É inútil sugerir ao homem mais poderoso do mundo que se mate; ele nem leva em consideração
No domingo último (10), este colunista sugeriu ao presidente Donald Trump que, por sua incapacidade de aceitar a derrota nas urnas de seu país —de aceitar ser um perdedor—, fizesse como Getulio Vargas, que, ao também se ver diante do fim, matou-se e passou à história como um mártir. Se Trump fizesse o mesmo, muitos americanos que o detestam começariam a vê-lo com simpatia. Até este momento, no entanto, Trump nem considerou minha sugestão.
Realmente, há um quê de patafísico em um colunista brasileiro, escrevendo em código –a língua portuguesa–, oferecer tal conselho ao homem mais poderoso do mundo. Como era natural, Trump me ignorou, e Jeff Rosen, seu ministro da Justiça, poupou-se do ridículo de vir em cima de mim. Os horrores que Rosen escuta sobre seu chefe por todas as mídias dos EUA são mil vezes piores, e mesmo contra esses ele nada pode fazer, porque a Constituição americana garante a liberdade de opinião.
Supõe-se também que, se um presidente da República, de qualquer país, deixar-se afetar por uma sugestão tão descabida é porque deve ser um idiota, impróprio para governar. Se um sujeito se chega a ele dizendo “Mate-se” e ele salta pela janela, imagine se um de seus ministros lhe propuser botar fogo na mata enquanto ninguém está olhando –ele será capaz de topar.
Mas Trump não é um idiota, nem Rosen. Os dois, aliás, estão muito ocupados –Rosen mandando os trumpistas arruaceiros do Capitólio para a cadeia (que jeito?), e Trump deixando de ser o homem mais poderoso do mundo. Os militares já o abandonaram, assim como a Suprema Corte e, cada vez mais, seus colegas Republicanos. Se bobear, logo só lhe restará a família Bolsonaro.
Ah, sim, sem ilusões estendi aquela ingênua sugestão a Jair Bolsonaro. Mas, pela reação que ela provocou dentro do governo, o homem mais poderoso do Brasil só pode estar considerando a ideia.