O Brasil foi o último país do G20 a reconhecer a vitória de Joe Biden nas eleições americanas. A birra não se limitou ao presidente Jair Bolsonaro e ao chanceler Ernesto Araújo. Os dois contaram com o aval do embaixador em Washington, Nestor Forster.
Em telegramas enviados a Brasília, o diplomata se comportou como tiete de Donald Trump. Em vez de aconselhar o governo a cumprimentar o democrata, endossou a falsa versão de fraude contra o republicano.
“Ele comprou o discurso trumpiano quando a vitória de Biden já era inquestionável. Isso demonstra uma falta de profissionalismo no trabalho de informação”, critica o embaixador Roberto Abdenur, que representou o Brasil nos EUA entre 2004 e 2007.
O dever de um diplomata no exterior é retratar os fatos de modo sereno e objetivo, explica Abdenur. “Ele não pode deformar o fluxo de informações por se identificar com a linha ideológica do presidente”, ressalta.
O embaixador conta que tinha “certo respeito” por Forster, que já esteve sob seu comando em Washington. “Confesso que agora fiquei muito decepcionado”, lamenta, referindo-se aos telegramas revelados ontem pelo jornal “O Estado de S. Paulo”. “Ele era um profissional sério e correto. Não dava a impressão de ser um fanático de extrema direita”.
Forster apresentou o atual chanceler ao ideólogo Olavo de Carvalho, guru da família presidencial. No fim de 2019, foi recompensado com o cargo mais disputado entre diplomatas brasileiros no exterior.
“Há uma seita fanática na essência do governo Bolsonaro. A política externa atual está enraizada nesse extremismo”, diz o embaixador Abdenur. “O Brasil se desmoralizou e se isolou no mundo. Estamos hostilizando a China e agora vamos ficar mal com os EUA”, alerta.
Na terça, o Senado rejeitou a indicação do diplomata Fabio Marzano a um cargo em Genebra. Ele é apontado como um dos líderes do núcleo olavista do Itamaraty. Apesar da recusa, Abdenur não vê sinais de mudança no comando da diplomacia brasileira.
“Acho que ainda vamos permanecer como párias por muito tempo”, prevê.