Otávio Santana do Rego Barros / Blog do Noblat / Metrópoles
Os jornais amanheceram com manchetes apontando para os principais temas do dia:
– a variante ÔMICRON, a assustar o mundo com a rapidez e possibilidade de mutações; e
– a aprovação da PEC dos precatórios, a promover desconfiança da sociedade sobre as intenções.
Ambas impactantes, com possibilidade de prejudicar a coletividade tão aflita.
Vou me deter na questão dos precatórios.
De que realmente se trata essa confusão?
De uma política pública orientada para o atingimento de objetivos sociais ou de tratativas espúrias com objetivos impossíveis de serem declarados e, portanto, inconfessáveis?
A lei não pode retroagir para prejudicar. É um conceito claro que deve ser defendido por todos os cidadãos em benefício do grupo ao qual pertencem.
Todavia, ocorrendo a possibilidade de acolher os desprotegidos no passado pelo teto legal ora regulado, ele pode ser incorporado na defesa desses atingidos.
A discussão envolve o orçamento público, uma ferramenta de controle das receitas e despesas praticadas pela administração pública e organizado pelo poder executivo, estando sujeito à aprovação do Congresso Nacional.
Portanto, sendo público deve ser publicitado!
Qual o temor dos parlamentares em divulgar a sua ação política? Não foi executada em benefício de seus eleitores ou da comunidade à qual ele representa? Se não há inconsistência, malversação ou, pior, algum crime, a lei retroage para beneficiar.
Aqui o benefício é deixar afastado de qualquer dúvida que os atos foram praticados dentro do estrito cumprimento do dever esperado de um representante do povo, legalmente eleito.
Ao revés, as chicanas começam a cheirar mal e nos enchem de dúvidas.
É risível a defesa pelos parlamentares da impossibilidade técnica de divulgar o endereçamento das verbas, identificando o autor do pedido.
Segundo matérias publicadas, a própria área técnica das casas legislativas já se qualificou como capaz de promover a informação.
Contas de somar e subtrair são facilmente calculadas por um estudante do sexto ano do ensino fundamental. Os bancos de dados e planilhas são instrumentos diários de trabalho até de micro e pequenas empresas.
O parlamento nem de longe é um estudante de ensino fundamental ainda no limiar da puberdade ou microempresa tentando sobreviver no charco da economia.
Poupe-nos de tentar entender justificativas pueris como capa para desvios comportamentais.
A sociedade está farta dessa atitude. De políticos que não conseguem dar respostas ao sentido mais amplo da expressão servir à “polis”.
O conceito que temos do poder encastelado no cerrado do Planalto Central é extremamente frustrante. Alguns o enxergam tão somente para benefício próprio e dos seus sequazes.
Há esperança e existem pessoas do bem. Pessoas que se predispõem a colaborar. Essas devem ser reconhecidas pela sociedade, aclamadas em suas propostas e reforçadas em suas batalhas, cujo ataque principal, no momento, deve ser dirigido contra a corrupção.
É certo que a última renovação eleitoral não foi suficiente para escoimar a minoria desapetrechada da servidão de bem servir.
As próximas eleições estão aí. É um processo contínuo de amadurecimento. Atenham-se à ficha corrida dos candidatos. Ao que fizeram. Ao que deixaram de fazer. Existem boas opções e não estão nos extremos.
Nossa batalha não é quixotesca, não é contra moinhos de ventos imaginários. É contra a cruel realidade da política nacional. É para implantar filtros morais. Não nos custa tentar. Já sabemos que somos resilientes.
Paz e bem!
Otávio Santana do Rego Barros é general de Divisão da Reserva
Fonte: Metrópoles
https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/artigos/filtros-morais-da-politica-por-otavio-santana-do-rego-barros