Day: janeiro 2, 2023
Os manuscritos sobre a Guerra dos Palmares na Biblioteca Pública de Évora e Torre do Tombo
Sionei Ricardo Leão, autor e jornalista*
Dois manuscritos produzidos para narrar o que aconteceu no século 17 referente aos mocambos que compuseram o Quilombo dos Palmares permanecem entre as mais significativas referências para se ter informações, de um determinado ponto de vista, sobre o que foi o quotidiano daquelas povoações que desafiaram o poder colonial e, por esse motivo, foram perseguidas e destruídas a mando da então metrópole, Portugal.
Ambos são pérolas no que se refere a cotejar em que medida os palmarinos se destacaram na organização social, política, religiosa, militar e agrícola. Os textos servem ainda de testemunho do temor, admiração e incômodo que a vida nos mocambos e a capital, Macaco, provocavam nos governantes que estavam em Portugal e na então colônia, o Brasil. Daí, para serem perseguidos, atacados e destruídos – o que se deu cabalmente em fevereiro de 1694 –, terem se tornado uma prioridade ao sistema político vigente, que se sentiu ameaçado pelos libertos.
As versões consideradas originais têm uma só fonte. Elas são oriundas de um texto, uma crônica, escrita no segundo semestre de 1678 – cujo nome do autor é desconhecido. Apesar de anônimo, tudo se inclina, e quanto a isso há pouca controvérsia, que o manuscrito foi redigido em Pernambuco por algum escriba a serviço de dom Pedro de Almeida, governador da província.
O propósito do manuscrito é narrar e bajular sobre o feito da província em obter um acordo de paz junto aos palmarinos, após várias investidas militares lideradas por Fernão Carrilho, sob o jugo do governador de Pernambuco, dom Pedro de Almeida. Um dos vários trechos impactantes do texto diz respeito a impressão que os pernambucanos tiveram do governante de Palmares, Ganga Zumba.
Veja, a seguir, galeria:
“Toda forma de guerra se acha neles, com todos os cabos maiores e inferiores, assim para o sucesso das pelejas, como para a assistência do rei. Reconhecem-se todos obedientes a um, que se chama o Ganga Zumba, que quer dizer senhor grande. A este tem, e veneram por seu rei e senhor, assim os naturais dos palmares como os vindos de fora. Tem palácio capaz da sua família que é grande e assistido de todas as guardas e oficiais que costumam ter as casas reais. Tratam a ele com todos os respeitos de rei, e com todas as cerimônias de senhor. Os que chegam a sua presença põem o joelho no chão e batem as palmas das mãos, sinal do seu reconhecimento e protestação da sua excelência. Falam lhe por majestade. Obedecem-lhe por admiração. Habita na cidade real, que chamam Macaco”.
Apesar de elaborado no século 17, o manuscrito passou a ser conhecido publicamente muito tempo depois, praticamente depois de dois séculos. Em 1859, a Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro publicou “Relação das guerras aos Palmares de Pernambuco no tempo do governador dom Pedro de Almeida de 1675 a 1678”. O nome utilizado foi obra do conselheiro Antônio de Menezes de Vasconcellos de Drummond, que atuou como uma espécie de editor do documento. Na verdade, estudiosos avaliam que a transcrição não foi de toda fiel aos originais depositados em Évora e na Torre do Tombo.
O conselheiro Drummond, à época sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, fez parte da elite intelectual e política do Segundo Reinado. Foi um dos fundadores e redatores do jornal O Tamoyo. Maçom de grande reputação, redigiu vários textos sobre o tema da história. Também contribuiu no jornal La France Chrétienne, além de figurar entre os membros fixos do Journal de Voyages.
Diplomata do Império, serviu como cônsul geral na Prússia. Teve responsabilidade de negócios do Brasil na Sardenha, em Roma e na Toscana. Notabilizou-se como o ministro residente e ministro plenipotenciário em Portugal. Drummond era, portanto, um literato e, também, uma pessoa com grande conhecimento internacional.
Seja por todas essas credenciais do conselheiro Drummond, seja pelo valor do documento, o manuscrito passou a se tornar uma referência para os estudos sobre Palmares no século 19. O arquivo contou com novo impacto 17 anos mais tarde por intermédio de outra personalidade do mesmo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Desta vez, no ano de 1876, coube a Pedro Paulino da Fonseca uma nova atenção ao manuscrito. Ele publicou uma versão sob o título “Memória dos feitos que se deram durante os primeiros anos de guerra com os negros quilombolas dos Palmares, seu destroço e paz aceita em junho de 1678”.
A historiadora Silvia Hunold Lara, em texto apresentado em 2008, descreve que a iniciativa de Fonseca é uma recriação do texto escrito em 1678. Portanto, deve ser lido como outra obra, em lugar de uma rigorosa reprodução.
A comparação entre o manuscrito de Évora e o texto de Fonseca confirma que ele não só acrescentou dados e alterou frases, como completou o texto, já que o manuscrito de Évora não possui título e está incompleto. Apesar de acompanhar de perto o documento, Fonseca é aqui, inequivocamente, o autor do texto. Não obstante, é fácil encontrar na bibliografia sobre Palmares quem use o texto publicado em 1859 pelo conselheiro Drummond e o de Paulino da Fonseca como se fossem fontes equivalentes ou de mesma natureza.
Importa ressaltar que, a partir dessas duas fontes, muitas análises e citações foram feitas ao manuscrito por estudiosos que não se reportaram aos originais sob a guarda de Évora ou da Torre do Tombo. Drummond e Fonseca, cada qual a sua maneira, não foram precisos ou se ativeram a um rigor acadêmico quanto à fidelidade aos originais dos documentos.
No mesmo artigo de 2008, Silvia Hunold Lara informa que até aquele ano tinha conhecimento de sete versões diferentes da crônica:
- O manuscrito de Évora, cuja letra é do século XVII;
- A cópia existente na Torre do Tombo, que também não pôde ser até agora localizada;
- Duas versões delas publicadas por Décio Freitas, que afirma transcrever cópias guardadas pelo Arquivo Histórico Ultramarino e pela Biblioteca Nacional de Lisboa que, apesar de vários esforços e tentativas, não foram localizadas nesses arquivos;
- A cópia (do século XIX) da Biblioteca Nacional;
- A versão publicada pelo conselheiro Drummond em 1859;
- A versão recriada por Pedro Paulino da Fonseca, publicada em 1879.
Em correspondência oficial com o Arquivo de Évora, recebi e-mail do instituto, assinado por João Mora, responsável pelo serviço de reservados, explicando ser muito difícil em 200 anos saber com exatidão quem teve acesso ao manuscrito. Apesar disso, enviou uma relação de nomes de 14 pessoas que assinaram um “códice” para pesquisas no arquivo, mas sem poder afirmar se elas tinham, ou não, interesse na crônica histórica.
Évora também informou que o instituto não tem certeza sobre o autor do manuscrito, sequer sobre a proveniência antes da chegada ao arquivo. A biblioteca confidenciou inclusive estar muito interessada no conteúdo do trabalho que estava me propondo a fazer sobre o documento.
Ao longo desses meses voltado para um estudo dos originais dos manuscritos, veio a público o lançamento, em 2022, do livro Guerra contra Palmares – o manuscrito de 1678 – da já citada historiadora Silvia Hunold Lara em parceria com o filólogo Phablo Roberto Marchis, ambos pesquisadores das Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Até então, tanto a versão de Évora quanto a da Torre do Tombo permaneciam inéditas no Brasil.
Na obra, os autores atribuem a autoria do manuscrito que renomeiam como “Relação da ruína dos Palmares” a Antônio da Silva, vigário da matriz do Recife de 1658 a 1697. A publicação conta também com 14 documentos inéditos sobre a história dos mocambos palmarinos, produzidos entre 1671 e 1691 em Pernambuco e Lisboa.
O manuscrito teve por propósito ser um panfleto para ressaltar os feitos militares de Fernão de Carrilho na gestão do governador Pedro de Almeida contra os palmarinos, muitas das vezes descritos como bárbaros. São classificados como inimigos soberbos responsáveis por danos consideráveis a fazendas e povoados da capitania.
Este era o estado em que achou o Palmares D. Pedro de Almeida, quando tomou posse do Governo destas Capitanias de Pernambuco, e com os clamores do perigo e a queixa da insolência dos negros era geralmente lamentada de todos os moradores, logo tratou de acudir ao remédio daqueles povos, e de conquistar a soberba daqueles inimigos.
Apesar dessas intenções de valorizar os militares e o governador em detrimento dos palmarinos, na narrativa sobressai o oposto por intermédio da leitura do manuscrito. Os detalhes sobre a organização política, a farta produção agrícola, as manufaturas de todo tipo como peças de vestuário e as tantas edificações encontradas nos mocambos protagonizam o texto, apesar do objeto ser o inverso.
São grandemente trabalhadores, singularmente prevenidos. Plantam todos os legumes da terra, de cujos frutos reservam celeiros para o tempo das guerras e do inverno. O seu principal sustento é o milho grosso. Dele fazem várias iguarias. As caças os ajudam muito porque são aqueles matos delas abundantes.
É instigante recorrer a essa altura aos conceitos de Jacques Derrida expressos na obra Mal de arquivo – uma impressão Freudiana (2001). Nesse texto, o filósofo discorre sobre o poder político e o direito de fazer representar a lei pela prática de se decidir o que se depositar no lugar da casa oficinal ou funcional destinada a preservar a memória conveniente ao escrutínio das autoridades que ele chama de arcontes.
Derrida disserta que esses arcontes eram responsáveis pela segurança física do depósito e do suporte. Cabia também a eles o direito e a competência hermenêutica, pois tinham o poder de interpretar os arquivos. Foi assim, nesta domiciliação, nesta obtenção consensual de domicílio, que os arquivos nasceram, escreve Derrida.
Metaforicamente, os “arcontes”, no caso do manuscrito sobre Palmares, nos legaram informações que a guisa dos interesses da atualidade se prestam a uma interpretação no sentido totalmente oposto do ideário que propiciou a escrita e a preservação dessa crônica histórica.
Recorro ainda a outro ícone da historiografia para grassar a relevância do manuscrito. Nesse caso, as ideias de Carlos Ginzburg, reconhecido como um dos pioneiros do estudo da micro-história. Essa vertente é considerada uma das mais importantes correntes do século 20. Pode ser caracterizada como método em que o pesquisador prioriza a “microanálise” de elementos do passado histórico em nível de escala reduzido, tendo como alvo aspectos culturais, econômicos e sociais.
No clássico sobre micro-história mitos, emblemas, sinais: Morfologia e História (1990), Ginzburg se vale de um estudo do método do crítico de arte italiano Giovanni Morelli, que escreveu uma série de artigos sobre pintura entre os anos de 1874 e 1876 para se reportar e afirmar que no século 19 emergiu nas ciências humanas um modelo epistemológico (paradigma).
O método de Morelli, de acordo com Ginzburg, consistia em distinguir os originais das cópias sem se basear, como normalmente se faz, em características mais vistosas, portanto, mais facilmente imitáveis, dos quadros. Pelo contrário, examinar os pormenores mais negligenciáveis, e menos influenciados pelas características da escola a que o pintor pertencia: os lóbulos das orelhas, as unhas, as formas dos dedos das mãos e dos pés.
Num dos tomos de seu estudo, Ginzburg remete a uma analogia a respeito da missão de se fazer história com as habilidades que o ser humano exerceu por milênios enquanto caçador.
Durante inúmeras perseguições, ele aprendeu a reconstruir as formas e movimentos das presas invisíveis pelas pegadas na lama, ramos quebrados, bolotas de esterco, tufos de pêlos, plumas emaranhadas, odores estagnados. Aprendeu a farejar, registrar, interpretar e classificar pistas infinitesimais como fios de barba. Aprendeu a fazer operações mentais complexas com rapidez fulminante, no interior de um denso bosque ou numa clareira cheia de ciladas.
Logo a intenção de Ginzburg com a nova epistemologia, o paradigma indiciário, é de um método interpretativo centrado sobre os resíduos, sobre os dados margais, considerados reveladores. Desse modo, pormenores normalmente considerados sem importância, ou até triviais, baixos, forneciam a chave para aceder aos produtos mais elevados do espírito humano.
Uma das máximas que podem ser utilizadas para interpretarmos ao que quer chegar Ginzburg com o paradigma está contida na afirmação dele próprio sobre o conhecimento histórico ser indireto, indiciário e conjetural. Daí retornarmos ao tema do manuscrito, pois o documento se presta a nos fornecer uma visão de Palmares e seus habitantes na medida em que analisamos o conteúdo pelas pistas que o texto nos oferta.
O manuscrito é uma fonte para reconhecermos a complexidade, a influência e o grau civilizatório que os invasores encontravam a cada investida nos mocambos que compuseram Palmares. Os habitantes dos mocambos não nos deixaram testemunhos escritos das suas experiências quotidianas, dos projetos que certamente esboçaram e dos esforços, martírios e privações a que tiveram que se submeter.
Décio Freitas autor de Palmares: A Guerra dos Escravos, obra que se tornou referência no tema, na oportunidade de uma série de entrevistas de cunho histórico feitas pela Folha de São Paulo em 2000, respondeu a jornalista Marilene Felinto.
Folha - O sr. acha possível encontrar, por meio da arqueologia, resquícios do quilombo?
Freitas - Eu não tenho muita fé nisso, porque Palmares era um tipo de sociedade muito precária, em termos materiais. Eles usaram pedras nas fortificações do Macaco, mas o restante eram mocambos de madeira. Então, eu não vejo possibilidade de novas descobertas por meio de escavações.
Em 2019, como servidor da Fundação Cultural Palmares, visitei a Serra da Barriga, onde se celebra anualmente a memória daqueles homens e mulheres resistentes ao jugo colonial. Contrasta a imagem que se tem hoje da região, na maior parte coberta por florestas em comparação com as descrições da pujança, complexidade e organização que os mocambos tiveram no século 17, pois praticamente não restam vestígios do que ocorreu ali. O Parque Memorial Quilombo dos Palmares em Alagoas é ícone para compreendermos como pode se retirar materialmente da memória uma presença tão importante e marcante, naquele caso por meio de uma violência armada.
Por todas essas razões, as versões dos manuscritos sob a guarda dos arquivos de Évora e da Torre do Tombo permanecem como preciosas informações sobre uma das mais destacadas resistências ao sistema escravista no Brasil, reconhecidamente, que Palmares ameaçou, enfrentou e infelizmente acabou por ser vítima da perseguição e fúria da metrópole e da colônia no século 17.
Aliás, ao longo desse estudo, pude ter acesso a vários outros documentos inéditos que têm a ver com Palmares e outros momentos desse passado, que espero em futuro não muito distante dar conhecimento público por meio de outros trabalhos. A bem da verdade, um variado conjunto de preciosidades semelhantes aguardam por pesquisadores em arquivos europeus, brasileiros e africanos sobre a história da diáspora negra.
Sobre o autor
* Sionei Ricardo Leão é jornalista e autor de Kamba’Race – Afrodescendências no Exército Brasileiro (2021), publicado pela editora da Fundação Astrojildo Pereira (FAP).
Revista online | Nunca houve ninguém como Pelé
Henrique Brandão, jornalista e escritor*, especial para a revista Política Democrática online (50ª edição: dezembro/2022)
O dia 29 de dezembro começou todo voltado para o anúncio dos novos ministros que vão compor o governo Lula. Aí chegou a notícia de que Pelé havia morrido. Mesmo sabendo-se há dias de seu estado de saúde precário, do câncer irreversível, da morte iminente, a comoção tomou conta do Brasil e se espalhou pelo mundo na velocidade instantânea das redes sociais.
Nada mais natural, dada a dimensão gigantesca da figura que foi Pelé. Para se ter uma ideia do tamanho do mito, 183 jornais mundo afora trouxeram Pelé na capa de suas edições do dia 30 de dezembro.
O prestígio imensurável de sua persona foi construído em uma carreira futebolística que começa profissionalmente em 1956, no Santos, e termina em 1977, no Cosmos de Nova York. Foram 21 anos encantando o mundo com jogadas geniais e gols maravilhosos (1.282 no total), marcados de diversas maneiras: de falta, de cabeça, com a perna esquerda, com a direita, de bicicleta, de voleio – fora os dribles desconcertantes que aplicava nos adversários – às vezes mais de um – antes de mandar a bola para o barbante.
O mundo, estarrecido, submeteu-se ao Rei. Foi uma conquista que se deu não na ponta das baionetas, mas no bico das chuteiras mágicas que calçaram os pés de um garoto nascido em Três Corações, no sul de Minas Gerais, em 1940, filho de dona Celeste e de João Ramos do Nascimento, o Dondinho, jogador de futebol que levava o filho Edson Arantes do Nascimento para acompanhar os treinos. O apelido Pelé veio dessa época, uma corruptela do nome do goleiro do time de seu pai, chamado Bilé, que o garoto Edson insistia em chamar de Pilé. A chacota com o guri acabou gerando o apelido que virou sinônimo de fina realeza.
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Mesmo altas autoridades políticas mundiais, ou personagens que fizeram parte da história nos séculos XX e XXI, se curvaram ao prestígio da majestade negra, nascida pobre, apenas cinco décadas depois do fim da escravidão, em um país marcado pelo racismo e pela extrema desigualdade social.
“Eu sou Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos. Mas você não precisa se apresentar, porque Pelé todo mundo sabe quem é", sentenciou Reagan (1911-2004), presidente dos EUA de 1981 a 1989. Andy Wharhol (1928-1987), quando encontrou Pelé em 1978, teve que rever sua profecia: "Você é a única celebridade que, em vez de durar 15 minutos, durará 15 séculos". Pier Paolo Pasolini (1922-1975), cineasta italiano, autor de O Evangelho Segundo São Mateus (1964), disse: "No momento em que a bola chega aos pés de Pelé, o futebol se transforma em poesia".
Seus colegas de profissão corroboraram o que os pobres mortais adoradores do velho esporte bretão já sabiam. Pelé paira, soberano, acima dos demais. O técnico argentino Cesar Luiz Menotti não deixa dúvidas sobre o seu lugar no panteão das glórias esportivas: "Maradona só seria um novo Pelé se ganhasse três Copas do Mundo e marcasse mais de mil gols". Da mesma forma, o craque da seleção húngara de 1954, Ferenk Puskas (1927-2006), decretou: "O maior jogador de futebol do mundo foi Di Stefano. Eu me recuso a classificar Pelé como jogador. Ele está acima de tudo". Johan Cruyff, jogador e técnico holandês, foi na mesma toada: "Posso ser um novo Di Stéfano, mas não posso ser um novo Pelé. Ele é o único que ultrapassa os limites da lógica". Sigge Parling (1930-2016), zagueiro sueco que jogou a final da Copa de 58, quando Pelé despontou para o mundo fazendo dois gols na vitória da seleção brasileira por 5 a 2, reconheceu o talento do jovem adversário: "Após o quinto gol, eu queria era aplaudí-lo".
A crônica esportiva tupiniquim, acostumada a vê-lo em ação, sempre teceu loas ao Rei. Armando Nogueira (1927-2010), cronista de mão cheia, afirmou: "Pelé certamente teria nascido bola, se não tivesse nascido gente". Nelson Rodrigues (1912-1980), outro observador perspicaz do futebol e da alma humana, foi contundente sobre sua habilidade em livrar-se dos oponentes: "Quando ele apanha a bola e dribla um adversário é como quem enxota, quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento". João Saldanha (1917-1990), com quem Pelé teve rusgas em 1969, quando Saldanha era o técnico da seleção brasileira que viria a ser campeã em 1970, concorda que, dentro das quatro linhas, não tinha outro igual a ele: "Dentro de campo, Pelé foi um gênio, o maior que conheci. Fora do campo, é um homem comum".
Essa diferença entre o “Rei dos Gramados” e o homem comum Edson Arantes do Nascimento foi alimentada pelo próprio Pelé, que se referia a si na terceira pessoa. Se os feitos em campo são magistrais, o “mortal” Edson teve altos e baixos na vida. Nos negócios, ganhou muito dinheiro, mas perdeu muito também, por escolhas erradas de investimentos e dos eventuais sócios. Na vida privada, teve três casamentos, sete filhos, sendo que dois deles de relacionamentos extraconjugais. A filha Sandra Regina somente foi reconhecida após exames de DNA e por determinação da Justiça. Com ela, Pelé – Edson, no caso – nunca teve uma relação boa. Sandra morreu de câncer, aos 42 anos, sem estabelecer qualquer relação de afeto com ele, que sequer foi ao enterro da filha.
Na política, que nunca foi o seu forte, Pelé sofreu críticas por ter se deixado usar pela ditadura militar, que explorou a conquista da Copa de 1970. Maradona, em 1997, não o perdoou por ter participado dos esquemas da FIFA: “Pelé é um escravo. Vendeu seu coração para a FIFA. Depois, quando a FIFA o chuta, ele quer amizade conosco, os jogadores”, afirmou.
Veja, a seguir, galeria:
No entanto, teve o mérito de, quando ministro dos Esportes do governo FHC, ter abolido a lei do passe, antigo instrumento que dava aos clubes o direito sobre os jogadores, mesmo que o contrato entre as partes estivesse sido encerrado. A Lei Pelé, como ficou conhecida, é um marco na profissionalização do jogador de futebol.
É evidente que, na comparação entre o Edson de carne e osso e o ídolo Pelé, o Rei do Futebol se impõe, pela forte simbologia que representa sua trajetória: um jogador negro, de origem humilde, nascido em um país periférico, que, graças ao seu talento, consegue em poucos anos conquistar o mundo para se tornar a pessoa mais conhecida do planeta.
As manifestações de carinho e as condolências que chegam de todas as partes não deixam dúvida: Pelé é insubstituível.
Sobre o autor
*Henrique Brandão é jornalista e escritor.
** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de dezembro/2022 (50ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.
*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.
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O ano em que vencemos o fascismo
Outras palavras*
Toda virada de ano evoca esperanças, mas desta vez elas parecem mais palpáveis – e ao mesmo tempo mais incertas. Em uma semana, terminará o longo desconsolo, durante o qual toda ação transformadora parecia impossível e sabíamos que o pior estava ainda por vir. As janelas para um futuro melhor estarão abertas novamente. Mas os que viveram o fim da ditadura pós-64 sabem que a sensação é distinta. Nossas certezas sobre o país e o mundo são mais frágeis. Os riscos políticos e ambientais, maiores. Há enorme alívio e discreta confiança – mas não euforia. Talvez isso nos valha.
O que chamamos de presente, provoca Boaventura Santos num texto recente, “é apenas o momento de interface entre a memória do que fomos e a antecipação do que vamos ser”. Nossa Retrospectiva tem certa sintonia com este pensamento. No tênue intervalo de fim de ano, convidamos a ver, nos acontecimentos deste 2022 que termina, pistas para conhecer – e especialmente agir sobre – o que virá. O fulcro de nossa atenção, como de costume, é o Brasil. É uma satisfação notar que, após muitos anos de mera ação de resistência, surgem esforços para pensar a reconstrução do país, em novas bases. Parte dos textos que selecionamos expressa esta emergência. Ela se manifesta em torno de aspectos muito distintos da vida nacional: direito às cidades, resgate da Petrobrás e do Pré-Sal, educação, produção simbólica, ambiente, soberania digital, reforma tributária, renacionalização da Vale e tantos outros, que fizemos questão de acompanhar ao longo do ano.
Alguns deles são examinados de detalhes. Outras Palavras mantém, e aprimorou em 2022, um projeto complementar: o site Outra Saúde, que publica boletins diários com análises e atualizações sobre a luta em favor do SUS. Os melhores textos estão aqui. Mas também damos destaque especial, na Retrospectiva, à transição agroecológica e à construção de cidades para todos.
Resgatar o Brasil será árduo e complexo. Um dos obstáculos é também tema de um dos capítulos da Retrospectiva: como encarar forças claramente antidemocráticas que agora apresentam-se com duas faces – uma ultraliberal, outra abertamente fascista. Ao longo do ano, o pensamento político deu passos importantes para decifrar este enigma. Um dos insights mais instigantes é o de Bifo Berardi. Segundo ele, temos hoje um “gerontofascismo” – agora incapaz de sustentar um projeto nacional (basta ver como Bolsonaro empenhou-se em destruir as estruturas do Estado), mas igualmente ameaçador para as lutas populares.
A referência ao “gerontofascismo” remete ao cenário internacional. Em 1984, quando caiu a ditadura militar-empresarial no Brasil, dois grandes elementos o marcavam. De um lado, um “bloco socialista” que parecia sólido; de outro, “democracias ocidentais”. Estas empenhavam-se, é claro, em garantir as relações capitalistas; mas tinham compromisso com a preservação da democracia e das estruturas sociais necessárias à própria reprodução do sistema. Quatro décadas depois, o “socialismo real” dissolveu-se e o Ocidente está marcado pelo crescimento obsceno das desigualdades, pelo esvaziamento da política e pela incapacidade de enfrentar ameaças como as catástrofes climáticas e suas consequências sociais devastadoras.
Nossa Retrospectiva sugere textos para compreender os aspectos centrais desta conjuntura: crise do neoliberalismo e ameaça de novas tempestades financeiras; desgaste acelerado do eurocentrismo e do que se denominava “nova ordem internacional”; multiplicação das lutas decoloniais, em esfera global (vide a emergência da China) e no interior das sociedades (desgaste do patriarcado e do supremacismo branco); erosão do mundo do trabalho, porém com surgimento embrionário de novos sujeitos sociais antissistema; cegueira dos governos diante do colapso climático.
Quais as alternativas? Desde que surgiu, há quase treze anos, Outras Palavras coloca-se o desafio de sondá-las. Nossos textos publicados em 2022, e destacados na Retrospectiva, apontam que a construção teórica e política de lógicas pós-capitalistas continuou avançando. O debate é muito mais rico que a dicotomia Revolução x Reforma, típica dos séculos passados. Aos poucos, ganham terreno propostas como a materialização do Comum em serviços públicos de excelência; a possibilidade de os Estados emitirem dinheiro para satisfazer necessidades sociais e corrigir desigualdades; a Virada Socioambiental (“Green New Deal”), que articula as lutas ecológicas com a agenda social. Também avançam reflexões como a de nossos colaboradores Eleutério Prado (que busca aproximações entre marxismo e psicanálise) ou Ladislau Dowbor (que enxerga o ocaso do capitalismo e se preocupa em disputar o que virá depois).
O capítulo da Retrospectiva dedicado ao debate acima articula-se com outro, sobre o Feminismo e seus novos enfrentamentos contra o patriarcado e o capital. Em tempos tão cheios de incertezas, é reconfortante constatar que parte de ativistas e teóricas feministas instigam reflexões cruciais sobre novas lógicas sociais.
O pesadelo acabou e o caos permanece ao nosso lado. Será possível superar a crise civilizatória de modo positivo – ou seja, estabelecendo lógicas sociais que tenham em seu centro os valores da igualdade e de uma nova relação entre o ser humano e a natureza? Parece difícil – mas é impossível responder sem agir. Há quatro décadas, quando caiu a ditadura, seus opositores estavam provavelmente muito mais seguros do futuro do que nós, agora. Sua autoconfiança era ilusória, porém – como ficaria evidente em seguida. Em 2023, Outras Palavras quer continuar oferecendo informações incomuns e análises surpreendentes. É nossa forma de contribuir para que emerjam, das nossas dúvidas, novas formas de transformar o mundo. Cada vez mais efetivas e certeiras, mas sempre provisórias e prontas a despertar outras questões – porque aprendemos que a História nunca tem fim.
Texto publicado originalmente em Outras palavras.
Veja quem são os 37 ministros que farão parte do governo Lula
Jota*
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva começou a anunciar os nomes para os ministérios no dia 9 de dezembro: o ex-ministro e ex-prefeito Fernando Haddad (Fazenda); o governador da Bahia, Rui Costa (Casa Civil); o ex-governador e senador eleito Flávio Dino (Justiça); o ex-ministro José Múcio Monteiro (Defesa); e o diplomata Mauro Vieira (Relações Exteriores).
Em pronunciamento no dia 22/12, Lula anunciou mais 16 nomes. Os anunciados para compor o ministério do governo Lula de 2023 foram: Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Marcio Macedo (Secretaria-Geral da Presidência), Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), Nísia Trindade (Saúde), Camilo Santana (Educação), Esther Dweck (Gestão), Márcio França (Portos e Aeroportos), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Cida Gonçalves (Mulher), Wellington Dias (Desenvolvimento Social), Margareth Menezes (Cultura), Luiz Marinho (Trabalho), Anielle Franco (Igualdade Racial), Silvio Almeida (Direitos Humanos), Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio) e Vinícius de Carvalho (Controladoria-Geral da União).
O plantel de ministros foi completo nesta quinta-feira (29/12), com os anúncios de: general Marco Edson Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social), Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária), Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional), André de Paula (Pesca), Carlos Lupi (Previdência), Jader Filho (Cidades), Juscelino Filho (Comunicações), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Ana Moser (Esporte), Marina Silva (Meio Ambiente), Simone Tebet (Planejamento), Daniela do Waguinho (Turismo), Sônia Guajajara (Povos Originários) e Renan Filho (Transportes).
Os ministros anunciados por Lula tomam posse também no dia 1º de janeiro, em cerimônia no Palácio do Planalto. O evento ocorre depois que o próprio Lula for empossado no Congresso Nacional.
Veja quem são todos os 37 ministros do governo Lula
Waldez Góes, ministro da Integração e Desenvolvimento Regional
Aliado do senador Davi Alcolumbre (União Brasil), o governador do Amapá Waldez Góes (PDT) foi anunciado por Lula para ser o ministro da Integração e Desenvolvimento Regional. Ele deverá deixar o PDT em breve e migrar para o União Brasil. Leia o perfil de Waldez Góes, ministro da Integração e Desenvolvimento Regional.
Marco Edson Gonçalves Dias, ministro do Gabinete de Segurança Institucional
O general da reserva Marco Edson Gonçalves Dias será o comandante do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele chefiou a segurança da presidência primeiros oito anos que o petista ocupou o cargo. Veja o perfil de Gonçalves Dias, que comandará o GSI do governo Lula.
Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nomeou o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) para o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Reeleito em outubro para cumprir seu quinto mandato consecutivo, Teixeira é reconhecido pelo bom trânsito na área jurídica. Ele é mais um petista a ser apontado como ministro. Leia o perfil de Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário.
Ana Moser, ministra do Esporte
Ana Moser foi escolhida pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para liderar o Ministério do Esporte a partir de 2023. Ponteira da geração que trouxe a primeira medalha olímpica do vôlei feminino ao Brasil, em 1996, ela se tornou empreendedora social ao deixar as quadras. Ela integrou o grupo de trabalho do Esporte na equipe de transição. Leia o perfil de Ana Moser, ministra do Esporte do governo Lula.
Renan Filho, ministro dos Transportes
O ex-governador de Alagoas e senador eleito Renan Filho (MDB) será o novo ministro dos Transportes do governo Lula (PT). O estado alagoano está no topo do ranking das melhores rodovias públicas do país. O futuro ministro dos Transportes de Lula é filho do senador Renan Calheiros. Leia o perfil de Renan Filho, ministro dos Transportes de Lula.
Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social
Jornalista de formação, Paulo Pimenta graduou-se pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), onde iniciou sua trajetória política. Em 1988, foi eleito vereador em Santa Maria, tendo sido reconduzido em 1992. Chegou à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul em 1998 e, quatro anos depois, à Câmara dos Deputados. Foi reeleito em 2006, 2010, 2014, 2018 e 2022. Leia o perfil de Paulo Pimenta, ministro da Secretaria de Comunicação Social de Lula.
Carlos Fávaro, ministro da Agricultura
O senador Carlos Fávaro (PSD-MT) é ligado ao agronégocio. No período de 2012 a 2014, por exemplo, foi presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT). O fato o credenciou para assumir o ministério da Agricultura. Leia o perfil de Carlos Fávaro, futuro ministro da Agricultura.
Juscelino Filho, ministro das Comunicações
José Juscelino dos Santos Rezende Filho nasceu em 1984 no município de São Luís (MA). Formou-se médico pelo Centro Universitário do Maranhão (Uniceuma) e é vice-líder de seu partido na Câmara dos Deputados. Atualmente, está em seu segundo mandato e foi reeleito para o terceiro nas eleições de outubro com 142.419 votos. Leia o perfil de Juscelino Filho, futuro ministro das Comunicações de Lula.
Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia
O senador Alexandre Silveira (PSD-MG), que participou da campanha eleitoral de Lula em Minas Gerais, será o novo ministro de Minas e Energia. Coordenador da equipe de transição na área de infraestrutura, Silveira também foi relator da PEC da Transição na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Leia o perfil de Alexandre Silveira, futuro ministro de Minas e Energia.
Daniela do Waguinho, ministra do Turismo
Pedagoga, a deputada federal Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ) foi indicada para o Ministério do Turismo. Ela é esposa do prefeito de Belford Roxo (RJ), Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho, importante cabo eleitoral de Lula na Baixada Fluminense. Leia o perfil de Daniela do Waguinho.
André de Paula, ministro da Pesca e Aquicultura
André de Paula (PSD-PE) é deputado federal pelo estado de Pernambuco e está atualmente em seu sexto mandato. No PSD, ele exerce a função de presidente regional pelo estado em que foi eleito, e é o 2° vice-presidente da Câmara dos Deputados. Além de sua carreira política, André possui formação em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco. Leia o perfil de André de Paula, futuro ministro da Pesca.
Jader Filho, ministro das Cidades
O próximo ministro das Cidades será o filho do senador Jader Barbalho (MDB-PA) e irmão mais velho do governador reeleito Helder Barbalho (MDB), Jader Filho. Ele é empresário do setor de comunicação e preside atualmente o diretório do MDB no Pará. Leia o perfil de Jader Filho.
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente
A deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP) será novamente ministra do Meio Ambiente (MMA), levando seu prestígio nacional e internacional na área para o terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que prometeu zerar o desmatamento da Amazônia e dar um novo impulso à agenda climática. Leia o perfil de Marina Silva.
Simone Tebet, ministra do Planejamento
A futura ministra do Planejamento é advogada e professora. Nascida em Três Lagoas (MS), formou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e obteve o título de mestrado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Foi uma aliada importante durante o segundo turno e um símbolo da frente ampla que congregou críticos ao PT para impedir a reeleição de Jair Bolsonaro. Veja o perfil de Simone Tebet.
Carlos Lupi, ministro da Previdência Social
O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, foi o escolhido para comandar o Ministério da Previdência. Carlos Roberto Lupi já foi ministro de Lula. Em seu segundo mandato presidencial, o político assumiu o Ministério do Trabalho e Emprego, cargo que exerceu até 2011, durante o mandato de Dilma Rousseff (PT), quando foi acusado de envolvimento em um esquema de desvio de dinheiro por meios de contratos com ONGs. Leia o perfil de Carlos Lupi.
Sônia Guajajara, ministra dos Povos Originários
Primeira deputada federal indígena eleita pelo estado de São Paulo, a ativista Sônia Guajajara foi escolhida pelo presidente diplomado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assumir a pasta do Ministério dos Povos Indígenas, pasta que será criada pelo novo governo. Guajajara será a primeira indígena a ocupar um ministério. Veja o perfil de Sônia Guajajara.
Nísia Trindade, ministra da Saúde
Primeira mulher a presidir a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e condecorada pela atuação durante a pandemia de Covid-19. É a primeira mulher a presidir o Ministério da Saúde no Brasil. Veja o perfil de Nísia Trindade.
Camilo Santana, ministro da Educação
Ex-governador do Ceará e senador eleito, ele desbanca a até então mais cotada Izolda Cela, vice na chapa dele e atual governadora. Santana, que já havia cumprido dois mandatos, atuou como articulador da candidatura de Elmano de Freitas (PT), eleito para o governo cearense nestas eleições. Também apoiou a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no estado, mesmo tendo longa aliança com a família de Ciro Gomes (PDT). Leia o perfil de Camilo Santana.
Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais
Atualmente deputado federal, ele foi ministro da SRI entre 2009 e 2010, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrava seu segundo mandato. Ele já trabalhava no ministério há mais tempo: começou como chefe de gabinete até galgar a chefia pasta, como o mais jovem ministro do governo, aos 38 anos. Também foi ministro da Saúde no governo Dilma Rousseff. Leia o perfil de Alexandre Padilha.
Luciana Santos, ministra da Ciência e Tecnologia
Vice-governadora de Pernambuco e presidente nacional do partido. Ela será a primeira mulher e a primeira pessoa negra a ocupar a posição de forma permanente. A engenheira foi eleita deputada federal por dois mandatos, e ocupou o cargo entre 2011 e 2019. Integrou comissões de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, de Desenvolvimento Urbano e de Cultura. Veja o perfil de Luciana Santos.
Márcio Macêdo, ministro da Secretaria-Geral da Presidência
Deputado federal em fim de mandato, tem 52 anos e vai comandar um ministério importante pela proximidade com o chefe do Executivo federal. O indicado despacha dentro do Palácio do Planalto e influencia, por exemplo, na agenda do presidente. Na função, é preciso ter boa interlocução com a sociedade civil e os partidos da base, com o objetivo de dialogar e diminuir eventuais tensões. Leia o perfil de Márcio Macêdo.
Esther Dweck, ministra de Gestão
Foi secretária do Orçamento Federal no governo de Dilma Rousseff (PT). Integrou a coordenação do grupo técnico de Planejamento, Orçamento e Gestão na transição de governo. Ela é professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com pesquisas focadas em economia do setor público, regime fiscal e participação do Estado e crescimento e desenvolvimento econômico. Leia o Perfil de Esther Dweck.
Cida Gonçalves, ministra da Mulher
Foi secretária de enfrentamento à violência contra a mulher durante o governo de Dilma Rousseff (PT), mesma função que desempenhou no governo Lula. Leia o perfil de Cida Gonçalves.
Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento Social
Dias foi governador do Piauí duas vezes, totalizando quatro mandatos – primeiro entre 2003 e 2010, depois novamente entre 2014 e 2022. Na última eleição, foi eleito senador, cargo que já havia ocupado no intervalo entre seus governos estaduais. Leia o perfil de Wellington Dias.
Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial
Jornalista e ativista feminista e antirracista, ela cofundou o Instituto Marielle Franco após o homicídio da irmã, então vereadora no Rio de Janeiro, em 2018. Hoje, ela é diretora do Instituto. Leia o perfil de Anielle Franco.
Jorge Messias, advogado-geral da União
Atualmente procurador da Fazenda Nacional, órgão do qual é funcionário de carreira, foi o nome mais sugerido para ocupar a posição por procuradores da Fazenda e advogados da União, por meio do Fórum Nacional da Advocacia Pública Federal. Leia o perfil de Jorge Messias.
Vinicius de Carvalho, ministro da Controladoria-Geral da União
Durante o governo de Dilma Rousseff, Carvalho esteve à frente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Entrou no órgão em 2008 como conselheiro. Por cerca de um ano, antes de liderar o órgão antitruste, ocupou a Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, na gestão de José Eduardo Cardozo. Leia o perfil de Vinicius de Carvalho.
Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos
Professor da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. É especialista em direitos humanos e relações raciais. Atualmente, desenvolve estudos em áreas como racismo estrutural, compliance e práticas antidiscriminatórias. Nesse tema, ele publicou o livro “Racismo Estrutural”, em 2019. Leia o perfil de Silvio Almeida.
Márcio França, ministro dos Portos e Aeroportos
França foi governador de São Paulo quando Geraldo Alckmin (PSB) deixou o posto para concorrer à Presidência nas eleições de 2018. Ao tentar se eleger para continuar no Palácio dos Bandeirantes, foi derrotado no segundo turno por João Doria (PSDB). Tentou se eleger senador este ano, mas perdeu a disputa para Marcos Pontes (PL). Leia o perfil de Márcio França.
Geraldo Alckmin, ministro da Indústria e Comércio
A vaga foi, originalmente, oferecida a Josué Alencar, filho de José Alencar, vice de Lula durante os dois mandatos. Diante da recusa, o ex-governador de São Paulo foi o escolhido. Alckmin disputou duas vezes a Presidência da República pelo PSDB, mudou para o PSB recentemente e compôs a chapa presidencial com Lula.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda
Ex-prefeito de São Paulo, tem fama de pragmático e é admirador de Galbraith. É visto como alguém que coloca a lealdade ao chefe acima dos seus projetos pessoais. Veja o perfil completo de Haddad.
Rui Costa, ministro da Casa Civil
Filiado ao PT e economista formado pela Universidade Federal da Bahia, é governador da Bahia, eleito em 2014 e reeleito em 2018. Começou a trajetória política no movimento sindical ainda na década de 1980. Foi vereador de 2000 a 2007. Também foi eleito deputado federal em 2010, mas licenciou-se para assumir o cargo de Secretário da Casa Civil da Bahia, a partir de 5 de janeiro de 2012. É próximo de Jaques Wagner, ex-governador da Bahia, e foi como secretário do amigo que ganhou maior notoriedade. Veja o perfil completo de Rui Costa.
Flávio Dino, ministro da Justiça
Ex-governador do Maranhão e senador eleito no pleito deste ano, era um dos coordenadores do grupo técnico que discute Justiça e Segurança Pública. Defendeu a revogação de decretos do presidente Jair Bolsonaro que flexibilizaram o acesso a armas e também uma atuação mais restrita da Polícia Rodoviária Federal. Na entrevista em que anunciou Dino, Lula disse que o indicado tem a missão de consertar o funcionamento da Pasta da Justiça, numa referência ao que ocorreu durante a gestão no governo Bolsonaro. Veja o perfil de Flávio Dino.
José Múcio Monteiro, ministro da Defesa
Tem uma extensa carreira na vida pública. Foi deputado federal por quase duas décadas, integrou a equipe do segundo governo de Lula e presidiu o Tribunal de Contas da União (TCU). Era um dos principais cotados para a Defesa em razão de seu perfil articulador e do bom trânsito nas Forças Armadas. Veja o perfil de José Múcio Monteiro.
Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores
Um dos mais experientes diplomatas em atuação, com mais de 40 anos de carreira na área, foi chanceler no governo de Dilma Rousseff, de 2015 a 2016. Depois, foi representante do Brasil do Brasil junto às Nações Unidas. Antes foi embaixador nos Estados Unidos (2010 – 2015) e na Argentina (2004 – 2010). É um dos diplomatas mais próximos do ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, conselheiro de Lula para assuntos internacionais. Veja o perfil de Mauro Vieira.
Margareth Menezes, ministra da Cultura
Já fazia parte da equipe de transição da cultura do governo Lula. A cantora nasceu em Boa Viagem, região de Salvador, em 13 de outubro de 1962. Filha de uma costureira e de um motorista, é a mais velha de cinco irmãos. Conquistou dois troféus Caymmi, quatro troféus Dodô e Osmar e foi indicada ao Grammy Awards e ao Grammy Latino. Veja o perfil de Margareth Menezes.
Luiz Marinho, ministro do Trabalho
Ele esteve à frente do Ministério ainda no primeiro governo de Lula, entre 2005 e 2007, quando então migrou para a Previdência. Marinho é ex-prefeito de São Bernardo do Campo e foi presidente do sindicato dos metalúrgicos da região do ABC na década de 1990 e início dos anos 2000. Veja o perfil de Luiz Marinho.
Texto publicado no portal Jota.