À falta de governo, cada um por si e Deus por todos
Estava escrito nas estrelas que não daria certo realizar as provas do Exame Nacional do Ensino Médio em meio a pandemia de coronavírus que ainda não acabou – pelo contrário, recrudesceu. A abstenção tem sido enorme. Como os estudantes mais pobres poderão se dar bem se não conseguiram sequer estudar direito?
Da mesma forma, parece escrito nas estrelas que o governo do inepto presidente Jair Bolsonaro não dará conta sozinho de bancar a vacinação em massa dos brasileiros contra o vírus. Não deu conta de enfrentar a doença quando podia, preferindo deixá-la se espalhar. Perdeu o bonde à partida da compra das vacinas.
Não foi por falta de dinheiro, mas de vontade, empenho e competência. Sobraram a visão negacionista do presidente da República e sua aposta errada na politização do assunto. Quando o governo acordou, se é que acordou, havia sido passado para trás pelo governador João Doria (PSDB-SP) e o Instituto Butantan.
Bons tempos aqueles para Bolsonaro onde a administração da crise de saúde não dependia só dele, mas também de governadores e prefeitos. Foram tempos em que ele pôde descaradamente mentir dizendo que o Supremo Tribunal Federal havia lhe tomado o dever e o direito de comandar a guerra à Covid-19.
Deram-se bem os governadores e prefeitos mais ativos na questão. No caso de Doria, por exemplo, revela a mais recente pesquisa Datafolha aplicada há quase uma semana que 46% dos brasileiros entendem que ele fez mais para combater o coronavírus do que Bolsonaro, apontado por apenas 28%.
Só que agora a bola está no pé do presidente e ele não sabe jogá-la. Quer prova maior disso do que a iniciativa de empresas privadas que negociam com o governo uma autorização para importar 33 milhões de doses da vacina de Oxford/Aztrazeneca? A tarefa caberia exclusivamente ao Ministério da Saúde.
Pelo acordo em curso, metade do total dos imunizantes seria doado ao Sistema Único de Saúde. O restante iria para funcionários e familiares das companhias que fazem parte da negociação, pelo menos 12 até agora. Onde fica o princípio de que todos os brasileiros têm direito à vacina e serão imunizados?
É compreensível que empresas poderosas se mexam para ocupar o espaço deixado vago pelo governo que ignorou no ano passado uma oferta da fabricante da vacina Pfizer para que comprasse 70 milhões de doses. O governo considerou alto o preço cobrado e abusivos os termos do contrato. A fabricante insistiu, sem sucesso.
A lei da oferta e da procura que rege a economia é muito simples. Se a procura por um produto aumenta, o preço sobe. Governos onde a inteligência prevalece pagaram mais caro para estimular a produção de vacinas e depois comprá-las a preço razoável. Como o governo Bolsonaro carece de inteligência, mas não só…
Corre atrás do prejuízo. Quem pagará por tantas vidas que se perderam devido à incúria e irresponsabilidade do presidente e da sua turma? Se deixar que morram os que tiverem de morrer não configura crime sujeito a impeachment, o que mais pode configurar? A compra de um Fiat Elba? Pedalada fiscal?