José Luis Oreiro: O mito do sucesso econômico chileno

A figura acima foi extraída do livro “Rethinking Economic Development, Growth and Institutions” publicado por meu colega mexiacano Jaime Ros. Essa figura mostra a renda per-capita de cada país relativamente a dos Estados Unidos em duas datas distintas: 1950 e 2008. Dessa forma, ela nos mostra quais países estão em processo de catching-up com os Estados Unidos e quais países ficaram relativamente estagnados ou ainda focaram para trás (falling behind) no processo de desenvolvimento econômico.
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A figura acima foi extraída do livro “Rethinking Economic Development, Growth and Institutions” publicado por meu colega mexiacano Jaime Ros. Essa figura mostra a renda per-capita de cada país relativamente a dos Estados Unidos em duas datas distintas: 1950 e 2008. Dessa forma, ela nos mostra quais países estão em processo de catching-up com os Estados Unidos e quais países ficaram relativamente estagnados ou ainda focaram para trás (falling behind) no processo de desenvolvimento econômico.

De cara podemos ver que a Argentina foi um caso claro de “falling behind” pois sua renda per-capita se situava em torno de 40% da renda per-capita americana em 1950, mas se reduziu para pouco mais de 20% da RPC norte-americana em 2008. Outro caso de “falling behind” foi a Nova Zelândia cuja RPC era superior a 80% da RPC dos Estados Unidos em 1950, mas se reduziu para pouco mais de 60% da RPC norte-americana em 2008. O que há de comum entre os dois países? O fato de que ambos são exportadores de commodities ….

A Espanha, por seu turno, foi um caso de sucesso. Partindo de um valor próximo a 30% da RPC em 1950, a Espanha conseguiu reduzir o hiato de renda per-capita de forma significativa durante essa período, alcançando cerca de 65% da RPC dos Estados Unidos em 2008. Trata-se claramente de um país em processo de catching-up.

Olhemos agora o caso do Chile. Os economistas liberais brasileiros não se cansam de cantar em prosa e verso as vantagens do modelo Chileno relativamente ao modelo “nacional-desenvolvimentista” adotado no Brasil. A propaganda (enganosa) é tão forte que eu mesmo, antes de viajar recentemente para o Chile, realmente achava que iria encontrar uma Espanha latino-americana: uma país desenvolvido na América Latina. Bem, não foi exatamente o que eu vi no Chile ou, pelo menos, na capital, Santiago. Vi uma cidade com favelas, com camelôs, com táxis e ônibus velhos e com estradas em péssimo estado de conservação (ao menos no caminho entre Santiago e a Concha Y Toro). O contraste entre o que era alardeado pela propaganda liberal e o que eu estava vendo com meus próprios olhos me despertou a curiosidade sobre a trajetória de crescimento da economia chilena, o que acabou me levando a figura acima ….

Como podemos observar em 1950 a RPC do Chile se situava em torno de 22% a 23% da RPC norte americana. Na mesma data a RPC do Brasil era menor do que 20% da RPC dos Estados Unidos, algo como 17 ou 18% da mesma; de forma que a RPC Chilena nessa época já era superior a RPC brasileira. Em 2008 a RPC Chilena havia crescido para um patamar em torno de 30% da RPC dos Estados Unidos ao passo que a RPC brasileira cresceu para algo como 22 ou 23% da RPC norte-americana. Daqui se segue que em termos relativos, ambos os países avançaram praticamente a mesma velocidade, talvez com uma pequena vantagem a favor do Chile. Sendo assim, o modelo Chileno de desenvolvimento econômico não se mostrou significativamente superior ao Brasileiro, e ambos os países apresentaram uma performance bastante inferior a da Espanha, cuja RPC em 1950 era maior, mas não muito maior, do que a RPC Chilena.

Como disse meu colega José Gabriel Porcille, economista uruguaio que trabalha na CEPAL em Santiago do Chile: “O Chile está sobrevendido”.

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