Não deixa de ser astuto: incapaz de prender quem organiza o crime, promove quem já está preso a chefe da organização. De quebra, desestimula o preso a delatar porque “o cabeça” não pode ser premiado. Não é original, mas funciona. Policiais fazem com narcotraficantes; governos, com terroristas. Se já prendeu o chefe, para que continuar investigando? Esquece-se a rede e projeta-se um PowerPoint com setas apontadas para um nome só.
Quem merece comemorar a notícia, com uma dose extra de pudim, é o resto da turma, que continuará desfrutando a iguaria. Só reclamou quem não é mais convidado para sentar à mesa da confraria. “Engraçado… Nunca soube que Geddel era o Chefe. Para mim, o chefe dele era ouTro (sic)”, tuitou um ex-confrade, após a Procuradoria da República inflar Geddel Vieira Lima.
Renan Calheiros tuíta com conhecimento de causa. Por 25 anos, fez parte da Turma do Pudim, o conselho informal que administrava interesses do PMDB junto a governos – de Itamar a Dilma, de FHC a Lula. Era mesa sem cabeceira, onde todos dividiriam a conta, se ela não fosse paga por você. Hoje, os integrantes da turma que não foram para a cadeia estão no Planalto ou no Senado. E, tudo indica, lá deverão continuar.
Mas e as ordens de pagamento para “Fodão” encontradas pela Lava Jato nas planilhas da Odebrecht? E os R$ 500 mil do deputado carregador de malas? E o porto de Santos? O Congresso cuida dos seus, com as bênçãos do ex-Supremo.
Assim, o mercado financeiro não para de exibir sua exuberância irracional. Com a experiência dos millennials, seus jovens operadores se aconselham sobre política com o MBL e concluem que a única preocupação à vista é com o que pode acontecer em 2018. Cacifaram Doria como o antiLula e relutam em liquidar suas perdas mesmo quando confrontados com as pesquisas.
Os que não nasceram ontem já pularam da canoa. Uns sonham com Luciano Huck, outros começam a achar que Bolsonaro não é tão ruim como pintam. Esse será o próximo confronto nas redes.
Enquanto o prefeito paulistano era questionado na imprensa, sua base virtual era corroída por ataques ferozes dos seguidores de Bolsonaro nas mídias sociais. A guerra em duas frentes liquefez a capacidade de Doria aumentar o buzz em torno de seu nome na internet. Seus vídeos perderam compartilhamentos, os likes rarearam. A “Globo no Facebook” que lhe prometeram não vingou.
A próxima batalha dos “bolsominions” será contra quem vier a ocupar o vazio deixado por Doria. Para não entrar na mira, Huck não se assumirá presidenciável antes de abril. Nem precisa. O apresentador já entra todo sábado na casa dos mais pobres e, segundo as pesquisas, é muito bem recebido. Recall não lhe falta; eleitores, sim.
Para transformar seu reconhecimento em intenção de voto, Huck precisará ser levado a sério como candidato a presidente. A credibilidade de que necessita não virá do partido que ele escolher como meio de transporte. PPS ou DEM são hospedeiros para ele continuar com direito a aparecer na TV após abril.
Faz sentido, portanto, Huck se filiar a um dos tantos movimentos de renovação política, como fez com o “Agora!”. Cercar-se de jovens com PhD dedicados à causa pública é tão bom para sua imagem quanto é, potencialmente, para o movimento pegar carona na popularidade do apresentador. Se a tabelinha der resultado, Huck ajudará a eleger alguns novos parceiros para o Congresso.
É um bom plano. Falta combinar com Lula. Como disputam o mesmo eleitor, enquanto o petista for candidato ele tamponará Huck. Se Lula ainda for presidenciável em abril, Huck terá que dar um salto mortal carpado no escuro para entrar na disputa.