Randolfe diz que relatório será entregue ainda pela manhã ao procurador-geral Augusto Aras
O Globo
BRASÍLIA — A CPI da Covid vota nesta terça-feira o relatório do senador Renan Calheiros (MDB-AL), que pede o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e ministros por diversos crimes. Esse deve ser o último capítulo da comissão que, em seis meses de trabalho, investigou a condução da pandemia pelo governo federal. A tendência é que o parecer seja aprovado, já que o relator integra o grupo majoritário do colegiado, o chamado G7.
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Durante a sessão, os 11 titulares da CPI votarão nominalmente se aprovam ou rejeitam o relatório. Antes, eles também vão apreciar eventuais pareceres alternativos, que podem ser protocolado por qualquer membro do colegiado. Os governistas deverão levar à votação um relatório paralelo, em contraposição ao de Renan.
O vice- presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse ao chegar ao Senado que o relatório será entregue nesta quarta-feira, às 11h30, ao procurador-geral da República, Augusto Aras. Segundo Randolfe, haverá uma agenda de entrega. Ele destacou que o documento, apesar de divergências, imputa 78 de prisão ao presidente Jair Bolsonaro.
— Nunca agradará a todos. Pode não ser o relatório perfeito, mas é luz de lamparina na noite dos desesperados. O relatório foi o possível de ser construído — afirmou Randolfe.
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), negou no início da sessão que “houve acordo” para indiciamentos na CPI. Ele afirmou que “o fato é maior para qualquer acordo”. O amazonense Eduardo Braga (MDB-AM) pediu o indiciamento do governador do Amazonas, Wilson Lima, e o ex-secretário de Saúde do estado, Marcellus Campêlo, pelo caos em Manaus em janeiro deste ano. Renan incluiu Lima entre os indiciados. Com isso, Braga desistiu de apresentar voto em separado.
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Banimento das redes
A CPI aprovou requerimento de autoria do Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que exige retratação de Bolsonaro sobre declaração do presidente da República que associou a vacina contra a Covid-19 contra a contaminação por HIV. A comissão irá enviar ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), pedido de ação cautelar que determine o banimento de Bolsonaro das redes sociais.
Aziz afirmou ser muito grave a declaração de Bolsonaro, feita na live da última quinta-feira, e defendeu que o Congresso se posicionasse sobre o assunto.
— A Presidência é uma instituição, e não um boteco, quem se se fala como quem está tomando cerveja e comendo churrasquinho. Uma fala sem cabimento. Tem gente que ainda diz para mim se o PGR (procurador Augusto Aras) vai engavetar? Temos 60 milhões de brasileiros como testemunhas dessas provas — disse Aziz.
Relatório separado
O primeiro a ler o relatório em separado foi o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), que começou criticando o colegiado do Senado. Ao falar que “faltou coragem” para CPI fazer seu trabalho, logo foi rebatido pelo presidente da comissão.
— A gente discorda de posicionamentos. A covardia não fez parte da direção dessa mesa — afirmou Aziz.
— Se não foi covardia foi omissão flagrante — retrucou Girão, destacando que houve “engavetamento” de seus requerimentos, já que apresentou 106, que 50 sequer foram analisados.
O senador pediu indiciamento do secretário-executivo do Consórcio Nordeste, Carlos Gabas, por organização criminosa, improbidade administrativa, fraude em licitação e corrupção passiva.
‘Serial killer’
Antes da votação do parecer final, Renan chamou o presidente de ‘serial killer‘ (assassino em série, em tradução literal). Renan criticou a fala de Bolsonaro, na semana passada, que associa erroneamente a vacina contra a covid-19 ao vírus da imunodeficiência humana (HIV). No relatório, por causa da fala, Renan recomenda o “afastamento do Presidente de todas as redes sociais, para a proteção da população brasileira”.
— Muitas mortes poderiam ser evitadas. Essa responsabilidade é de muita gente, mas é principalmente desse presidente da República, desse serial killer que tem compulsão de morte e continua a repetir tudo o que fez anteriormente — disse Renan a jornalistas, ao chegar no Senado.
Lista de indiciados
Nos últimos dias, o relator fez acréscimos ao texto apresentado na semana passada e prometeu acrescentar cerca de dez nomes à relação de indiciados. Com isso, a lista chega a a um total de 80 pessoas. Bolsonaro foi enquadrado em nove crimes, como epidemia com resultado de morte e crimes contra a humanidade, nas modalidades extermínio e perseguição.