Passadas as eleições municipais, as lideranças nacionais se dedicam a imaginar alianças para 2022. Tentam composições com base em nomes de candidatos e siglas. Não se fala qual o propósito de cada aliança, salvo vencer o nome e a sigla do adversário. Uma disputa por letras, não por cores.
Deve ser assim nos países onde tudo funciona bem e o presidente deve apenas gerenciar o governo. Mas diante da crise que o Brasil atravessa, as siglas deveriam ser menos importantes do que as cores das propostas para o futuro.
As alianças deveriam construir as bases políticas para enfrentar:
- a violência generalizada que domina nossas cidades;
- quais os instrumentos para manter a estabilidade monetária;
- qual estratégia para retomar o crescimento econômico com sustentabilidade; para eliminar a tragédia da pobreza, e desfazer a brutal desigualdade de renda entre pessoas e regiões;
- como dar eficiência na gestão, eliminar corrupção e garantir ética na definição das prioridades do Estado;
- como elevar a qualidade e garantir equidade na educação de base, independente da renda e do endereço do aluno e como erradicar o analfabetismo de adultos;
- o que fazer para transformar nossas “monstrópoles” em centros urbanos eficientes e conviviais;
- o que fazer para assegurar acesso de milhões de brasileiros a um endereço limpo, com água potável, coleta de lixo e esgoto;
- quais medidas poderão dar futuro à juventude;
- como recuperar o prestígio perdido pelo Brasil no cenário internacional, por causa das decisões do governo, nos últimos dois anos;
- que ações para assegurar emprego, sem perder eficiência, nem competitividade, neste tempo de modernização;
- quais e como fazer as reformas do Estado: fiscal, trabalhista e política, para sintonizar o Brasil com os rumos do progresso mundial;
- como eliminar os privilégios que caracterizam a sociedade brasileira e tiram legitimidade do poder público.
As letras de nomes e de siglas ficam sem sentido se não tiverem cores definidas pelos propósitos das propostas de cada candidatura para o futuro. Mas não se vê debate sobre cores, apenas letras que amarrarão o Brasil no seu passado, qualquer que seja a sigla e o nome vitorioso.
*Cristovam Buarque, Professor Emérito da Universidade de Brasília (UnB)