout sobre o que ele chama de “erro do Brasil em dar as costas aos países sul-americanos”.
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A íntegra da entrevista de Hussein Kalout pode ser conferida na versão flip da revista, disponível no portal da FAP, gratuitamente. A nova edição da revista da FAP também tem reportagem especial sobre a variante Ômicron da covid-19, além de artigos sobre economia, cultura e política.
Compõem o conselho editorial da revista o diretor-geral da FAP, sociólogo e consultor do Senado, Caetano Araújo, o jornalista e escritor Francisco Almeida e o tradutor e ensaísta Luiz Sérgio Henriques. A Política Democrática online é dirigida pelo embaixador aposentado André Amado.
*Integrante do programa de estágios da FAP, sob supervisão do jornalista e editor de conteúdo Cleomar Almeida
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