Day: janeiro 12, 2022
André Amado: Uma visão criativa da Segunda Guerra Mundial
Por sugestão de Luiz Carlos Azedo, um jornalista com coceiras de historiador – ou vice-versa –, violei a ordem de meus livros de cabeceira e abri espaço para Cinco dias em Londres. Maio de 1940, de John Lukacs. Bela e instrutiva leitura. Trata-se de uma história da Segunda Guerra a partir de um microcosmos de cinco dias – de 24 a 28 de maio – durante os quais o exército alemão encurrala as forças britânicas e francesas em Flandres, na Bélgica; o que resta das tropas aliadas busca refúgio em Dunquerque, na França, sem perspectiva de resgate pela marinha britânica; a Itália de Mussolini declara a aliança com Hitler, e a França está por reconhecer a derrota para a Alemanha, deixando a Grã-Bretanha sozinha na oposição ao nazismo.
A avalanche de más notícias que se precipitavam sobre Londres não contribuía para superar a atitude no mínimo dúbia da população britânica em relação a Hitler. Mesmo diante da possibilidade de eventual invasão da ilha, nem todos se opunham à emergência da Alemanha nazista. Uns alegavam que o Tratado de Versailles (1919) lhe tinha sido claramente desfavorável. Outros, da elite conservadora, consideravam um armistício com Berlim como um mal menor, em comparação a um ataque devastador da máquina de guerra nazista. Outros, ainda, simpatizavam com os governos de perfil autoritário que vinham despontando na Europa, como uma espécie de barreira ao possível avanço do comunismo.
Correntes de pensamento conservador e reacionário também exerciam forte influência dentro e fora do país, dificultando posturas frontais a Hitler. Winston Churchill seria em poucos meses após o início da guerra um líder inconteste, mas, naqueles idos de maio de 1940, sua liderança ainda gerava desconfiança. Joseph Kennedy, embaixador dos Estados Unidos em Londres, por exemplo, detestava Churchill, não acreditava que o Reino Unido pudesse resistir à investida alemã, e era anti-semita. Seus relatórios a Roosevelt não ajudaram o presidente a superar as resistências que ele mesmo nutria ao Primeiro-Ministro britânico.
Chamberlain, cujo pai declarara, em 1890, que o mundo devesse ser governado pelas nações teutônicas, Reino Unido, América e Alemanha, compartia do anti-semitismo de Kennedy e da dúvida quanto à capacidade de enfrentamento britânico à Alemanha hitlerista. Lord Halifax era militante ativo no Gabinete de Guerra contra as posições de Churchill, que qualificava de extremadas. Tinha de haver uma alternativa à hipótese de guerra com a Alemanha, como, por exemplo, um acordo de paz tendo como contrapartida a garantia de Berlim à autonomia do Império britânico.
Churchill de fato não admitia hipótese alguma de flexibilização a possíveis propostas de paz com os alemães. Já lhe chegara aos ouvidos, por exemplo, que Roosevelt começava a acalentar a ideia de que, em caso de invasão da Ilha pelos alemães, o Reino Unido deveria deslocar sua Armada para o Canadá e a família real para as Bermudas. Para Churchill, somente a vitória incondicional lhe servia.
Lukacs se supera fazendo-se apoiar em referências a livros, diários, anotações de conversas sigilosas, minutas de reuniões do Gabinete de Guerra, telegramas mais do que reservados entre as chancelarias e seus embaixadores, enfim todo o arsenal de informações de fontes primárias e, na maioria dos casos, inéditas. O rigor e a amplitude das pesquisas assim conduzidas conferem autoridade e confiabilidade às análises e conclusões de Lukacs, dentre as quais destco duas.
A primeira é o pragmatismo e a visão de conjunto do Primeiro-Ministro britânico. O Reino Unido sozinho não conseguiria derrotar a Alemanha de Hitler. Isto é, o apoio militar e logístico dos Estados Unidos (depois da invasão da União Soviética pelas tropas nazistas, Churchill também se aproximaria de Stalin) seria fundamental para assegurar a soberania do Reino Unidos e da Europa, dimensão ausente do radar estratégico de Chamberlain e Halifax (a quem o PM se referia, a portas fechadas, como Holly Fox, raposa santa). Daí porque Churchill tanto resistiu às gestões de Halifax em favor da proposta que os france ses pretendiam interessar Mussolini a submeter a Hitler de um acordo de paz, quaisquer que fossem seus termos. Lukacs considera essa posição de Churchill, que terminou se tornando a opinião majoritária do Conselho de Guerra, como um ponto de inflexão que assegurou ao Reino Unido, senão vencer a guerra, pelo menos não a perder por antecipação.
Em uma palavra, a rutura foi sempre entre reacionários e conservadores. E Lukacs conclui: a maior ameaça à civilização ocidental não foi o comunismo, foi o Nacional Socialismo.
*André Amado é escritor, pesquisador, embaixador aposentado e diretor da revista Política Democrática On-line. É autor de diversos livros, entre eles, A História de Detetives e a Ficção de Luiz Alfredo Garcia-Roza.
** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de janeiro/2022 (39ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP).
*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.
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PL projeta maior bancada na Câmara e quer mais ministérios
Vinícius Valfré e Felipe Frazão / O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA — A possível consolidação do PL como a maior bancada da Câmara a partir de março, quando deputados poderão mudar de partido sem perder o mandato, aumenta o apetite do novo partido do presidente Jair Bolsonaro na reforma ministerial. Até agora, pelo menos 12 dos 23 ministros devem deixar os cargos até o fim daquele mês para disputar eleições. A mudança deve desfigurar o primeiro escalão do governo, que hoje tem apenas nove remanescentes da composição original.
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Parlamentares do PL, sigla controlada por Valdemar Costa Neto – condenado e preso no mensalão –, consideram natural o aumento de cargos na Esplanada para o partido. A previsão ali é de que a bancada na Câmara, impulsionada pela entrada de Bolsonaro no PL, passe de 43 para até 70 deputados na “janela partidária” – prazo de 30 dias que os parlamentares têm para trocar de sigla.PUBLICIDADE
A expectativa de mudanças já começou a provocar disputas. O embate opõe políticos de carreira, técnicos, integrantes da ala ideológica e até militar. Um dos exemplos é a recente “fritura” da ministra-chefe da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (PL-DF). Contestada até na Câmara, de onde se licenciou, sob o argumento de que não cumpre acordos para distribuição de emendas parlamentares, ela viu circular o nome do chefe de gabinete de Bolsonaro, Célio Faria Junior, como cotado para lhe suceder. Com histórico de cargos na Marinha, Faria Junior é amigo do presidente.
No Palácio do Planalto, auxiliares de Bolsonaro dizem que as substituições devem ocorrer “sem surpresas”, com a promoção dos secretários executivos ao primeiro escalão. Integrantes do PL e de outras siglas do Centrão, como o Progressistas e o Republicanos, afirmam, porém, que não é bem assim.
“Cabe ao presidente decidir, mas, em determinadas pastas, é preciso encaminhar mudanças”, afirmou o líder do PL na Câmara, Wellington Roberto (PB). “Às vezes, a indicação do secretário executivo é de um ministro, não de um partido”, emendou ele, para quem o partido deve ser consultado.
Flávia Arruda pretende concorrer ao Senado. Aliados de Bolsonaro no Centrão apostam que a saída do PL da equipe será compensada com um assento no Ministério de Infraestrutura. A pasta absorveu funções da área de transportes, que foi controlada pelo PL em governos passados.
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, deve se filiar ao PL para concorrer ao governo de São Paulo. Tudo está sendo preparado para que o substituto de Tarcísio seja Marcelo Sampaio, atual secretário executivo e genro do general Luiz Eduardo Ramos, chefe da Secretaria-Geral da Presidência. No acordo, caberia a Valdemar Costa Neto chancelar Sampaio e as demais secretarias de Infraestrutura.
Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Evair de Melo (Progressistas-ES) confirmou ao Estadão que as cúpulas do PL, do Progressistas e do Republicanos – tripé de apoio à reeleição de Bolsonaro – têm participado das negociações para a reforma ministerial do fim de março.
“Não vai ter ruptura. Naturalmente, pode ter um caso ou outro que tenha que fazer uma acomodação, mas não tem nada de surreal. Valdemar, Ciro Nogueira (ministro da Casa Civil) e Marcos Pereira (presidente do Republicanos) serão ouvidos. Dos 12 nomes que podem sair, acho que uns oito saem de fato. Se puder subir o secretário executivo, sobe”, disse ele.
A lei eleitoral exige que ocupantes de cargos públicos deixem seus postos seis meses antes das eleições. O prazo vence em 2 de abril. Na prática, os sucessores dos ministros teriam cerca de oito meses nos cargos, com o ônus das restrições de entregas e inaugurações do período eleitoral.
Pereira tem dito que não pretende ampliar o espaço do Republicanos na Esplanada. O partido tem o Ministério da Cidadania, com João Roma (BA), e pretende manter a pasta com a saída dele para concorrer ao governo da Bahia.
Os ministros-candidatos intensificaram agendas em seus redutos. Uma parte tirou férias neste mês para ir ao encontro de eleitores e grupos políticos e visitar igrejas. Foi o caso de Tarcísio, Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), Fábio Faria (Comunicações) e Anderson Torres (Justiça).
“O presidente vai saber respeitar a proporcionalidade dos partidos. E isso pode se refletir na formação do novo governo”, disse o líder da bancada da bala, deputado Capitão Augusto (PL-SP). Líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR) afirmou, porém, que a entrada de Bolsonaro no PL não renderá, por ora, mais cargos ao partido. O Progressistas, legenda do ministro Ciro Nogueira e do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), nega que reivindique mais espaço na reforma.
Para entender: Ministros devem sair para disputar eleições
Debandada
O presidente Jair Bolsonaro afirmou que, dos 23 ministros, 12 podem deixar o governo nos próximos meses para concorrer nas eleições deste ano. O prazo para a desincompatibilização dos auxiliares termina em abril.
‘Escolha interna’
“Já começamos a pensar em nomes para substituí-los, e alguns já estão mais que certos. A maioria será por escolha interna, até mesmo porque seria um mandato-tampão até o fim do ano”, afirmou Bolsonaro durante entrevista no fim de semana.
Filiação
Em novembro, Bolsonaro selou sua volta ao Centrão ao se filiar ao PL pelas mãos de Valdemar Costa Neto (foto). Agora, com uma reforma ministerial no horizonte, a sigla quer ampliar espaço na Esplanada.
Expectativa
Pelos cálculos do PL, a bancada do partido na Câmara, impulsionada pela filiação de Bolsonaro, deve passar de 43 para até 70 deputados na chamada “janela partidária”.
Raio x
Atualmente o terceiro maior partido da Câmara, o PL teve acesso em 2020 a um fundo eleitoral de R$ 117 milhões e a um Fundo Partidário de R$ 45,7 milhões.
Pasta
A legenda detém, atualmente, o comando da Secretaria de Governo, com a deputada licenciada Flávia Arruda (foto). A ministra pretende tentar em outubro uma vaga no Senado.
Vagas
Além de Flávia Arruda, devem sair do governo para tentar a sorte nas urnas os ministros Tarcísio de Freitas, Marcelo Queiroga, Tereza Cristina, Fábio Faria, Rogério Marinho, Onyx Lorenzoni, João Roma, Anderson Torres, Gilson Machado, Marcos Pontes e Damares Alves.
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Fonte: O Estado de S. Paulo
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Bolsonaro diz que não trabalhou durante pandemia porque STF não deixou
Questionado sobre declaração de Moro, pré-candidato à Presidência pelo Podemos, que atribuiu ao presidente a ascensão da candidatura de Lula, chefe do Executivo afirmou ter sido o Supremo o responsável por tirar petista da prisão
O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a alegar nesta quarta-feira (12/1) que o governo não pôde trabalhar durante a pandemia porque o Supremo Tribunal Federal (STF) interferiu no poder de decisão de sua gestão em relação à covid-19. "A cada 10 decisões do STF, nove são contrárias", justificou. A declaração ocorreu durante entrevista à Gazeta do Brasil.
"De três anos de governo, dois são de guerra na questão da covid. Não pudemos trabalhar. Você vê: a cada 10 decisões do STF, nove são contrárias à gente, e são propostas por partidos que não têm voto dentro do parlamento."
Bolsonaro completou dizendo que a Corte 'interfere em tudo' e exemplificou com a derrubada da resolução que previa imposto zero para importar armas. A decisão do ministro Edson Fachin, do STF, ocorreu em dezembro e apontava que "o risco de um aumento dramático da circulação de armas de fogo, motivado pela indução causada por fatores de ordem econômica, parece suficiente para que a projeção do decurso da ação justifique o deferimento da medida liminar".
O presidente também falou da "dificuldade" para nomear o novo diretor-geral da Polícia Federal. "Interferem em tudo, até em uma coisa simples. Eu resolvi zerar o IPI de importação de armas. Um partido pequeno vai no Supremo e, lá, um ministro de forma monocrática (decide): "Não, não pode zerar o imposto de importação de armas". E assim tem agido o Supremo contra a gente. Em nove a cada 10 ações que entram lá. Eu tenho dificuldade até para nomear um assessor para ser o diretor-geral da PF. São mais de 120 ações. Uma por semana, ao longo desses três anos. E nós conseguimos manter a economia viva, (mesmo) com a política do 'fique em casa que a economia a gente vê depois', com os poderes dados pelo STF por governadores e prefeitos para cada um conduzir a política que eles achavam melhor para combater o vírus. Da nossa parte, coube (dar) o dinheiro para governadores e prefeitos", completou.
Em janeiro do ano passado após o presidente dar declarações semelhantes, a Corte rebateu o presidente e destacou que a decisão tomada sobre a competência da União, estados e municípios na adoção de medidas sanitárias não impedia que o governo federal atuasse no combate à pandemia.
Em nota, a mais alta Corte de Justiça do país afirmou que decidiu "que União, estados, Distrito Federal e municípios têm competência concorrente na área da saúde pública para realizar ações de mitigação dos impactos do novo coronavírus". O Supremo destacou que esse entendimento foi reafirmado pelos ministros em diversas ações e julgamentos realizados. O tribunal destacou ainda que, "conforme as decisões, é responsabilidade de todos os entes da Federação adotarem medidas em benefício da população brasileira no que se refere à pandemia".
STF e Lula
Questionado sobre uma declaração do ex-juiz Sergio Moro (Podemos), pré-candidato à Presidência, que atribuiu ao presidente a ascensão da candidatura de Lula, Bolsonaro voltou a culpabilizar o STF, afirmando ter sido a Corte quem tirou o petista da prisão. E aproveitou para alfinetar seu opositor. "Quem foi que tirou o Lula da cadeia? Fui eu quem tirou o Lula da cadeia? Foi o Supremo Tribunal Federal. Quando se fala em PT, o Lula tem falado abertamente. Nós estamos conversando aqui, agora, mas com o Lula presidente, podemos não mais conversar. Você, como repórter, e eu, como ex-presidente. Porque ele fala abertamente que vai controlar a mídia, inclusive a mídia social", concluiu.
Fonte: Correio Braziliense
https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/01/4976943-bolsonaro-diz-que-nao-trabalhou-durante-pandemia-porque-stf-nao-deixou.html
Bolsonaro chama Flavio Dino de gordo em nova declaração preconceituosa
Redação / Folha de S. Paulo
Em mais uma fala preconceituosa, o presidente Jair Bolsonaro (PL) se referiu ao governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), como gordo e gordinho.
Em conversa com apoiadores na chegada ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro respondeu a uma simpatizante que disse ser do Maranhão.
"[Um estado] governo do Partido Comunista do Brasil. Já repararam que os países comunistas geralmente o chefe é gordo? Coreia do Norte? Venezuela? É gordinho, né? Maranhão", disse Bolsonaro.
Dino reagiu e, nas redes sociais, chamou a fala de Bolsonaro de "piada" sem graça e repetida. "Compatível com a notória escassez de neurônios do indivíduo", escreveu.
"Ao bisonho e fracassado 'piadista', faço uma conclamação: VAI TRABALHAR. Os problemas federais são cada dia mais graves: inflação, desemprego, aumento dos combustíveis etc.", completou o governador.
Embora tenha sido eleito pelo PC do B, Dino migrou para o PSB em junho de 2021. Ele é governador reeleito do Maranhão e um dos mais ativos críticos do presidente da República.
Bolsonaro já chamou Dino de "gordo" em outras ocasiões, em declarações preconceituosas.
O presidente tem um histórico de falas preconceituosas. Em janeiro 2020, durante transmissão em suas redes sociais, ele mirou os indígenas. "Com toda a certeza, o índio mudou. Está evoluindo. Cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós", afirmou.
Antes disso, em ataque a uma jornalista, Bolsonaro acabou acertando outro alvo: a comunidade de japoneses e descendentes no Brasil.
Ao criticar Thaís Oyama, que havia lançado um livro sobre o primeiro ano do presidente no Palácio do Planalto, Bolsonaro afirmou que, no Japão, ela morreria de fome com jornalismo. Descendente de japoneses, Thaís é brasileira, o que não impediu o presidente de afirmar não saber o que ela faz no Brasil.1 10
RELEMBRE ALGUMAS FRASES PRECONCEITUOSAS DO PRESIDENTE:
"Com toda a certeza, o índio mudou. Está evoluindo. Cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós"
em jan.2020, durante live em rede social
"Esse é o livro dessa japonesa, que eu não sei o que faz no Brasil, que faz agora contra o governo"
em jan.2020, referindo-se à jornalista Thaís Oyama, que é autora do livro "Tormenta" e brasileira
"Daqueles governadores de paraíba, o pior é o do Maranhão [Flávio Dino, do PC do B]. Tem que ter nada com esse cara"
em jul.2019, em conversa com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, durante café da manhã com jornalistas
"Tudo pequenininho aí?"
em mai.2019, ao posar para foto com estrangeiro de feição asiática; presidente fez gesto com os dedos, em insinuação sobre órgão sexual
"Quem quiser vir aqui [ao Brasil] fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. O Brasil não pode ser um país de turismo gay. Temos famílias"
em abr.2019, durante café da manhã com jornalistas
"Podemos perdoar, mas não podemos esquecer [o Holocausto]. E é minha essa frase: quem esquece seu passado está condenado a não ter futuro"
em abr.2019, durante encontro com evangélicos no Rio de Janeiro
"A criação de campos de refugiados, talvez, para atender aos venezuelanos que fogem da ditadura de seu país. Porque do jeito que estão fugindo da fome e da ditadura, tem gente também que nós não queremos no Brasil"
em nov.2018, já eleito presidente, durante evento militar no Rio de Janeiro
"No Japão tem pena de morte. Tinha um japa gordo, de uns 8 arrobas, que foi pego uns dez anos atrás botando gás sarin no metrô. Foi executado no ano passado"
em ago.2018, durante ato da campanha eleitoral no Rio de Janeiro
"Fui num quilombola em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava 7 arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais"
em abr.2017, na mesma palestra no Rio
"Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens. A quinta eu dei uma fraquejada e aí veio uma mulher"
em abr.2017, na mesma palestra no Rio
Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/01/bolsonaro-chama-flavio-dino-de-gordo-em-nova-declaracao-preconceituosa.shtml
Rejeição a Bolsonaro aumenta entre nível superior, mulheres e jovens
Rosana Hessel / Correio Braziliense
Apesar de a rejeição média do presidente Jair Bolsonaro (PL), de 50%, não ter sofrido alteração entre dezembro e janeiro, a avaliação negativa do chefe do Executivo cresceu entre as pessoas com nível superior, mulheres e jovens, conforme nova edição da Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (12/01).
Os dados da primeira consulta eleitoral a ser divulgada em 2022, realizada pela Quaest em parceria com a Genial Investimentos, mostram que a rejeição a Bolsonaro entre as mulheres passou de 50%, em dezembro, para 54%, neste mês. Já entre os homens, recuou de 49% para 44%. A avaliação média positiva de Bolsonaro permanece entre 20% e 21%.
A avaliação negativa do presidente entre pessoas com nível superior incompleto ou acima, um dos principais redutos de apoiadores do ex-capitão, também apresentou aumento, passando de 49% para 54%, entre dezembro e janeiro. Nas demais categorias, o percentual de rejeição não sofreu alteração, permanecendo em 49%, entre os eleitores com ensino médio, e em 50%, entre os que possuem instrução até o ensino fundamental.
A rejeição do chefe do Executivo entre os eleitores de 16 a 24 anos também apresentou elevação, passando de 52%, em dezembro, para 55%. Enquanto isso, a avaliação negativa entre os eleitores com mais de 60 anos mostrou aumento, passando de 47% para 50%. Nas demais faixas etárias houve pouca alteração entre os percentuais que ficaram entre 49% e 50%, segundo o estudo.
Preocupação com pandemia e economia
Desde o início da pesquisa, em julho de 2021, houve um expressivo aumento na percepção dos eleitores de que o governo de Bolsonaro está pior do que o esperado, passando de 28% para 36% e a má condução da economia é onde está a maior percepção negativa. Cerca de 80% dos eleitores desaprovam a gestão de Bolsonaro no combate à inflação e 63% consideram ruim as ações do presidente na geração de emprego. Esse mesmo percentual de desaprovação, de 63%, é visto na gestão do governo no combate à covid-19.
O levantamento também relevou que os brasileiros voltaram a se preocupar com a pandemia do novo coronavírus. A pesquisa mostro que 28% dos entrevistados apontaram como o principal problema do país, contra 19% em dezembro. Esse temor começa a se refletir na avaliação do governo Bolsonaro e na popularidade do presidente. Embora os números da corrida ao Palácio do Planalto apresentem pouca alteração em relação a dezembro de 2021, é possível observar que as mulheres estão cada vez mais desgostosas com a atual gestão, segundo o estudo.
De acordo com o estudo, a decisão de Bolsonaro se manifestar contra à vacinação de crianças pode ter contribuído para o quadro de piora na avaliação do presidente, pois 72% dos entrevistados consideram que as crianças deveriam ser imunizadas já. Este número, porém, cai para 48% entre os eleitores de Jair Bolsonaro.
Além disso, 55% dos brasileiros consideram Bolsonaro pior do que esperavam – em julho de 2012, esse índice era de 48%. Reforçando um fenômeno que a pesquisa Genial/Quaest foi a primeira a apontar, a inflação aparece como o maior entrave do governo no momento. Entre os entrevistados, 73% avaliam de forma negativa a maneira como o presidente conduz o combate à inflação.
A PesquisaGenial/Quaest começou em julho de 2021 e se estenderá até novembro de 2022. No total, serão 24 rodadas de pesquisa nacional, cada uma delas implicando em duas mil coletas domiciliares face a face, realizadas nas 27 unidades da federação, abrangendo 123 municípios. As entrevistas são presenciais e o nível de confiança é de 95% e a margem de erro máxima é de 2%, para cima ou para baixo, em relação ao total da amostra. A apresentação do estudo será feita a partir das 10h pelo canal da Genial no Youtube.
Fonte: Correio Braziliense
https://blogs.correiobraziliense.com.br/vicente/rejeicao-a-bolsonaro-aumenta-entre-pessoas-com-nivel-superior-mulheres-e-jovens/
Elimar Nascimento: Representação e Democracia em Bernard Manin
Elimar Nascimento / Democracia e Novo Reformismo
Proveniente da nobre Escola Normal Superior (Paris), Bernard Manin, cientista político francês, teve sua tese de doutorado obtida a partir de trabalhos publicados. Na França isso é previsto e chama-se “Thèse de doctorat sur travaux”, como dizem os ingleses, “special form of Ph.D”. Atualmente é professor de ciência política na Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais em Paris e no Departamento de Política da Universidade de Nova Iorque. Já esteve algumas vezes no Brasil, inclusive na ANPOCS (Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Ciências Sociais), e tem artigos publicados por aqui.
O mais conhecido trabalho de Manin chama-se Principes du Gouvernement Représentatif (Paris: Calmann-Levy, 1995). O objeto do livro é desenhar a trajetória de construção do regime democrático no Ocidente, destacando seus dilemas e contradições. Embora o livro esteja dividido em seis capítulos, é possível dividi-lo em duas partes, e isso me interessa, pois é sobre a primeira que o presente artigo se concentra. Esta parte trata dos percalços da criação da democracia moderna, inicialmente denominada de governo representativo ou República. Ele descreve os debates e decisões produzidos nos movimentos que deram nascimento à democracia moderna (revolução inglesa, 1640/1688, independência americana, 1776/1787 e revolução francesa, 1789/1799), cotejando-a com a democracia de Atenas na Grécia Antiga, o trajeto dos procedimentos democráticos na Idade Média e Renascimento, sobretudo na península italiana, e o debate intelectual que vai dos séculos XVII ao XX.
A tese central dessa parte do livro de Manin é de que as democracias contemporâneas surgiram de uma forma de governo que seus fundadores opunham à democracia. James Madison, um dos autores da obra Os Federalistas, e considerado um dos fundadores da democracia norte-americana, tinha a opinião de que o povo era tecnicamente incapaz de se autogovernar e, por isso, o governo representativo era um sistema substancialmente diferente e superior ao governo democrático. O corpo de representantes eleitos para compor o governo era tido como um corpo de cidadãos com melhor capacidade de discernimento para conduzir os interesses do país; suas decisões eram mais condizentes com o bem público do que aquelas formuladas pelo próprio povo.
Dessa forma, os cidadãos eram tidos como competentes para escolher seus representantes, mas não para tomar as decisões de interesse público, ou seja, de seu próprio interesse. Na época, o sufrágio universal não existia, parte dos Estados Unidos era escravocrata e muitos dos dirigentes e presidentes americanos eram proprietários de escravos como o próprio Madison, presidente americano entre 1809 e 1817. Mulheres e escravos estavam excluídos do corpo político, assim como os mais pobres. O francês Emanuel Joseph Sieyès, político e escritor, que foi presidente da Assembleia Constituinte e um dos principais redatores da Constituição Francesa de 1791, defendia a mesma ideia, com a argumentação de que era necessária uma divisão de trabalho também na política, para poder se constituir uma classe política e de gestores públicos profissionais. Ambos defendiam a ideia de que o governo representativo não era uma modalidade de democracia, mas uma forma de governo essencialmente superior.
Desde seus primórdios o governo representativo esteve baseado em quatro princípios: a) os governantes são designados por eleições em intervalos regulares; b) os governantes, em suas decisões, possuem uma relativa independência em relação aos seus eleitores; c) por sua vez, os governados podem exprimir suas opiniões sem o controle dos governantes; e, d) as decisões políticas são submetidas à discussão.
No governo representativo, o povo tem o direito do voto e da manifestação de agrado ou desagrado em relação às decisões dos governantes. No limite, podem demandar sua remoção, mas essa é decidida não pelo povo, e sim por um corpo de eleitos, os membros do Parlamento.
Nesse tipo de governo, não cabe ao povo, reunido em assembleia, qualquer poder, ao inverso do que ocorria no berço original da democracia, Atenas. Os dois principais argumentos contrários à atribuição de poder ao povo reunido em assembleia eram: i) um de caráter político – não tinham condições de tomar as melhores decisões; e ii) outro de caráter técnico- era impossível reunir o povo em cidades, municípios e países de grandes populações. O primeiro baseava-se no princípio ideológico já citado – o povo não é apto a tomar as boas decisões de interesse público e, o segundo, era tecnicamente falso, pois as cidades, municípios e países podem ser divididos em circunscrições menores.
Vale a pena recordar como era o governo democrático de Atenas, criado por movimentos de reformas liderados, sucessivamente, por Sólon, Clístenes e Péricles. O sufrágio universal não existia, pois mulheres e escravos eram excluídos da Assembleia do Povo, Eclésia, composta apenas pelos homens nascidos em Atenas, com mais de 18 anos. De forma simples, a Assembleia do Povo aprovava as leis e elegia o Conselho dos Quinhentos, composta dos magistrados responsáveis pelas funções de gestão pública. Os procedimentos para preencher os diversos cargos na administração pública, de juízes a executivos, eram dois: o sorteio e a eleição.
Eram sorteadas apenas as pessoas que colocavam seu nome à disposição, indicadas pelas 139 circunscrições em que se dividia a cidade-estado de Atenas. Caso sorteadas, só podiam assumir o cargo se tivessem prestado o serviço militar, estivessem quites com os impostos, sem precedentes criminais e com pelo menos 30 anos. A maioria dos magistrados eram sorteados, e alguns eram votados. Neste caso, eram aqueles que ocupariam cargos que demandavam conhecimentos especiais, tais como o comando das tropas armadas ou a gestão das finanças públicas. Conhecimentos que não eram exigidos para os que tinham assento na Assembleia do Povo.
A qualquer momento, os magistrados, sorteados ou votados, poderiam ser removidos. Eles deveriam prestar contas de suas ações, podendo ser punidos caso agissem de forma incorreta. O princípio da rotatividade era observado. Não havia o direito de exercer a mesma função por mais de um ano. Alguns cargos eletivos, excepcionalmente, podiam ser reeleitos.
Todas as funções públicas eram remuneradas em função do trabalho realizado. Um aspecto interessante é que uma lei nova necessariamente eliminava uma velha.
Para os atenienses, era o sorteio que assegurava a todos aqueles que desejassem a possibilidade de participar diretamente da gestão pública, considerado o procedimento democrático por excelência. As eleições, tidas como um procedimento aristocrático, eram consideradas um mal necessário.
Os membros da Eclésia tinham consciência da contradição entre os princípios democráticos e os aristocráticos. Sabiam do risco da supervalorização de um dos dois procedimentos. Caso existisse apenas o sorteio, enfraqueceria a capacidade de gestão e defesa da cidade-estado; no caso de existirem apenas eleições, formava-se um governo de elite, pois as eleições preencheriam os cargos com indivíduos da elite.
Em Atenas antiga, todos os cidadãos deviam aprender a comandar e a obedecer. A liberdade democrática não consistia em obedecer a si mesmo, mas a outros que estavam em cargos de autoridade, os quais eles poderiam vir a ocupar no futuro. A rotatividade tinha um efeito educativo e político, pois criava uma situação em que era possível e prudente, para os governantes, escutarem o ponto de vista dos governados para tomar uma decisão.
O sorteio, a rotatividade, a revogabilidade e a prestação de contas eram mecanismos para impedir a formação de uma elite política que monopolizasse o poder. Fato que comprometeria a democracia.
O procedimento do sorteio persistiu na Idade Média e, sobretudo, no Renascimento, nas pequenas Repúblicas italianas, conforme Manin. Mesmo antes, segundo Políbio, o governo de Roma combinava traços monárquicos, aristocráticos e democráticos. Assim, segundo o historiador grego, o sorteio tinha, sobretudo, o efeito de criar a coesão social, tanto entre os ricos, quanto entre os pobres, por sua neutralidade. Por sua vez, as primeiras comunas italianas dos séculos XI e XII utilizavam o sorteio para nomear os magistrados. O sorteio servia para evitar o monopólio do poder por uma das facções. A preocupação de evitar a luta de facções era tanta que, para superar esse problema, algumas comunas dotaram-se de um magistrado superior, estrangeiro, responsável pelo Judiciário e pela segurança pública.
Florença e Veneza se destacaram no uso de procedimentos democráticos (sorteio e rotatividade), mas normalmente articulados aos procedimentos aristocráticos (eleições). Veneza adotou um sistema complexo e sutil de escolha de seus dirigentes. Sorteio para escolher os membros do comité que elegia os membros do Grande Conselho. Apresentados os candidatos para dirigentes ao Grande Conselho, votava-se imediatamente para impedir campanhas e pressões. Na República florentina, encontrava-se também a combinação do sorteio e das eleições que caracterizaram a democracia ateniense. Ainda no século XV, sob pressão do movimento popular, a península italiana viu as eleições serem abandonadas em favor do sorteio, considerado o procedimento realmente democrático.
Entre a experiência de Atenas e as revoluções democráticas na Inglaterra, Estados Unidos e França, muitos foram os momentos de debate sobre a melhor forma da escolha dos dirigentes – se a eleição ou o sorteio. Manin cita o historiador alemão radicado na Inglaterra, Nicolai Rubinstein, que em três artigos interessantes reconstitui em detalhe as flutuações e hesitações dos atores políticos sobre essa escolha.
As elites cultas que estabeleceram o Governo Representativo entre os séculos XVII/XVIII tinham conhecimento do debate entre eleições e sorteio. Portanto, a recusa do sorteio foi claramente uma forma de alijar o povo do processo decisório. O povo (restrito) votava para decidir qual dos grupos de elite deveriam ocupar o poder. Esse procedimento era considerado benéfico, pois assegurava a permanência das elites no poder. Os “pais fundadores” da democracia ocidental moderna proclamavam solenemente sua adesão à igualdade entre os homens (excluindo as mulheres e os escravos), mas não desistiam de garantir o controle do governo pelas elites.
Não se pode negar que houve movimentos políticos distintos ainda no século XVIII, em torno da formação do novo regime político. James Wilson, congressista norte americano, propôs, na Convenção de Filadélfia, eleger o presidente dos Estados Unidos por um colégio de eleitores, composto por sorteio entre os congressistas. Sem se esquecer que esse era composto exclusivamente por membros das elites, como o é, aliás, até hoje. Por sua vez, na França, um membro da Convenção, Montgilbert, em 1793, sugeriu substituir a eleição pelo sorteio, pois esse procedimento era mais igualitário. Ninguém lhe deu ouvidos.
Os argumentos ao final do século XVIII para não usar o sorteio, segundo Patrice Guéniffey, eram:
- 1 - Nos grandes Estados modernos a população é numerosa, heterogênea e dispersa em largos territórios, o que tornava impraticável o sorteio. Trata-se de um argumento capcioso. Na Inglaterra de 1754, havia 280 mil eleitores. Seria perfeitamente possível utilizar o sorteio por circunscrições, como aliás faziam os atenienses, para compor o parlamento ou as câmaras locais, que, por sua vez, elegeriam as autoridades locais e o primeiro ministro. Estes, nomeariam os membros do seu gabinete. Dessa forma, seria articulado aquilo que era presente em Roma: sorteio, eleição e nomeação.
- 2 - O sorteio não cria o sentimento de obrigação coletiva, possível no Parlamento, na medida em que todos os seus membros se conhecem, condição para que todos os cidadãos aceitem uma decisão na qual não tomaram parte. Argumento sofrível, pois em qualquer colegiado composto por sorteio ou não, seus membros tornam-se conhecidos e grupos se formarão em função de suas concepções de sociedade e interesses distintos, senão opostos.
- 3 - O terceiro argumento é de que o sorteio exige que as funções políticas sejam simples o suficiente para não demandarem competências técnicas específicas, o que implicaria uma escolaridade de qualidade comum a todos os seus membros. Há uma falácia fatual, pois nos Parlamentos modernos, particularmente em países de pouca escolaridade, os parlamentares são muito desiguais técnica e culturalmente, e alguns são desprovidos de conhecimentos aprofundados sobre questões de ordem pública, desde empresários a doutores. Para suprir essa deficiência, os parlamentos detêm corpo técnico de assessoria. Deputados e senadores tomam decisões motivados por interesses corporativos ou pessoais e embasados em manifestações das assessorias técnicas. Ministros, em alguns países, não têm a mínima ideia do que seja o interesse nacional. Tendo um presidente como Trump ou Bolsonaro, é difícil sustentar que os que ocupam o cargo máximo de uma Nação, por meio de eleições, sejam pessoas preparadas.
O maior argumento para não usar o sorteio reside no fato de que este não faz intervir a vontade humana e, por isso, não produz o consentimento. O que para Manin significa que o sorteio não é um procedimento de legitimação do poder, é apenas um procedimento de seleção de autoridades e repartição de cargos. O que não ocorre com as eleições, pois elas selecionam os titulares dos cargos e legitimam seu poder, pelo fato de serem escolhidos pelo povo, em plena liberdade de expressão; criam um sentimento de compromisso do representante com seus eleitores. Infelizmente, a realidade não parece corroborar plenamente este belo argumento: a maior crise política atualmente reside no fato de que os eleitores não reconhecem nos eleitos seus legítimos representantes, pois eles decidem livremente, sem qualquer consulta prévia e sem compromisso com os interesses de seus eleitores. No Governo Representativo não existe o mandato imperativo, assim os representantes não têm compromisso com os seus eleitores. Mandato imperativo que, segundo os especialistas, seria impossível em tempos de tão rápidas mudanças.
O argumento para produzir a exclusão entre os “iguais” era de que os eleitores e, sobretudo os eleitos, tinham que deter propriedades ou renda, pois não se pode confiar a riqueza da nação a alguém que não tem conhecimento a respeito. Madison era peremptório: os proprietários de terra eram os guardiões mais seguros da liberdade da República. Esse princípio se materializava na adoção do princípio eleitoral censitário. Eleitores e eleitos tinham que deter propriedade e/ou renda.
Para os federalistas, os ricos no poder era uma barreira à corrupção. Nos dias de hoje, esse argumento só seria aceito como piada em mesa de bar. O peso ideológico da época cobra o seu preço quando vistos os argumentos nos dias de hoje. Os federalistas acreditavam que a existência de eleições regulares, em regime de liberdade, e o desejo dos políticos em se manterem no poder, garantiriam seu devotamento aos interesses populares. Algo que resta a provar.
O caráter aristocrático das eleições era uma ideia adquirida e assentada em diversos pensadores ao longo da história humana no Ocidente. Aristóteles, Montesquieu e Rousseau consideravam as eleições intrinsicamente, independente de condições técnicas, aristocráticas e não democráticas. Para Aristóteles, o melhor regime combinava o sorteio (democrático), com as eleições (aristocrático), pois não se pode considerar os humanos iguais sob todos os pontos de vista.
O governo representativo construiu sua tradição. Hobbes foi um apóstolo da representação. Para ele, o povo não existe como tal enquanto não tem um representante, antes de ter um líder é uma soma de indivíduos. Com um representante, ele se torna uma entidade. Outro defensor teórico da representação foi Locke, para quem o princípio da maioria tem um cunho técnico – é preciso produzir decisões na assembleia e não apenas discussões. Não tem a ver com a verdade nem com a melhor decisão, mas com o prazo que o ato de governar demanda. Sieyès, Madison e Burke entre outros, defendiam o princípio da representação em função da diversidade e mesmo heterogeneidade da população das nações modernas. Assim, a representação conseguiria criar uma identidade acima da diversidade, criar uma unidade.
Outro argumento, difundido a partir de Grotius e Pufendorf, entre outros, defendia que o consentimento acordado é suficiente para estabelecer um governo legítimo. O povo, segundo esses autores, pode alienar-se expressamente do direito de se governar ele mesmo. Essa alienação é fonte de legitimidade válida e suficiente, pois livremente acordada.
A preocupação de compensar os riscos do procedimento eleitoral foi também uma constante. Ainda antes da revolução inglesa, Locke falava da regularidade das eleições, enquanto o custo das eleições era tema pouco abordado, com exceção de Stuart Mill. Aliás, este propõe limites ao Parlamento, pois sugere que não faça proposições, mas apenas as discuta, aprove ou rejeite. As proposições deveriam ser feitas por uma Comissão especial de experts.
A preocupação dos fundadores do GR com a correspondência entre as decisões dos representantes e os interesses populares era uma constante. Para isso foi dada uma ênfase especial ao direito igual de voto aos cidadãos, ao valor da discussão pública na tomada de decisões e à regularidade das eleições. Ainda no século XX, Dahl defenderá que essa regularidade torna os representantes responsivos e sensíveis às demandas dos eleitores; funciona como forma de ligar governante e governados. Uma expressão retrospectiva, mas que permite aos governantes antecipar a reação do eleitorado no processo eleitoral seguinte.
O triunfo das eleições deve-se em grande parte à vitória da concepção moderna do direito natural, que prega: 1) todos os humanos têm um elemento essencial de igualdade: liberdade, razão ou consciência moral; 2) múltiplas desigualdades separam os homens (talento, força, virtude, riqueza) mas, nenhuma dessas desigualdades confere o direito de governar os outros. Contudo, esse direito pode sair de outro lugar: o livre consentimento daqueles que vão ser governados.
Dessa forma, o caráter aristocrático é realocado no campo democrático, pois basta o consentimento do eleitor, em conformidade com o direito natural moderno. Assim, o governo representativo, mesmo não sendo um regime em que a coletividade se governa, mas um sistema no qual as decisões do governo são submetidas ao conhecimento e julgamento públicos, transformou-se, ao longo do tempo, no que hoje conhecemos como democracia representativa ou liberal.
*Sociólogo, doutor em Sociologia, professor associado II da Universidade de Brasília, ex- diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável/UnB (2007/2011).
Fonte: Democracia e Novo Reformismo
https://gilvanmelo.blogspot.com/2022/01/paulo-delgado-o-que-podemos-esperar.html
Guilherme Amado: Primeira pesquisa de 2022 aponta vitória de Lula no 1º turno
Lucas Marchesini / Metrópoles
A primeira pesquisa de intenção de voto para presidente do ano eleitoral, realizada pela Quaest e pela Genial Investimentos, aponta uma vitória já no primeiro turno do ex-presidente Lula.
No levantamento, ele tem 45% das intenções de voto no cenário estimulado, onde opções são apresentadas ao entrevistado. Em segundo lugar está o presidente Jair Bolsonaro, com 23%, seguido por Sergio Moro, com 9%, Ciro Gomes, com 5%, João Doria, com 3%, e Simone Tebet, com 1%. Rodrigo Pacheco aparece com zero.
Na comparação com a última pesquisa, realizada em dezembro de 2021, todos os principais candidatos tiveram queda na intenção de voto dentro da margem de erro, que é de 2 pontos percentuais. Essa foi a redução nas intenções de voto em Lula, Bolsonaro e Ciro Gomes entre as duas rodadas de perguntas. Já Sergio Moro teve uma redução de 1 ponto percentual.
Nos cenários de segundo turno, o ex-presidente Lula vence em todas as simulações. Já Bolsonaro não vence em nenhuma. No caso do presidente, foram testadas as possibilidades de uma segunda volta contra Lula, na qual Bolsonaro teria 30% dos votos contra 54% do petista; Moro (36% para o ex-juiz x 30% para Bolsonaro) e Ciro Gomes (39% para o candidato do PDT x 32% para Bolsonaro).
O cenário preocupante para o atual presidente fica pior quando o entrevistado é questionado se conhece o candidato e se poderia votar nele. Nesse caso, 66% dos entrevistados responderam que conhecem Bolsonaro e não votariam nele. Lula teve 43% de respostas semelhantes e ficou atrás de Doria (60%), Moro (59%) e Ciro Gomes (58%).
A percepção negativa do presidente cresceu até mesmo entre a sua base de apoiadores. Em julho, 28% dos seus eleitores viam um governo pior do que o esperado. Agora, são 36%. Já o percentual daqueles que acham o desempenho de Bolsonaro melhor do que o antecipado caiu de 35% para 29%.
A pesquisa entrevistou 2 mil pessoas em 123 municípios localizados em todas as unidades da federação. O nível de confiança é de 95%.
Fonte: Metrópoles
https://www.metropoles.com/colunas/guilherme-amado/primeira-pesquisa-eleitoral-de-2022-aponta-vitoria-de-lula-no-1o-turno
Luiz Carlos Azedo: Projeto de Lula é vencer as eleições no primeiro turno
Luiz Carlos Azedo / Nas Entrelinhas / Correio Braziliense
Ninguém tem o direito de dizer que se enganou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou de todas as disputas presidenciais desde 1989, quando concorreu pela primeira vez, até a sua reeleição, em 2006. Em 2018, foi afastado do pleito por uma condenação em segunda instância, que resultou também na sua prisão por 580 dias, para cumprir a pena de oito anos, 10 meses e 20 dias à qual fora condenado pela Operação Lava-Jato no caso do triplex de Guarujá. Lula foi solto logo após o Supremo Tribunal Federal (STF) revogar o dispositivo que determina a execução de pena após condenação em segunda instância, em 8 de março do ano passado, decisão seguida da anulação de sua condenação, por não respeitar o princípio do juiz natural, que seria o foro do Distrito Federal e não o de Curitiba, como sempre afirmou sua defesa.
No dia seguinte, Lula já era o candidato favorito nas pesquisas de opinião, a mesma situação em que se encontrava quando foi preso, em 7 de abril de 2018. Desde então, vem se mantendo como líder absoluto na disputa, com possibilidade estatística de vencer as eleições no primeiro turno, se a votação fosse hoje, o que somente ocorreu nas eleições de 1994 e 1998, com Fernando Henrique Cardoso, na onda do Plano Real. Esse favoritismo decorre, em parte, do fracasso do governo do presidente Jair Bolsonaro, cada vez mais de difícil reversão, devido à postura do presidente da República durante a pandemia, ao fracasso da política econômica do ministro da Economia, Paulo Guedes, e à ameaça à democracia que, para muitos, a sua reeleição representaria.
O ex-presidente Lula tem atuado no sentido de evitar as fricções comuns às pré-campanhas eleitorais, resgatar suas velhas alianças regionais e fugir ao confronto com eventuais adversários, tanto o presidente Bolsonaro quanto seus concorrentes de oposição, principalmente Ciro Gomes (PDT) e o próprio Sergio Moro (Podemos). O petista fatura o recall de ex-presidente da República que deixou o governo com uma taxa de crescimento da ordem de 8% do PIB, altos índices de popularidade e ainda conseguiu eleger sua sucessora, a ex-presidente Dilma Rousseff, que, na campanha eleitoral, era comparada a um “poste de saias”. A vida de Lula somente se complicou após deixar o poder, com o escândalo do Petrolão, investigado pela Operação Lava-jato, em cujo inquérito foi arrolado, e devido ao fracasso econômico e ao isolamento político do governo Dilma, depois da reeleição, em 2014.
De certa forma, a pré-candidatura de Lula é marcada por esses acontecimentos, ou seja, isso explica muita coisa, da busca aos velhos aliados do MDB e do Centrão ao distanciamento em relação à ex-presidente Dilma, que está quieta no seu canto, em Porto Alegre. Em torno de Lula formou-se uma frente de esquerda, nucleada por PT, PSB e PCdoB, os partidos da antiga Frente Popular. Com as mudanças ocorridas na legislação partidária, o PT tenta viabilizar uma federação de esquerda nos moldes da Frente Ampla Uruguaia, que é o mais bem-sucedido e perene bloco de alianças políticas de esquerda do Cone Sul, integrado à época por comunistas, socialistas, democrata-cristãos e dissidentes dos partidos Colorado e Nacional.
Evitar polêmicas
Fundada em 1971, em torno da candidatura de Líber Seregni à presidência uruguaia, a frente foi posta na ilegalidade com o golpe de Estado de junho de 1973, inclusive com a prisão de seu candidato. Com seus principais líderes no exílio, a frente foi mantida, mesmo na clandestinidade, emergindo como força hegemônica no Uruguai em 2004, com a eleição do presidente Tabaré Vázquez; José Mujica, em 2009; e, novamente, Tabaré Vázquez, em 2014. Após 15 anos no poder, a esquerda foi derrotada por Luís Lacalle Pou, do tradicional Partido Nacional, que governa o Uruguai desde 2020.
Para entender a lógica da pré-candidatura de Lula, é preciso levar em conta as lideranças e os militantes petistas que não se envolveram com os escândalos dos governos Lula e Dilma, ou seja, a ala esquerda da legenda, que, depois da Lava-Jato, passou a ter hegemonia nas suas decisões. Esses setores são contrários à ampliação das alianças ao centro, querem reverter a reforma trabalhista e defendem um programa econômico desenvolvimentista. Vem daí a resistência pública à presença do ex-governador tucano Geraldo Alckmin na chapa de Lula, como seu candidato a vice, bem como a defesa intransigente da candidatura do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad ao Palácio dos Bandeirantes.
Esses setores acreditam que uma vitória de Lula no primeiro turno abriria caminho para um programa de governo mais progressista e uma mudança de correlação de forças no Congresso que lhe fosse favorável, até a convocação de uma Constituinte. Como essa postura afasta possíveis aliados, Lula vem evitando debater temas econômicos. Sua declaração a favor da revogação da reforma trabalhista, por exemplo, gerou forte reação dos setores empresariais e sofreu duros ataques dos demais candidatos de oposição. Entretanto, o que importa, no primeiro turno, é o engajamento entusiasmado dos militantes de esquerda e dos sindicatos de trabalhadores na sua campanha. Se houver segundo turno, a conversa muda.
Lula lidera popularidade digital; Bolsonaro cai com folgas
Carolina Linhares / Folha de S. Paulo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terminou o ano de 2021 à frente de seu rival Jair Bolsonaro (PL) em termos de popularidade digital.
O presidente variou nos primeiros dias de 2022, perdendo pontos nas redes com as folgas em Santa Catarina, mas recuperando posições a partir da internação hospitalar em São Paulo.
Na maior parte do ano, contudo, Bolsonaro foi quem liderou o IPD (Índice de Popularidade Digital), medido pela consultoria Quaest, o que confirma a capacidade e expertise do bolsonarismo de engajar na internet.
Lula, que está em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais de intenção de voto para a Presidência da República, chegou a ultrapassar a popularidade digital de Bolsonaro em curtos períodos e, desde seu giro pela Europa em novembro, assumiu a dianteira.
Em dezembro, o jantar que reuniu Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido), seu possível vice, também foi bem recebido pelos internautas, o que contribuiu para que o petista ganhasse pontos no IPD.
Já a internação de Bolsonaro no último dia 3 serviu para aumentar sua popularidade nas redes, que vinha em baixa em meio ao desgaste dos dias que passou em Santa Catarina —o presidente manteve a folga apesar das fortes chuvas na Bahia.
Bolsonaro deu entrada no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, após uma obstrução intestinal causada por um camarão não mastigado no dia anterior. O quadro está relacionado à facada sofrida pelo presidente durante a campanha eleitoral de 2018.
Como mostrou a Folha, a partir da internação, os filhos e aliados de Bolsonaro passaram a relembrar o atentado nas redes sociais, além de pedir por orações. O presidente negou fazer uso eleitoral de sua questão de saúde, mas bolsonaristas creem que a facada será explorada na eleição deste ano.
É a segunda vez que uma internação por obstrução intestinal alavanca o IPD de Bolsonaro. Em julho, o presidente subiu cerca de 25 pontos devido ao problema de saúde, num contexto de desgaste por acusações de corrupção na CPI da Covid e protestos de rua da oposição.
Desta vez, o IPD de Bolsonaro, que estava na casa dos 40 pontos, chegou a 54 nos dias de internação.
"A recuperação de Bolsonaro no IPD foi menor do que em julho. Ou seja, essa estratégia de tentar alavancar popularidade a partir de um fato real e lamentável, que foi a facada, vai perdendo força", afirma o cientista político Felipe Nunes, que é diretor da Quaest e responsável pelo IPD.
Nesta segunda-feira (10), Bolsonaro tinha 52 pontos no IPD, contra 60,3 de Lula. Ciro Gomes (PDT) está em terceiro, com 24,6 pontos, seguido de Sergio Moro (Podemos), com 18,8. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), marcou 17 pontos, enquanto Felipe d'Ávila (Novo) chegou a 14,4, e Rodrigo Pacheco (PSD) teve 11 pontos.
O IPD mostra ainda que as redes sociais reagem mal em relação às folgas do presidente. Bolsonaro viajou a São Francisco do Sul (SC) no último dia (27) para passar o Réveillon com a primeira-dama Michelle e a filha mais nova, Laura. Antes do Natal, ficou no Forte dos Andradas, em Guarujá (SP), entre os dias 17 e 23.
As cenas de descanso na praia e os passeios de moto aquática chegaram a constranger aliados e membros do governo federal. A hashtag #BolsonaroVagabundo entrou na lista de "assunto do momento" do Twitter.
"Fizemos coisas fantásticas ao longo desses dias que dificilmente outro governo estaria fazendo. O presidente não tem férias. É maldoso quem fala que estou de férias. Eu dou minhas fugidas de jet ski. Dou lá uns cavalos de pau no Beto Carrero", disse Bolsonaro a respeito da folga.
A métrica do IPD avalia, desde 2019, o desempenho de personalidades da política nacional nas plataformas Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, Wikipedia e Google. A performance é medida em uma escala de 0 a 100, na qual o maior valor representa o máximo de popularidade.
São monitoradas seis dimensões nas redes: fama (número de seguidores), engajamento (comentários e curtidas por postagem), mobilização (compartilhamento das postagens), valência (reações positivas e negativas às postagens), presença (número de redes sociais em que a pessoa está ativa) e interesse (volume de buscas no Google, YouTube e Wikipedia).
Na opinião do diretor da Quaest, a mudança na configuração do gráfico do IPD ao longo do ano mostra que "a internet aos poucos vai se aproximando da opinião pública não digital", considerando que Lula lidera as pesquisas eleitorais e que Bolsonaro tem um governo mal avaliado –53% de reprovação segundo pesquisa Datafolha de dezembro.
Em relação a Lula, Nunes aponta que a aliança com Alckmin foi bem recebida em sua base.
"A internet parece entender ser um gesto que amplia a capacidade de diálogo do lulismo com outros setores, o que gera uma reputação positiva. Alckmin é a ‘carta ao povo brasileiro’, a personificação de que Lula pretende fazer um governo de conciliação e não de revanchismo", avalia Nunes.
O cientista político chama atenção para o fato de que Lula iniciou o ano muito distante de Bolsonaro no ranking e conseguiu avançar –ao contrário do que aconteceu em 2019 e 2020, quando o presidente liderou isolado.
"Lula adaptou bem sua estratégia digital e passou a competir em vários momentos em pé de igualdade com o bolsonarismo. É uma vantagem importante para Lula", resume.
Nunes afirma que o petista apostou em construir uma imagem positiva, buscando satisfazer a opinião pública ao falar de pandemia, vacinação, inflação, fome e miséria. Além disso, buscou, por meio de viagens, retomar a boa imagem do Brasil no exterior.
Ainda assim, Bolsonaro segue sendo o político com maior capacidade de capitalizar nas redes.
"Ele é capaz de gerar comentários positivos a partir de eventos, como as motociatas ou o 7 de Setembro. É um ator político de mobilização, é isso que caracteriza o bolsonarismo e por isso ele tem essa dianteira importante no IPD. Mas 2021 mostrou que o presidente pode estar perdendo esse ativo", pontua Nunes.
Isso porque Bolsonaro "continua apostando em pautas que foram ruins para ele, como falar contra a vacinação de crianças", resume o cientista político.
Outro fator que explica a queda de Bolsonaro no IPD é a mudança de postura depois do 7 de Setembro. Após inflamar a base com ameaças autoritárias, o presidente voltou atrás nos ataques aos demais Poderes a partir de uma carta mediada pelo ex-presidente Michel Temer (MDB).
Como o engajamento e a mobilização dos bolsonaristas dependem de polêmicas, a popularidade digital de Bolsonaro caiu de patamar. "Ao diminuir sua presença no debate político cotidiano, Bolsonaro perde força na reputação digital. Sem as polêmicas, a imagem do presidente tende a ser fraca porque sua gestão é fraca", diz Nunes.
Os demais candidatos à Presidência da República aparecem bem abaixo de Bolsonaro e Lula no IPD, o que reflete a esperada polarização nas eleições deste ano e as próprias pesquisas eleitorais, em que a terceira via também ocupa um segundo pelotão de intenção de votos.
Na pesquisa Datafolha de dezembro, Lula tem 48% das intenções de votos, seguido por Bolsonaro, com 22%. Moro tem 9%, Ciro alcança 7%, e Doria, 4%. Felipe d'Ávila não pontuou.
O ex-juiz da Lava Jato cresceu no IPD a partir da oficialização de sua entrada na corrida para a Presidência por meio da filiação ao Podemos, em novembro.
Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/01/lula-lidera-popularidade-digital-bolsonaro-cai-com-folgas-e-sobe-com-internacao.shtml