O drama humanitário enfrentado pelos venezuelanos, que vêm deixando o seu país em função do desmantelo político, econômico e, principalmente social, é um problema grave no qual o Brasil está cada vez mais envolvido. Basta que se observe o que ocorre no estado de Roraima, sobretudo na capital Boa Vista, destino de algumas dezenas de milhares de refugiados que chegam em busca de uma oportunidade de sobrevivência.
Para que se tenha ideia da dimensão do estrago causado pela ditadura de Nicolás Maduro, dados obtidos pelo portal “800 Notícias” apontam que quase 2 milhões de cidadãos deixaram a Venezuela nos últimos anos. A Colômbia é o principal destino (550 mil), seguida por Equador (280 mil), Panamá (260 mil), Espanha (250 mil), Chile (160 mil), Peru (100 mil), entre outros. Até agora, o Brasil recebeu cerca de 34 mil pessoas vindas daquele país.
Quando se analisa a tragédia venezuelana sob o ponto de vista de quem vive no Brasil, o que chama a atenção é o silêncio conivente de grande parte da nossa assim chamada intelectualidade e de alguns artistas que, aliás, se notabilizam pelo ativismo político. Muitos dos nossos pensadores, além de inúmeros expoentes da cultura brasileira que se manifestaram de forma corajosa contra a ditadura militar de 1964, contribuindo decisivamente com a luta pela liberdade e a reabertura democrática do país, simplesmente silenciam em relação ao horror do regime de Maduro. Tal comportamento dá margem, inclusive, a que se imagine haver um caráter seletivo de indignação – como se houvesse extremo rigor ao se condenar o autoritarismo à direita, mas condescendência quando se trata de uma ditadura à esquerda. Esse duplo padrão moral é inaceitável e inadmissível.
Apesar da vergonhosa omissão de parte dos intelectuais brasileiros, o flagelo venezuelano se revela cotidianamente. De acordo com levantamento da Universidade Católica Andrés Bello (Ucab), nove em cada dez famílias não têm renda para comprar uma cesta básica. A inflação deve alcançar o extraordinário índice de 10.000% neste ano. Além de tudo isso, segundo documentos obtidos pela Organização dos Estados Americanos (OEA), já se chegou ao absurdo de quase 500 presos políticos no país.
O desastre promovido pelo chavismo e acentuado por Maduro nos últimos anos é um retrato do retumbante fracasso de uma tirania que viola a democracia, corrói as instituições, domina o Legislativo e o Judiciário, persegue, prende e mata opositores e dissidentes e, por fim, enterra a esperança das famílias em um futuro mais digno. Enquanto a “intelligentsia” brasileira se acovarda e mantém um injustificável silêncio a respeito, milhões de venezuelanos gritam por socorro. Não podemos ignorá-los.
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