Day: março 17, 2022
Luiz Carlos Azedo: Conspiração e desespero na terceira via
Luiz Carlos Azedo / Nas Entrelinhas / Correio Braziliense
Uma operação de cerco e aniquilamento da pré-candidatura do governador de São Paulo, João Doria, como havíamos antecipado, está em pleno curso. Praticamente todas as lideranças da chamada terceira via se articulam para substituí-lo pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, como o candidato unificado da terceira via. As conversas de bastidores no Congresso incluem, também, os deputados da bancada paulista aliados do vice Rodrigo Garcia.
Derrotado por Doria nas prévias do PSDB, Eduardo Leite acredita que o cavalo está passando arreado para sua candidatura à Presidência, desta vez, para valer. Na primeira oportunidade, quem montou foi o governador paulista, que não está conseguindo bom desempenho na corrida presidencial. Doria empacou nas pesquisas. No levantamento do instituto Quaest/Genial, divulgado, ontem, pela CNN, Doria aparece empatado com o deputado André Janones (Avante), ambos em quinto lugar, com 2% de intenções de votos.
A pesquisa traduziu as dificuldades enfrentadas pelos partidos de centro para construir uma candidatura de terceira via, em razão da polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aparece com 44% das intenções de voto, e o presidente Jair Bolsonaro (PL), com 26%. Empatados em terceiro lugar, com 7%, estão os pré-candidatos Sergio Moro (Podemos) e Ciro Gomes (PDT). Outra postulante do apoio da terceira via, a senadora Simone Tebet (MDB) aparece com 1%.
Eduardo Leite está de malas prontas para o PSD, de Gilberto Kassab, com quem discutiu, inclusive, o apoio financeiro da legenda à candidatura presidencial. O ex-prefeito de São Paulo garantiu ao governador gaúcho que as resistências existentes na sigla estão sendo superadas. Para o PSD, uma candidatura própria é vital para o partido, que hoje tem 11 senadores e pode chegar a 50 deputados. Se for bem-sucedida, a legenda estará entre as cinco maiores do país, ao lado de PT, União Brasil, PP e PL. A candidatura própria, ainda mais com um político jovem, de perfil liberal e ideais novas, daria mais identidade ao PSD. Sem uma candidatura com esse perfil, a divisão da sigla será inevitável, com uma ala derivando para o apoio à reeleição de Bolsonaro e outra, capitaneada pelo próprio Kassab, apoiando Lula.
A conversa de Leite com Kassab provocou um corre-corre na terceira via, com o deputado Aécio Neves (PSDB-MG), desafeto figadal de Doria, mobilizando aliados para segurar o governador gaúcho no PSDB, no pressuposto de que, na sua legenda de origem, teria mais possibilidades de receber apoio de União Brasil, MDB e Cidadania. Dirigentes das três legendas fizeram coro com Aécio, porque todos têm conhecimento de que as bancadas federais dessas siglas em São Paulo começam a entrar em desespero com o fraco desempenho de Doria nas pesquisas. Prometem remover Doria, caso Leite permaneça no PSDB.
Maratona
O cenário eleitoral estimula a conspiração, porque a polarização entre Lula e Bolsonaro em São Paulo está cristalizada e começa a se refletir na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, com o alinhamento de seus eleitores com os candidatos que apoiam o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. O vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB), candidato de Doria, que também não decola, corre risco de virar marisco.
No último levantamento do Ipespe, nos dois cenários principais, a posição de Garcia não era boa. Na disputa com Haddad (PT), 28%; Márcio França (PSB), 18%; Guilherme Boulos (PSol), 11%; e Tarcísio de Freitas (sem partido), 10%, o vice-governador tem apenas 5%. Brancos e nulos somam 24%, e não sabe/não respondeu, 4%. No cenário mais provável — Haddad, apoiado por Lula e Alckmin, com 38%; Tarcísio de Freitas, apoiado por Bolsonaro, com 25% —, Garcia, com apoio de Doria, teria apenas 10%. Brancos e nulos somariam 23%; não sabe/não respondeu, 4%.
Apesar das adversidades eleitorais e da conspiração dos aliados, Doria não dá, até agora, nenhum sinal de que pretende desistir. Pelo contrário, aposta na saída de Eduardo Leite do PSDB, que não aceita o resultado das prévias, e considera as articulações de Aécio Neves um gesto de desespero. Também não acredita que a bancada paulista desista, após sua desincompatibilização, quando Rodrigo Garcia assumirá o Palácio dos Bandeirantes, pois o acordo entre ambos já foi selado, na medida em que Doria não pretende, de forma alguma, concorrer à reeleição.
A agenda do governador paulista está focada na maratona de inaugurações que programou para seus últimos dias no cargo. Somente depois começará a pré-campanha para a Presidência, articulando seus palanques regionais. Doria tem muitos problemas a resolver fora de São Paulo para consolidar a federação com o Cidadania e articular seus palanques majoritários. Em muitos estados, o PSDB está mais para Bolsonaro do que para Eduardo Leite.
William Waack: A guerra da Ucrânia e as ideias
William Waack / O Estado de S. Paulo
Quando se trata das decisões de Vladimir Putin a questão não é de geopolítica, argumenta o historiador Timothy Snyder (bestsellers no Brasil: Terras de Sangue e Na Contramão da Liberdade). Pois, em termos geopolíticos, diz ele, tudo o que Putin conseguiu invadindo a Ucrânia foi acelerar a vassalagem da Rússia diante da China.
A guerra lançada por Putin é em torno de uma ideia nascida de interpretação errônea de “fatos” históricos, enfileirados para satisfazer as convicções místicas do chefe oligarca em Moscou. Nesse sentido, Snyder lança um grande desafio para a escola do “realismo” na interpretação das relações entre as potências, segundo a qual os únicos fatores que realmente importam são poder e segurança.
O principal representante do realismo no debate atual é o professor John Mearsheimer (best-sellers: The Tragedy of Great Power Politics e The Great Delusion). Segundo ele, os Estados Unidos são culpados pelo que está acontecendo, pois forçaram a integração da Ucrânia na Otan, apesar de a Rússia ter dito que jamais toleraria esse fato, visto por ela como ameaça existencial.
As aulas de Mearsheimer em vídeo estão com milhões de acessos. “Putin o agressor” é uma história inventada por políticos ocidentais, diz o professor, para justificar a própria falta de visão e irresponsabilidade. E Putin está fazendo o que os americanos sempre fizeram: “o poder (militar) cria o direito”.
O debate tem um interesse muito mais abrangente do que o acadêmico. O “realismo” afirma que a nova ordem internacional que nasce agora obedece aos fatores de sempre (poder e segurança). Snyder acrescenta um aspecto que não contradiz a visão “realista”, mas a amplia ao se tentar entender o que está acontecendo: a força das ideias.
Assim, a expansão da Otan é a consequência de uma má ideia abraçada por gerações de líderes ocidentais: a de que forças irresistíveis (o capitalismo) “inevitavelmente” multiplicariam democracias. A China já havia provado o erro dessa suposição, mas, mesmo assim, acreditou-se, nas capitais ocidentais, que não havia mais alternativas (“fim da História”).
Mas também a reação ucraniana à invasão é em torno de uma ideia, a da integração europeia, que supõe princípios respeitados por todos (como a não violação de territórios). Mais ainda, a resistência à injustificável agressão ensina que ser uma nação não significa apenas possuir idioma ou história em comum. “Nação” é uma coletividade possuir uma ideia comum do que deveria ser seu futuro.
Uma óbvia lição para o Brasil.
Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,a-guerra-da-ucrania-e-as-ideias,70004010861
Cristiano Romero: Democracia exige fim do racismo e da desigualdade
Cristiano Romero / Valor Econômico
Em 1953, apenas 25, de cada cem crianças brasileiras, estavam na escola. Nossos pais contavam que naquela época a escola pública era “muito boa”. Não se conhece ninguém que tenha desmentido essa afirmação porque seria chato confrontar os próprios pais com um argumento irretorquível: como pode ser qualificado de bom um sistema de ensino que atende a demanda de apenas 25% dos estudantes do ensino básico?
Brasileiros, temos o péssimo defeito de tomar como certo o que é profundamente errado. E, assim, vamos nos iludindo a serviço de grupos de interesse específico numa sociedade onde o país é rico, mas a riqueza é concentrada nas mãos de pouquíssimos. Em pleno século XXI, cidadãos pertencentes à elite cultural do país defendem como verdadeiro, por exemplo, o pior dos mitos disseminados neste canto do planeta: o de que somos uma democracia racial.
Em 1953, quando somente um quarto das crianças tinha acesso à educação, a classe média foi às ruas, com entusiasmo inédito, clamar pela nacionalização das reservas de petróleo que, àquela altura, ainda não tínhamos descoberto. A campanha “o petróleo é nosso” foi a maior mobilização popular da história do Brasil até meados de 2013, quando, de forma desorganizada, difusa e sem vínculo com partidos políticos ou mesmo com entidades da sociedade civil, milhões foram às ruas reclamar da baixa qualidade dos serviços públicos, da falta de segurança pública e, claro, do governo Dilma Rousseff.
Sessenta anos entre os dois maiores movimentos populares não foi, como se vê, tempo suficiente para o Estado brasileiro oferecer educação de qualidade aos brasileiros. Será o povo que habita este imenso território injusto com o governo, afinal, em 2013 praticamente 100% das crianças estavam matriculadas nas escolas? Este foi, sem dúvida, um enorme avanço, viabilizado pela Constituição de 1988, que, além de tornar a universalização do ensino fundamental 1 (antigo primário) e 2 (ex-ginasial) um dever dos entes federativos, criou as condições para que a obrigação fosse consumada.
Mas, se tem uma característica que não deve ser imputada aos brasileiros, principalmente à maioria pobre e miserável, é a de que eles são injustos com os governantes. O Estado brasileiro cobra de seus cidadãos uma carga de impostos e tributos de país rico - o equivalente a quase 35% do Produto Interno Bruto (PIB) - e presta serviços, em geral, de nação pobre. Em 1953, o analfabetismo, perversidade que humilha e sabota o futuro de suas vítimas, era tão avassalador que difícil mesmo seria encontrar quem soubesse ler.
Os filhos e netos das sucessivas gerações de maioria analfabeta concluíram, pelo menos, o antigo primeiro grau - no ensino médio (ex-segundo grau), a tragédia continua porque, na média do país, apenas metade dos adolescentes está na escola. Aprenderam que o que permitiu esse progresso foi o retorno à democracia, onde todo cidadão tem, em tese, o direito de subir no banco da praça e esculhambar o governo sem ser importunado pela polícia - sabemos que, nesta jovem democracia, não é bem assim, mas valhamo-nos dessa simbologia.
A história mostra que o Estado democrático de direito é menos instável - as experiências de maior longevidade da Inglaterra e dos Estados Unidos são prova disso - quando adepto da economia de mercado, cujos princípios básicos são os mesmos do regime democrático - livre arbítrio, liberdade de opinião (ou de empreender), competição, tudo isso regulado por um Estado forte, mas, jamais, usurpador do direito sagrado do cidadão de escolher seus representantes e de se manifestar, nem de ser o provedor final dos bens demandados pela população; como a democracia numa economia capitalista pode se comparada a uma corrida, nesse modelo, cabe ao Estado usar a maior parte de seus recursos para assegurar que os cidadãos tenham oportunidades iguais, de forma que a distância entre os habitantes seja a menor possível, sabendo-se que sempre haverá algum grau de desigualdade e um contingente de despossuídos, aos quais a sociedade, por meio do setor público, proverá sua subsistência.
Os brasileiros, como costuma pontuar de forma brilhante o economista Luiz Guilherme Schymura, diretor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV-Rio, demandam mais democracia desde 1954. No fundo, diz ele, desde então, a história se resume à demanda do povo por mais democracia e à resistência de grupos que se opõem a concedê-la porque se beneficiam da concentração de riqueza. Como não é possível conter “democraticamente” as reivindicações justas de quem não tem perspectiva de futuro porque o Estado nega-lhe o básico, de tempos em tempos, a democracia se fragiliza e caímos em regimes de exceção.
Em 2013, os cidadãos que concluíram o ensino fundamental perderam a paciência com o establishment. A razão é uma só: ao viver numa economia cada vez mais movida por tecnologias que se tornam obsoletas em curto espaço de tempo, exigindo dos trabalhadores formação que os brasileiros não têm, a vida, principalmente de setores da classe média com menor grau de instrução, piorou sobremaneira.
Esses cidadãos foram às ruas pedir dinheiro, mas, sim, educação de qualidade porque, sem isso, na “corrida democrática”, a distância entre eles e os filhos da classe média alta e dos ricos é enorme. Eles olham para o horizonte e nada veem. Sendo assim, começam a acreditar em políticos messiânicos e autoritários, líderes religiosos inescrupulosos, que lhe contam uma história que, em meio ao seu desespero, soa-lhes sensata. Daí, a acreditarem que a democracia, os congressistas, governadores, prefeitos e o Poder Judiciário são os verdadeiros responsáveis por sua danação é um pulo.
O Brasil, aparentemente, não vive o risco de, novamente, retroceder para um regime não democrático. De toda forma, falar desse tema pareceria exagerado dez anos atrás. Hoje, é tema obrigatório. Mas, se prevalecer a democracia, é crucial que os próximos governos não adiem mais o enfrentamento das enormes desigualdades que separam os brasileiros, a começar pelo combate diuturno e inadiável do racismo, nossa principal característica nacional.
Fonte: Valor Econômico
https://valor.globo.com/brasil/coluna/democracia-exige-fim-do-racismo-e-da-desigualdade.ghtml
Maria Cristina Fernandes: Movimento do eu-sozinho
Maria Cristina Fernandes / Valor Econômico
O conjunto das pesquisas publicadas nas últimas semanas demonstrou que a terceira via tornou-se uma questão de dogma ou fé. Cristalizada, a polarização mostra, por um lado, um governo mobilizando o tesouroduto a serviço da reeleição. E, por outro, um ex-presidente que sustenta o favoritismo no gogó do legado. Arrisca dar sorte ao azar.
A formulação que agregou o ex-governador Geraldo Alckmin foi a que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está à frente de um movimento e não de um partido. A ideia é reproduzir o apelo à democracia que moveu Tancredo Neves na abertura.
Naquele momento mobilizaram-se lideranças, partidos, movimentos sociais, sindicatos, empresários e banqueiros para levar para dentro do colégio eleitoral o desejo de mudança da campanha pelas eleições diretas. Por isso, quando Tancredo morreu, não houve retrocesso.
O ex-presidente José Sarney deu outra cara à transição, mas a abertura seguiu adiante com a Constituinte e as eleições diretas porque, àquela altura, já se tratava de um movimento amarrado de cima a baixo.
Não se trata de dar amplitude aos temores do PT de um atentado contra Lula. Mas de constatar que o bolsonarismo tem sabido aproveitar melhor o momento em que a terceira via se esfarinha. Isso porque Lula não se tornou um movimento.
Um pouco antes do Carnaval, Lula reuniu-se com 32 economistas mobilizados pela Fundação Perseu Abramo. Pediu ideias, mas alertou: não tenho porta-voz na economia.
Na semana passada, um emissário petista foi conversar com um grupo de empresários e banqueiros que tem mantido encontros frequentes com representantes da terceira via e já começaram a se dar conta de que a barca é furada.
Se ainda navega é porque tem timoneiros bem relacionados que dão a alternativas como o governador Eduardo Leite um tamanho maior do que, de fato, tem, com o objetivo de fazer desta articulação um ativo político para futura negociação.
É um grupo sensível à ausência de interlocutores com os quais possa discutir os rumos de um eventual terceiro governo Lula. Indagado se Lula III seria mais parecido com o I (que gostam) ou com o II (que desgostam), ouviram deste emissário petista que ele é o mesmo que fez o governo no qual todos ali ganharam muito dinheiro. E que um candidato que queira dar um cavalo de pau na economia não escolhe Alckmin para vice.
O emissário ainda lhes disse que do apoio deles dependia 10 pontos percentuais nas pesquisas, pela influência em formadores de opinião. Mas o entendimento pouco avançou. Os empresários acham que Alckmin protagonizou uma rendição incondicional por ter aderido sem negociar um programa mínimo. Não engolem Guido Mantega como signatário de propostas nem tampouco a carta lulista a-garantia-sou-eu.
Em artigo na “Folha de S.Paulo”, o empresário Ricardo Semler, que advoga pela adesão dos seus pares a Lula, apelou a que o PT busque interlocução com Arminio Fraga, Pedro Malan ou Persio Arida.
Sim, também falta renovação no lado de lá, mas é o campo de Lula que está na peleja para agregar. Para não dizer que é mais do mesmo coloca os jovens Guilherme Mello (Unicamp) e Gabriel Galípolo (ex-Fator) na vitrine. Nenhum deles, repita-se, em nome de Lula.
Tampouco falam os mais escolados, como o deputado estadual Emídio de Souza e o governador do Piauí, Wellington Dias, que estiveram na XP. Ou ainda o governador do Ceará, Camilo Santana, que falou aos empresários do Esfera, grupo liderado por João Carlos Camargo protótipo do Lide.
Nas conversas das quais Lula, de fato, participa, repete mais ou menos o mesmo discurso que mantém em público sobre desigualdade, reforma trabalhista e Petrobras. Há um presidente à frente da estatal que busca preservar a empresa de novos assaltos e o PT vai na mesma toada de Bolsonaro e do Centrão de bater nos “lucros extraordinários”. É tão difícil assim perceber que há uma imagem a ser recuperada na gestão da Petrobras?
Foi esse prato requentado que Lula serviu em fevereiro quando jantou com Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Cláudio Ermírio de Moraes (Votorantim) e Eduardo Sirotsky Melzer (EB Capital). O cardápio foi o de seus governos. Fez oito anos de superávit primário, o maior acúmulo de reservas e mais longo período de crescimento das últimas décadas.
E Dilma? Não soube dialogar, o que, qualquer um vê, não é seu caso. O mundo já girou 12 vezes em torno do Sol desde que Lula deixou o governo mas seu interlocutor precisa acreditar que ele saberá lidar com todas as novidades porque já sentou na cadeira antes. É esta a gênese do movimento eu-sozinho.
O que esses empresários que ouvem Lula e seus interlocutores custam a entender é a razão pela qual o ex-presidente, sem adversários à esquerda, continua com um discurso que, na verdade, é mais esquerdista do que o próprio candidato.
Custa a moldá-lo para conquistar a centro-direita do eleitorado e passa a impressão de que a ampliação da candidatura é centrípeta. Quem está no entorno é que deve se aproximar do seu eixo. E não o contrário.
A coisa muda depois de 2 de abril quando, fechadas a janela partidária, Lula sairá da bolha política? Se o fizer já encontrará um quadro distinto daquele do ano passado, quando Bolsonaro chegou a ser considerado carta fora do baralho e o PT temia o ex-juiz Sergio Moro.
Basta ver a última rodada da pesquisa Genial/Quaest. A favor de Lula concorre a economia, que pesa como o principal problema para a maioria, e a rejeição estratosférica (63%) de Bolsonaro.
Contra a percepção crescente de crise econômica e inflação galopante, o presidente maneja a melhoria nas expectativas de renda e emprego. Depois do auxílio, do vale gás, do perdão do Fies, do corte no IPI e do reajuste para professores vem aí a antecipação do 13º e a liberação do FGTS. E depois de pôr a PF para perseguir a terceira via, agora foi pra cima de Alckmin.
O presidente recuperou uma parte do eleitorado que havia migrado para a terceira via e ultrapassou, pela primeira vez, aqueles que não querem nem Lula nem Bolsonaro. Mas além do movimento que Felipe Nunes, diretor da pesquisa, chamou de “a volta dos que não foram”, Bolsonaro avançou no eleitorado lulista por excelência.
A avaliação negativa do governo caiu pela metade entre os que recebem o Auxílio Brasil. Em 2018 Bolsonaro foi o único dos eleitos pós-ditadura a perder no segmento mais pobre da população. Hoje é ele, o timoneiro do caos, o candidato que amplia.
Fonte: Valor Econômico
https://valor.globo.com/politica/coluna/movimento-do-eu-sozinho.ghtml