Bolsonaro não mostra interesse em manter uma rede de proteção até que a economia se recupere
Jair Bolsonaro foi ao Nordeste para lançar a obra de uma ponte entre Sergipe e Alagoas. De um lado, em Propriá (SE), um terço da população recebeu o auxílio emergencial. Do outro, em Porto Real do Colégio (AL), o benefício chegou a 43% dos moradores. Se algum deles esperava uma luz sobre os próximos meses, continuou no escuro.
O governo tem o direito de se opor a novas parcelas do auxílio. A equipe econômica, aliás, resistiu ao pagamento de R$ 600 desde o início da crise do coronavírus, e Bolsonaro avisou que o benefício não seria permanente. Todos eles sabiam que o programa terminaria em 2020, mas, até agora, não quiseram apresentar um projeto de saída viável.
O plano do presidente para a economia continua o mesmo: empurrar os brasileiros para um mercado de trabalho vacilante e abalado pelo avanço contínuo de uma doença que mata mais de mil pessoas por dia.
No palanque de Sergipe, ele pediu que prefeitos e governadores evitassem medidas de distanciamento e disse que “o povo brasileiro não tem medo do perigo”. Afirmou ainda: “Nós sabemos quem são os vulneráveis, os mais idosos e os com comorbidades. O resto tem que trabalhar”.
Além de protagonizar um espetáculo de lentidão na compra de vacinas que poderiam preservar a saúde desses trabalhadores, o presidente não demonstra interesse em manter uma rede de proteção econômica até que a atividade se recupere.
Na terça (26), Bolsonaro disse a investidores que o governo não permitiria “que medidas temporárias relacionadas com a crise se tornem compromissos permanentes de despesas“. Ele afirmou que a retomada se daria, no futuro, com o “dinamismo do setor privado”. No Planalto, a palavra “emergência” perdeu o sentido.
No mesmo evento, Paulo Guedes lembrou que a prorrogação desses gastos não cabe no Orçamento e disse que a solução é cortar custos. Depois, comparou o aumento de despesas a uma bomba atômica. “Vai ter tragédia para todo lado”, afirmou. O ministro deve estar desatualizado.