Na próxima semana o Brasil voltará a ter juros na casa dos 7% depois de mais de quatro anos. Na última vez que chegou a esse patamar, foi uma queda forçada e que não se sustentou. Apesar da boa notícia, os indicadores divulgados nos últimos dias mostraram que o mês de agosto teve uma sucessão de quedas. A conjuntura dessa saída da recessão continua assim, com melhoras a conta-gotas e alguns sustos.
Na quarta-feira o Banco Central vai anunciar o novo corte de juros e isso levará a Selic, que está em 8,25%, para outro patamar. O Bradesco acredita que a redução será de 0,75%, segundo relatório divulgado ontem. Isso significa uma diminuição do ritmo, em relação aos cortes de um ponto que vinham acontecendo.
A inflação subiu um pouco pelo IPCA-15 de outubro e ficou em 0,34%. Parece que agora tudo se encaminha para que a taxa em 12 meses, que está em 2,71%, fique em 3%. O BC não terá que se explicar por ter furado o piso da meta. Só esse “problema” a menos mostra o que mudou radicalmente na economia brasileira em pouco mais de um ano e meio. De qualquer maneira, se o Banco Central reduzir o ritmo dos cortes, estará fazendo isso com a inflação abaixo do piso. Uma contradição.
Os últimos dados de atividade do mês de agosto foram divulgados esta semana e todos foram negativos. A indústria teve queda de 0,8%, o comércio, de 0,5%, os serviços, de 1%, e o IBC-Br, de 0,4%. Sempre quando comparado com o mês anterior, julho. Quando comparado com o mesmo mês do ano anterior, o IBC-Br tem alta de 1,64%, o comércio, de 3,6%, a indústria, de 4%. Só os serviços, com -2,4%, permanecem em queda nas duas comparações. Os primeiros dados divulgados de setembro são positivos.
O mercado de trabalho continua melhorando lentamente e esta semana foi divulgado mais um dado positivo na criação de empregos formais. Em setembro, foram 34 mil empregos criados. No pior momento, em abril do ano passado, o país estava com uma destruição de quase dois milhões de empregos em 12 meses. Agora o saldo permanece negativo, mas em 466 mil. No acumulado de janeiro a agosto, já há geração líquida de 208 mil vagas com carteira assinada. Mesmo com essa melhora, o país tem 13 milhões de desempregados e em curto prazo não voltará ao nível em que estava, de seis milhões, antes de começar esta crise.
A oscilação dos números lembra em que condições internas adversas a economia brasileira tenta encerrar o ciclo recessivo. A crise política mantém a incerteza nos cenários das empresas que, nesta época de fim de ano, fazem seus planejamentos.
Esta recessão é diferente das outras, até para se sair dela. Foi mais prolongada, mais severa, com mais desemprego. O estudo do Iedi, publicado pelo GLOBO, mostrou que a queda do investimento foi de espantosos 29%. A saída das duas outras recessões grandes que o Brasil teve, a de 1981-1983, no governo militar, e a de 1990-1992, no governo Collor, foi para um crescimento de 5% no primeiro ano, e dois outros anos de forte alta. Desta vez, o país sai com números positivos fracos. A crise política e o colapso fiscal deixam a economia sem energia para uma retomada forte.
Mas a chegada da taxa Selic a 7,5% na semana que vem, se a redução for mesmo de 0,75%, será uma vitória no país dos juros altos. Ainda não voltará ao nível de 2012, quando esteve em 7,25%, mas é uma conjuntura totalmente diferente. Naquele momento, a inflação estava subindo e aquele corte teve vida curta e preço alto. Agora, os juros devem permanecer caindo e ficarão baixos por algum tempo. Isso tem impactos fortes na redução do custo da dívida pública e é um estímulo econômico. Há outros fatores positivos na conjuntura: a inflação baixa, as famílias voltando a consumir, o crédito para pessoa física aumentando. E a economia internacional continua com surpresas positivas, como a do crescimento chinês de 6,8% anunciado esta semana.
O problema é que o horizonte da economia é curto. As projeções de crescimento para depois de 2018 são apenas o cálculo linear feito pelos economistas. Eles sabem, e dizem quando perguntados, que o que vai acontecer em 2019 é um mistério.