Day: março 26, 2020
RPD || Joan del Alcázar: Covid-19. Nem tudo é terrível nesses tempos difíceis
Estamos vivendo dias complicados. Abriram-nos imensa janela para o desconhecido, o impensável, o inesperado, há não mais do que um par de meses. Não é uma ameaça tangível, como outras que conhecemos. Não temos experiência alguma na gestão de uma pandemia virótica, que pensávamos tivesse sido desterrada do mundo desenvolvido, caso tivesse tido origem em países pobres e atrasados.
Pois não foi isso. Há poucas semanas tínhamos programado viagens de férias ou a trabalho; só esperávamos o início das festas populares, dessas que atraem multidões, ou simplesmente anotávamos na agenda dias de descanso e deleite. E, de repente, de golpe, tudo voou pelos ares. O país entra em estado de alarme, as cifras de contágio crescem, as decisões das autoridades têm de ser renovadas dia após dia, nossa vida cotidiana se põe de cabeça para baixo, fecham-se restaurantes, cafés, cinemas, teatros e museus. Os centros educativos, do pré-escolar às universidades, cerram as portas sine die e nos ordenam a permanecer em casa, para evitar o contágio e a transmissão do vírus. Todas, absolutamente todas, as preocupações que polarizam a vida pública do país foram relegadas ao escaninho dos problemas secundários.
Descobrimos quantas inércias e quantos protocolos tivemos de abandonar. A vida social se reduziu ao máximo. Não é só que tivemos de deixar de nos beijar e abraçar; que passamos a nos cumprimentar, como os japoneses, sempre tão cerimoniosos e distantes. Agora já nem podemos sair à rua, a não ser por causa muito justificada.
São tempos difíceis e, ao que tudo indica, duradouros. Não há previsões confiáveis, nem prazos a cumprir. Hoje por hoje, trata-se de resistir, de proteger os outros e de nos proteger, de cuidar para não colapsar os serviços sanitários e de confiar nas autoridades que estão sendo orientadas por critérios e relatórios dos peritos. Tudo parece mal, terrível, insuportável. Mas não é.
Nem tanto, pelo menos. Como recordava uma dessas ideias que circulam pelas redes sociais: “A nossos pais e a nossos avós, mandavam à guerra; a nós, nos mandam para casa. Calma”. Isso, calma e paciência.
Além disso, nem tudo é terrível e negativo. Há também fatos e razões que são, sem dúvida, positivos e merecem alguma reflexão nesse período de resistência em que estamos encalacrados. Vejamos alguns:
1. Quando detectaram os primeiros casos do que depois seria o AIDS, em 1981, tardaram dois anos para identificar o vírus. Os primeiros casos de Covid19 foram detectados no último dia de 2019 e, em 7 de janeiro de 2020, já se sabia que vírus era. Mais ainda: o genoma do vírus estava disponível três dias depois. Hoje, passaram-se escassos dois meses.
2. A comunidade científica já publicou mais de 160 artigos acadêmicos de mais de 700 pesquisadores de todo o planeta sobre tudo que envolve o Covid19. E, mesmo que tardem meses para poder utilizar-se de maneira corrente, já existem protótipos de vacinas.
3. Sabemos que 80% dos contágios têm índice leve de gravidade, e que a maioria do infectados se curam.
4. Confirmamos uma teoria em que os psicólogos sociais vêm trabalhando há tempos: o interesse coletivo mobiliza mais e melhor do que o individual. Isto é, diante de um risco, há muitos indivíduos que estão dispostos a assumi-lo, mas não tantos se essa atitude acarreta riscos para os outros. Temos mais cuidados se nosso comportamento prejudica os outros que se os afetados somos nós mesmos. Como se sabe, dirigir um carro com crianças a bordo nos faz mais conservadores e seguros ao volante.
5. É verdade que verificamos comportamentos individuais ou de grupo que são maus e reprováveis, em graus distintos. Outros merecem mais o qualificativo de comportamentos estúpidos, próprios de pessoas de baixa capacidade intelectual e humana. Mas tomamos, ao mesmo tempo, conhecimento de iniciativas de solidariedade, ajuda e cooperação especialmente com os mais frágeis. Desde os vizinhos que organizaram a atenção a anciãos que vivem sós até as redes que se ocuparam de crianças, cujos pais tinham de sair de casa para ir trabalhar.
6. Os meios de comunicação deixaram de lado, em sua maioria, o sensacionalismo (tremendismo), com as exceções habituais, que nem vale a pena mencionar. Tem sido frequente encontrar naqueles meios recomendações e protocolos de comportamento para o público em geral, informações de serviço úteis e necessárias nesses dias.
7. Capítulo especial merecem os profissionais da saúde pública. Sabemos em que condições estão trabalhando, sob que pressão e em que níveis de risco. É em momentos como o atual que comprovamos a qualidade da inversão dos recursos públicos nas instalações sanitárias, na formação e sentido do dever dos funcionários dos serviços de saúde, desde o pessoal de apoio e de limpeza aos auxiliares, os enfermeiros e os médicos. Conviria que, passado o tsunami, não nos esqueçamos deles e seu desempenho titânico.
Não precisamos nos exceder. O tema não se conclui hoje, e voltaremos a escrever sobre ele. Lembrem que a palavra de ordem é resistir para vencer. Não será fácil, mas, me recordava um amigo, não será fácil, mas é seguro.
The DA Guide To CBD Drug Interactions
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Coronavírus agrava crise do governo Bolsonaro, diz editorial da revista Política Democrática
Publicação da FAP critica posturas do presidente do Brasil em meio à pandemia do Covid-19
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
A pandemia do coronavírus aumenta a crise de governabilidade do presidente Jair Bolsonaro, que acumula evidências de escassa capacidade para o diálogo e a construção de consensos nos foros políticos previstos pela Constituição, assim como forte propensão ao confronto. A crítica é registrada em editorial da nova edição da revista Política Democrática Online. “Recusa suas tarefas constitucionais de cooperação com os demais Poderes, assim como os mandamentos do bom senso na relação com os governadores, legítimos representantes das unidades da Federação”, diz um trecho.
» Acesse aqui a 17ª edição da revista Política Democrática Online
Todos os conteúdos da revista podem ser acessados, gratuitamente, no site da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), localizada em Brasília e que produz e edita a publicação. De acordo com o editorial, o presidente conseguiu, em alguns meses, tornar-se alvo do protesto da grande maioria dos governadores e, ao mesmo tempo, mostrar simpatia para movimentos, ilegais, como os de policiais amotinados em diversos Estados.
De outro lado, segundo o editorial da revista Política Democrática Online, o agravamento da crise provocada pela expansão da pandemia acompanha o colapso econômico que se avizinha, em decorrência das medidas necessárias para sua contenção. “Caminhamos celeremente para um aumento sem precedentes da complexidade dos problemas que governos devem enfrentar, complexidade que, nos níveis atuais, parece já exceder em muito a capacidade governamental para sua resolução”, afirma o texto.
No editorial, a revista também afirma que não poderiam ser piores as expectativas criadas pelos preparativos das manifestações em favor do governo de 15 de março passado. “Todas elas foram, contudo, superadas com folga pelos fatos. O presidente da República tentou negar participação na convocação de um movimento a seu favor, recurso característico de regimes autoritários. Sua participação foi comprovada”, critica a publicação.
De positivo, na avaliação da revista Política Democrática Online, houve apenas o pequeno número de manifestantes. “No entanto, a lógica aparente do ato, de compensação das perdas nos números pela radicalização do discurso e das ações, é preocupante. Vimos um grupo de manifestantes pequeno, que se apresentou nas ruas mobilizado, radicalizado e, em alguns casos, armado”, afirma, para continuar. “Por sorte, apenas um incidente com disparos foi reportado, com o ferimento, em São Paulo, de uma jovem que manifestou sua oposição ao governo”.
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José Pastore: Como achatar a curva do desemprego?
Para evitar tamanha catástrofe, é imperioso acionar medidas para salvar empresas, empregos e empregados no mais curto prazo - o que exige recursos gigantescos
Os epidemiologistas estão lutando para achatar a curva dos contagiados pelo coronavírus. Os analistas do trabalho, igualmente, buscam medidas para achatar a curva dos desempregados. Isso para viabilizar o oxigênio para os doentes e a renda para os desempregados.
O confinamento prolongado provocará uma devastação ciclópica na economia brasileira. Os mais atingidos serão os que trabalham por conta própria e como empregados nas pequenas empresas do setor terciário – prestadores de serviços pessoais, profissionais do entretenimento, dos restaurantes, agências de viagens, hotéis, transporte, varejo em geral e também os que vivem do trabalho por conta própria. As pequenas empresas não dispõem de gordura financeira para pagar salários e encargos sociais quando não geram renda. Muitas demitirão antes de quebrar; outras quebrarão antes de demitir.
As medidas convencionais para postergar as demissões (redução de jornada, banco de horas, férias coletivas, layoff, etc.) se exaurem depressa no meio de um tsunami gigantesco como este. Muitas demissões já estão ocorrendo. Como na pandemia, o desemprego vai disparar se as dispensas dobrarem a cada dois dias.
Para evitar tamanha catástrofe, é imperioso acionar medidas para salvar empresas, empregos e empregados no mais curto prazo. Isso exige recursos gigantescos. Rodrigo Maia sugere R$ 500 bilhões para um orçamento de guerra. Armínio Fraga adverte que o dinheiro deve ser direcionado prioritariamente para as pequenas empresas de modo desburocratizado, rápido e quase automático.
Assim está sendo na Alemanha, que já destinou 866 bilhões de euros para evitar a quebradeira das pequenas empresas, e no Reino Unido, na Irlanda e na Dinamarca, onde imensos recursos públicos chegam às empresas para aliviar o custo do trabalho na ausência de vendas. Nos EUA, além dos US$ 2 trilhões aprovados pelo Congresso, o Federal Reserve declarou estar preparado para injetar o que for necessário para salvar empresas e empregos. A rigidez dos manuais dos bancos centrais está sendo substituída por ações rápidas e ousadas, como é o uso de reservas cambiais, a oferta de títulos públicos e até emissão de moeda – tudo para garantir transferências de renda rápidas e diretas para empregadores, empregados, autônomos e desempregados.
A pandemia não deixou escolhas: remédios raramente utilizados são ministrados em altas dosagens para proteger vidas e empresas, deixando para depois o combate aos efeitos secundários.
Reformar regras trabalhistas que engessam e impedem as empresas de fazer ajustes rápidos também ajuda. A Medida Provisória (MP) 927 está nessa direção e outras devem vir para completá-la. Mas, sem as maciças injeções de recursos, sozinhas, MPs não têm força para dar sobrevida às empresas e aos empregos.
A violência da hecatombe que se aproxima vai requerer medidas ainda mais profundas. A imprensa noticia que, para manter seus empregos, os trabalhadores das empresas aéreas aceitam uma redução de 80% nos seus salários! Segurar os anéis para não perder os dedos.
A luta contra o coronavírus neste clima de guerra pode se arrastar o ano todo, fazendo a recessão adentrar 2021. Na reconstrução das pontes destruídas, será crucial estimular as cadeias produtivas longas para reempregar muitos dos desempregados. Refiro-me, por exemplo, à retomada das obras paradas, Minha Casa Minha Vida, saneamento e infraestrutura em geral.
Até aqui tratei apenas dos trabalhadores formais. A análise da situação dos informais ficará para outra oportunidade.
*Professor da FEA-USP, membro da Academia Paulista de Letras, é presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP
Portal do Cidadania: Roberto Freire divulga nota oficial em homenagem aos 98 anos do PCB
O presidente Nacional do Cidadania, Roberto Freire, divulgou nota oficial nesta quarta-feira (25) em homenagem aos 98 anos do Partido Comunista Brasileiro, fundando em 25 de março de 1922
Leia abaixo:
“Nota Oficial – 98 anos do PCB
Eram poucos os que em 1922 sonharam grande e tinham sede de justiça. Assim o poeta Ferreira Gullar narrou a origem do Partido Comunista Brasileiro, o PCB, o nosso Partidão. Hoje trocamos o comunismo pela cidadania. Reinventados sim, mas também orgulhosos de nossa jornada e da memória dos nossos camaradas que tombaram na luta contra as ditaduras.
O tempo não para. As mudanças se sucedem. Mas uma essência segue perene. No DNA do Cidadania, permanece sequenciada aquela mesma sede de justiça do PCB de 98 anos atrás. No presente, o maior desafio é olhar para frente e decidir como avançar neste momento grave de pandemia, com a nação à deriva, desgovernada por um presidente desequilibrado e negacionista.
Pois então a realidade faz seu chamado: chegou a hora de sermos muitos. De trabalhar de sol a sol na tarefa de formar uma maioria democrática capaz de liderar os rumos do Brasil. Uma maioria com sensibilidade social para compartilhar os valores mais enraizados do nosso povo, sem abrir mão, porém, do respeito à diversidade e da inteligência econômica mais eficiente.
Formamos no Cidadania uma síntese entre a experiência e a renovação. Estamos prontos, assim, para combater a desigualdade e ampliar as oportunidades no país, agindo sempre solidariamente. Como em 1922, continuamos a sonhar grande.
Roberto Freire
Presidente Nacional do Cidadania”
Ricardo Noblat: Mourão começa a dar as cartas
Bolsonaro em seu labirinto
Que líder político de peso saiu em defesa do presidente Jair Bolsonaro depois do que ele disse e fez nas últimas 48 horas? Que economista capaz de ser ouvido com atenção pelo país? Que médico de referência? Que religioso reconhecidamente digno de sua condição? Ninguém saiu. Só os estúpidos de sempre. E a massa cada vez menor dos enganados por ingenuidade ou oportunismo.
O vazio das ruas país afora foi a manifestação mais contundente da divergência entre os brasileiros e o seu presidente. Ninguém achou prudente suspender o confinamento só porque Bolsonaro considerou-o desnecessário, um exagero, que prejudicará a economia. E porque outra vez chamou os governadores que baixaram a medida de “destruidores de empregos”.
Todos os governadores adotaram a medida. Nenhum ficou de fora. Os chefes de Estado de quase 60 países adotaram a medida. O modelo de quarentena varia de acordo com a gravidade da situação em cada um deles. Com o início da quarentena na Índia, há ao menos 2,8 bilhões de pessoas vivendo sob algum tipo de restrição. Isso significa um de cada três habitantes do planeta.
Em três meses, o coronavírus infectou mais de 420 mil pessoas e matou pouco mais de 20 mil. No Brasil, até ontem, havia 2.555 casos confirmados e 59 mortos. A pandemia só começará a perder sua força quando mais de 50% da população mundial tiver sido contaminada. Levará muito tempo. De resto, o vírus se espalhará em ondas. Essa é apenas a primeira onda.
Confinamento serve para impedir que o vírus se dissemine veloz, o que provocaria em todos os países alcançados por ele o colapso relâmpago do sistema médico de atendimento a vítimas. Colapso haverá como se vê na Espanha, com 3.434 mortos, e na Itália com 7.503. A Espanha ultrapassou a China em número de mortos. A França prorrogou o confinamento por mais três semanas.
Uma simulação feita pela BBC, corporação pública de rádio e televisão do Reino Unido e famosa por sua credibilidade, mostrou que, ao reduzir em 50% o seu contato social, uma pessoa infectada pelo coronavírus reduziria seu potencial de contágio de 406 pessoas em um mês para apenas 15 pessoas. Fácil de entender, não? Até Bolsonaro seria capaz de entender.
O problema dele é outro. Subestimou o vírus, como outros chefes de Estado o fizeram, inclusive o presidente Donald Trump que agora caiu na real. Ao invés de dar ouvidos aos médicos, deu a Paulo Guedes, ministro da Economia, que de saúde não saca nada, entende de números e é ruim de projeções. Quando se viu sem chão, Bolsonaro resolveu pôr a culpa nos outros.
O isolamento político não o preocupa. Nunca o preocupou. Como deputado durante 28 anos, viveu confinado na Câmara. Era da bancada dos irrelevantes. Acostumou-se com isso. Jamais imaginou que chegaria onde está. Passará à História como o presidente mais irrelevante do Brasil desde, pelo menos, os anos 30 do século passado. Mas quer um segundo mandato, ora vejam.
Contente-se com um. E torça para que possa completá-lo. Seu vice está aí para sucedê-lo antes da hora se for preciso. Vice existe para isso. E de 1985 para cá, três vices completaram o mandato de presidentes impedidos de fazê-lo – José Sarney porque Tancredo Neves morreu, Itamar Franco porque Fernando Collor foi derrubado, Michel Temer porque Dilma Rousseff também foi.
Calado até ontem, posto por Bolsonaro à margem da crise, o general Hamilton Mourão, ao reaparecer, o fez em grande estilo. Revelou seu incômodo com a maneira como Bolsonaro bateu boca com o governador João Doria (PSDB), de São Paulo. E, mais tarde, perguntado sobre o pronunciamento de Bolsonaro à Nação na última quarta-feira, respondeu sem receio de corrigi-lo:
“A posição do governo por enquanto é uma só. A posição do governo é o isolamento e o distanciamento social. Está sendo discutido e ontem o presidente buscou colocar, pode ser que tenha se expressado de uma forma que não foi a melhor, mas o que ele buscou colocar é a preocupação que todos nós temos com a segunda onda. Temos a primeira onda, que é a saúde, e a segunda que é a questão econômica”.
Valeu, Mourão! Aço! Selva!
Estado de Calamidade sob as rédeas curtas do Congresso
O que está por vir
Um projeto de decreto legislativo regulamentando o Estado de Calamidade, decretado na semana passada a pedido do Executivo, começou a circular, ontem, entre líderes de partidos na Câmara dos Deputados e no Senado.
A minuta, já em seu artigo primeiro, prevê que a União, ou seja, o governo federal deverá partilhar com os estados e os municípios o comando das ações frente à crise. A redação é esta:
“O enfrentamento da calamidade pública decorrente da pandemia do Covid-19 é responsabilidade solidária da União, Estados, Distrito Federal e Municípios.”
Mais adiante, segundo o relatório TAG REPORT, das jornalistas Helena Chagas e Lydia Medeiros, o decreto estabelece que:
“[…] mediante atuação em caráter nacional, transparente e fiscalmente proporcional ao máximo de recursos disponíveis, os entes federativos ficam obrigados aos deveres de coordenação continuada e consecução tempestiva de esforços para o atendimento das demandas sanitárias, econômicas e sociais diretamente vinculadas à pandemia do Covid-19, durante o prazo de vigência da Lei no 13.979, de 6 de fevereiro de 2020”.
Os parlamentares que articulam a aprovação do decreto querem apressar sua tramitação. Do ponto de vista político, acreditam que caberá agora ao Congresso fazer a mediação dos conflitos entre o presidente Jair Bolsonaro e os governadores.
Vinicius Torres Freire: Surge a melhor ideia para salvar empresas da morte na epidemia
Plano seria fazer empréstimos a empresas, com dinheiro público, juro quase zero e a perder de vista
Muitas empresas vão faturar pouco ou nada na paralisia causada pela guerra contra o coronavírus. Seja por determinação de governos ou por medo das pessoas de sair às ruas ou gastar, o consumo vai cair. Sem um colchão, essas empresas vão cair e quebrar, óbvio.
Um paliativo é emprestar-lhes dinheiro para que atravessem o deserto da crise catastrófica. Mas bancos não vão dar crédito à multidão de empresas sob risco de quebrar, menos ainda para pequenas. Mesmo que o empréstimo caísse do céu, como empresas frágeis pagariam a conta, multiplicada por juros bancários escorchantes, em uma economia deprimida?
É impossível. Qual a alternativa?
Economistas sortidos sugerem que os fundos venham do Estado, que também assumiria eventuais calotes. É uma ideia apresentada pelos economistas Arminio Fraga, Vinicius Carrasco e José Alexandre Scheinkman, em artigo nesta Folha, e por Nelson Barbosa, em sua coluna neste jornal, por exemplo. Economistas do governo estudam medida assim. Precisam se mexer. LOGO.
No plano de Barbosa, bancos que assim o desejarem podem participar desse programa de empréstimos, em princípio para pequenas e medias empresas. Por que o fariam? Porque o Banco Central obrigatoriamente compraria essas dívidas, tornando-se o credor de fato. Os bancos seriam apenas operadores do negócio, tarefa pela qual seriam remunerados.
Para ser mais preciso, um mecanismo institucional qualquer criaria uma entidade dentro do BC que compraria os empréstimos e administraria essa conta, uma entidade de propósito específico, separada das demais operações do BC. Seria preciso lei para essa novidade, dizem advogados.
O empréstimo seria concedido em condições específicas e padronizadas: o bastante para cobrir a folha de pagamento ou parte do faturamento, por tantos meses, e sob a condição de não haver demissões. Seria um consignado para empresas na situação de calamidade.
Haveria prazo de carência de pelo menos um ano (nos EUA, estuda-se prazo de quatro anos para operação similar), com pagamento parcelado em cinco anos, a juro zero ou quase.
No pacote da coronacrise do governo americano, haverá US$ 350 bilhões de empréstimos do Tesouro para pequenas e médias empresas, dívida que será perdoada caso as firmas não demitam.
Com os empréstimos com fundos públicos, haveria, pois, uma inundação de dinheiro na praça, que teria de ser enxugada pelo mesmo BC, em seu papel tradicional, a fim de manter a taxa básica de juros (Selic) em sua meta. Na prática, se trata, enfim, de uma operação de endividamento público em títulos de curtíssimo prazo. Quanto mais a Selic baixar e ficar por aí, menos problema haverá. Taxa quase zero em breve?
Essa entidade de propósito específico, um fundo ou quase-banco dentro do Banco Central, pode levar calotes. "Pode. Assim como o Tesouro, se recorrer a plano similar. Vamos pensar nisso depois da calamidade. A vantagem é que, com o BC, o sistema funcionaria já, de modo ágil", diz Barbosa, que foi secretário de Política Econômica e ministro da Fazenda nos anos petistas.
Empresas e famílias pagam por mês cerca de R$ 77 bilhões a todos os empregados com carteira assinada (a massa de rendimentos, que soma ainda servidores públicos, informais, por conta própria e empregadores, é de R$ 217 bilhões mensais, na conta do IBGE).
Chutando que metade da folha com CLT esteja sob risco por três meses, seria preciso começar com um fundo de mais de R$ 115 bilhões.
Fernando Schüler: Como em um filme de Pasolini
É falsa dicotomia imaginar contradição entre 'salvar vidas' e 'proteger a economia'
Bolsonaro dobra a aposta. Não se sabe exatamente baseado em que tipo de evidências, o presidente joga sua autoridade e o que lhe resta de credibilidade na tese de que a pandemia será passageira, no Brasil, e terá menos letalidade do que o quase-consenso da comunidade médica vem apontando.
O recente relatório apresentado pelo Imperial College, em Londres, aponta que, em um quadro em que nada de substancial for feito, a pandemia pode gerar mais de dois milhões de mortes nos Estados Unidos e pouco mais de meio milhão na Inglaterra.
O relatório fez com que o governo britânico adotasse decisões mais duras e incentivou a escalada de medidas de isolamento, no plano global. A Índia, com seus 1,3 bilhão de habitantes, entrou em lockdown nacional por 21 dias, tendo registrado apenas um quarto do número de mortes já identificadas no Brasil, em função da Covid-19.
Há uma tendência global nesta direção. O The New York Times, em editorial, fez um apelo ao presidente Trump para que lidere uma reclusão americana por duas semanas, de forma a interromper a espiral de contágio e permitir medidas mais focalizadas, daí para diante.
O mundo pode estar errado e Bolsonaro pode estar certo. Há uma vaga aposta na transmissão mais lenta, em climas quentes, e na ideia de que gente jovem e saudável dificilmente terá problemas, caso for contaminada.
Isto é obviamente equivocado. Bolsonaro não tem base técnica para fazer este tipo de afirmação e não deveria fazê-lo. Alguém pode chegar à Presidência da República seguindo sua intuição, andando na contramão e agindo de modo errático. Mas nada disso funciona para combater uma pandemia desta gravidade.
Não há qualquer dúvida de que medidas rápidas e duras de isolamento social são necessárias e já deveriam ter sido implementadas em larga escala no país.
Afirmar isto não significa que se deve desconsiderar os impactos econômicos da crise. É uma falsa dicotomia, típica de nosso debate político polarizado, imaginar que exista uma contradição entre “salvar vidas” e “proteger a economia”.
Thomas Friedman lançou esta discussão em um artigo recente, sugerindo uma abordagem em três etapas: o isolamento total, a realização massiva de testes e mapeamento de riscos, por região e perfis populacionais, e (no prazo que for tecnicamente adequado), o retorno coordenado ao trabalho.
Bastou apresentar estas ideias bastante óbvias para que fosse chamado de “darwinista social” e outros impropérios. Sua ideia mais elementar diz simplesmente que, respeitando-se a absoluta prioridade que se deve dar à preservação da vida, “o emprego e o estado geral da economia é também um tema de saúde pública”.
Se isto é verdade em uma economia como a americana, que vem de um ciclo de quase pleno emprego, o é ainda mais em um país como o Brasil, que ainda não se recuperou da brutal crise de 2015/2016, que levou (segundo dados do IBGE) mais de 4,5 milhões de pessoas a cruzarem, para baixo, a linha de miséria.
A pergunta óbvia: o que fazer se a taxa de desemprego no país aumentar em 50% e outros 4,5% de cidadãos somarem-se aos atuais 13,5 milhões de brasileiros em condição de miserabilidade? Que danos e quantas mortes isto irá produzir?
É previsível que este tema não interesse e pareça mesmo irritante para a classe média alta que possui poupança ou se sente segura em seus empregos, em particular no setor público. E muito menos aos mais ricos, que irão desestressar em Miami, quando tudo passar.
Consequências não intencionais da ação, na expressão há muito consagrada por Robert Merton, nunca parecem interessar para aqueles que não irão pagar a conta depois da tempestade. A solução para a crise que vivemos começa quando nosso sistema político resolver se desligar do “modo internet” e do clima de permanente campanha eleitoral em que se meteu.
Ou então terminaremos como naquele filme de Pasolini, com sua estranha mistura de nonsense e divertimento sádico, em meio à tragédia.
*Fernando Schüler, professor do Insper e curador do projeto Fronteiras do Pensamento. Foi diretor da Fundação Iberê Camargo.
Bruno Boghossian: Bolsonaro usa o terrorismo como estratégia de poder
Presidente oferece o pânico e não apresenta nenhuma saída para a economia
No fim dos anos 1980, Jair Bolsonaro se lançou candidato a vereador após ser absolvido da acusação de planejar atentados a bomba em quartéis, num julgamento controverso. Mais de três décadas depois, ele decidiu usar outro tipo de terrorismo como estratégia política.
Ao ignorar recomendações de especialistas por medidas de distanciamento contra o coronavírus, o presidente afirmou que o caos reinará se a economia não voltar logo ao normal. Nesta quarta (25), ele disse que o governo não terá como pagar funcionários públicos, supermercados serão saqueados e o país corre risco de uma ruptura democrática.
“Se nós não acordarmos para a realidade, daqui a poucos dias poderá ser tarde demais”, declarou.
Por semanas, o presidente ancorou uma campanha de negação dos riscos do coronavírus, criticando o que chamava de pânico e histeria. Agora, ele agiu rápido para instrumentalizar o desespero a seu favor.
Bolsonaro só consegue enxergar a ruína de um dos lados dessa crise. Ele continua minimizando as chances de contaminação em massa e do colapso de sistemas de saúde. Reconhece apenas a ameaça de desmoronamento econômico, em nome de ganhos políticos individuais.
A falsa cegueira cumpre duas funções. O presidente já conseguiu empurrar para os governadores parte do ônus da inevitável desaceleração provocada pela restrição à circulação de pessoas. O discurso, além disso, deixa a porta aberta para uma postura ainda mais radical e para a adoção de medidas de exceção.
A desordem sempre foi o campo político de Bolsonaro. A ameaça de agitação e devastação é sua ferramenta favorita para intimidar adversários e desmerecer seus críticos.
A agonia econômica é um perigo real, mas o presidente não oferece nenhuma saída concreta. Não explica como o governo vai preservar a saúde de quem voltar ao trabalho e propõe uma retomada sem qualquer planejamento, depois desmentida pelo próprio vice-presidente. Bolsonaro só quer deixar o medo no ar.
Míriam Leitão: Política de governadores
Esta crise é a maior e a mais complexa que o país enfrenta em muitas décadas e tem no comando o mais insensato dos presidentes da República
O presidente Jair Bolsonaro criou uma crise federativa no meio de um pandemia e de um colapso econômico. Como se fossem poucos os males que nos assolam. Era previsível. Desde o começo do governo, Bolsonaro tem mantido distanciamento dos governadores, criou conflitos com alguns deles, discriminou grupos regionais, e principalmente jamais manteve diálogo. “É de se contar nos dedos da mão as audiências que concedeu aos administradores dos estados”, diz Renato Casagrande, do Espírito Santo. Os governadores, em compensação, criaram consórcios regionais, escolheram porta-vozes, formaram grupos de Whatsapp e têm mantido intensas conversas.
Esta crise é a maior e a mais complexa que o país enfrenta em muitas décadas e tem no comando o mais insensato dos presidentes. O conflito de ontem entre Bolsonaro e os governadores do Sudeste era previsível. Ao longo dos 15 meses em que governa o Brasil, Bolsonaro nunca quis liderar a federação. Vê as decisões dos estados como se fossem usurpação dos seus poderes. Tratou o Nordeste com preconceito porque teve menos percentual de votos por lá. “Daqueles governadores de Paraíba”, ele disse no meio de uma crítica a Flávio Dino, do Maranhão. Recentemente, fez uma escalada de ataques a Rui Costa, da Bahia. Tirou os governadores da Amazônia do Conselho do Fundo da Amazônia. E o presidente entrou em disputas de egos com outros governadores do Sudeste.
Era de se esperar que Bolsonaro provocasse uma grande crise ontem. Seu desastroso pronunciamento da véspera foi recebido com repulsa entre a população, que a demonstrou em panelaços. Ele colocou a vida dos brasileiros em risco ao estimular o relaxamento do que está apenas começando, o período de distanciamento social. Seu método sempre foi criar uma polêmica para desviar a atenção de um erro que cometeu. Só que, desta vez, os dois fios desencapados se misturaram. A crise explodiu por causa da sua fala, deliberadamente marcada para a véspera da reunião com os governadores do Sudeste. E ao ser contestado ele dobrou a aposta, repetindo a sua tese baseada em nenhuma evidência científica e no seu tosco conhecimento da economia.
Todos os bons economistas do país estão dizendo a mesma coisa. Primeiro proteger a vida humana. E elevar o gasto público para financiar a saúde, para socorrer as outras unidades da federação, para criar uma rede de proteção social eficiente e ampla, e para sustentar as empresas. O presidente que trata a sua ignorância dos assuntos econômicos como se fosse um biombo para fugir de perguntas, estava ontem falando que era preciso relaxar a quarentena que mal começou para salvar a economia.
Neste momento, a ordem natural dos eventos, como têm repetido os administradores dos entes subnacionais, é primeiro proteger a vida humana. As crises social e econômica decorrentes da ação de parar a economia têm que ser enfrentada pelo Estado. E essa é a função do governo federal, que é o único emissor de moeda. A União não está fazendo favor quando transfere recursos para os estados, porque são impostos pagos pelos brasileiros e o monopólio de emissão da moeda é conferido ao governo federal. O presidente não é o dono dos recursos. Eles são dos brasileiros.
O presidente Bolsonaro tem errado mais do que é tolerável nesta crise. E a sua administração vai se esgarçando, mesmo as boas partes. Ontem, o ministro Luiz Henrique Mandetta fez uma exibição de subserviência e contorcionismo, ao tentar adaptar seu discurso à insensatez presidencial. A ex-ministra Marina Silva disse que o ministro da Saúde não pode permanecer no cargo ao custo de abrir mão do que é correto na área médica e científica. “Mandetta não pode ficar ao custo de ser adaptado”, disse a ex-ministra.
Bolsonaro vai perdendo o poder de fato com suas atitudes temerárias. Ontem, os governadores se reuniram sem ele. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, participou da reunião de videoconferência e, depois, em entrevista deixou claro que “se fosse para ajudar o presidente teríamos dificuldade de conseguir quórum”, mas para votar medidas pelo Brasil ele disse que trabalhará com as lideranças. Se alguém não sabe exercer o poder, ele o perde. É o que acontece neste momento com o presidente Jair Bolsonaro. Ontem, ele era um homem à deriva.
Bernardo Mello Franco: Bloco do Ele Sozinho
Diante da epidemia, o presidente optou pelo isolamento. Esperar sensatez de Bolsonaro é perda de tempo, mas ele parece ter batido seu próprio recorde de irresponsabilidade
O presidente foi para escanteio. No momento mais crítico de seu mandato, Jair Bolsonaro fez uma opção pelo isolamento. Deu as costas à ciência, à medicina, à classe política e aos eleitores assombrados com o coronavírus.
No pronunciamento tresloucado de terça, o capitão fez um libelo contra a razão. Na contramão do mundo, atacou a política de quarentena e incentivou os brasileiros a voltarem às ruas, expondo-se ao risco de contágio.
Esperar sensatez de Bolsonaro é perda de tempo, mas ele parece ter batido seu próprio recorde de irresponsabilidade. O Conselho Nacional de Saúde classificou o discurso como “criminoso”. “Sua fala prejudica todo o esforço nacional para que o SUS não entre em colapso”, resumiu.
O presidente foi à TV com um objetivo claro. Diante de uma crise anunciada, ele tentou empurrar a culpa da recessão para os governadores. A manobra parece ter fracassado. Bolsonaro não convenceu o povo, que continuou em casa, e produziu uma união de quase todos os estados contra o Planalto.
As declarações de Ronaldo Caiado ajudam a ilustrar o desastre da ofensiva. Símbolo da direita ruralista, o governador de Goiás desfilava como o aliado número um do presidente. Ontem ele usou uma frase de Barack Obama para detonar o capitão. “Na política e na vida, a ignorância não é uma virtude”, sentenciou.
O estilo brucutu de Bolsonaro não permite dissimulações. Ao se descontrolar em público com o governador de São Paulo, João Doria, ele escancarou o que realmente o incomoda: o medo de que a crise derreta sua popularidade e fulmine o sonho da reeleição.
Na porta do Alvorada, o presidente usou o vírus para fazer uma ameaça explícita de golpe. Projetou uma situação de “caos” e disse que o Brasil “pode sair da normalidade democrática”.
Por enquanto, não há sinais de que as Forças Armadas topariam a aventura. O comandante do Exército tem levado a pandemia a sério, e o vice-presidente, general Hamilton Mourão, parece mais interessado em se apresentar como alternativa constitucional de poder.
Ascânio Seleme: Um egoísta isolado
A responsabilidade por essa solidão é inteiramente sua
Jair Bolsonaro é um homem só. Abandonado por aliados de primeira hora, esquecido pelos que se aproximaram por oportunidade, diminuído pelo Congresso, afastado por governadores e cada vez mais execrado pela maioria dos brasileiros. Com mais de 60 anos, ele deveria estar isolado socialmente para não se contaminar com o coronavírus. Mas o presidente conseguiu construir para si próprio uma ilha política que antes só foi vista durante os meses que antecederam o impeachment do ex-presidente Fernando Collor. Nem Dilma, nos seus piores dias, esteve tão solitária quanto Bolsonaro hoje.
A responsabilidade por essa solidão é inteiramente sua. Bolsonaro não pode culpar o Supremo, o Congresso ou a imprensa, embora tente sempre. Foi ele que se colocou nessa situação. Sua descida para o fundo do poço foi acontecendo aos poucos, mas desde o começo deu para perceber que era uma descida inexorável. Agora, no auge da maior crise sanitária dos últimos cem anos, estamos encrencados com um presidente isolado, agitado, que produz barulho e se afasta cada vez mais da lucidez.
O pronunciamento absurdo da terça-feira, a entrevista tresloucada na porta do Alvorada e a gritaria ofensiva na reunião com os governadores de ontem mostram um homem desequilibrado, que já não consegue raciocinar livre dos preconceitos que constroem o seu caráter. Bolsonaro é um egoísta. Ele claramente não está interessado na saúde dos brasileiros. Seu negócio é confundir as pessoas, tentando colocar no colo de outros os problemas econômicos e políticos que vão resultar da pandemia que assalta também o Brasil.
Nada como um dia depois do outro
Na hora do aperto é que se conhece o coração das pessoas. Foi o que se viu com a pesquisa Datafolha que trata da confiabilidade das informações sobre coronavírus publicadas pelos meios de comunicação e pelas redes sociais. Foi um banho. Apenas 12% confiam no Facebook e no WhatsApp, contra 56% que confiam nos jornais impressos e 61% nos programas jornalísticos das TVs. Não significa que as redes sociais não são úteis nessa hora. São. Para divulgar conteúdo bem apurado e checado pelos veículos profissionais.
Não foram apenas Jair Bolsonaro e seus seguidores que atacaram a imprensa de maneira feroz e sem trégua nos últimos tempos (a Federação Nacional dos Jornalistas contabilizou mais de cem ataques do presidente no ano passado). Lula e os petistas, que negaram o mensalão e se recusaram a fazer uma autocrítica do maior escândalo de corrupção da história da Petrobras, também sonharam em calar os jornais e os jornalistas. Foi na usina de ideias retrógradas do PT que se imaginou um certo controle externo da mídia, apelido carinhoso que inventaram para censura à imprensa. Antes da revolução digital, houve até quem sugerisse proibir a importação de papel jornal.
O mesmo pode-se dizer sobre o tratamento dispensado ao Legislativo e ao Judiciário, que até outro dia eram vilipendiados pelos bolsonaristas, sobretudo os que foram às ruas pedir a volta da ditadura e o fechamento do Congresso e do Supremo. Num passado muito recente, os petistas também tomaram ruas e praças para acusar o Congresso de aplicar um golpe contra Dilma, e o Supremo, por não deter a Lava-Jato. E o que vão dizer agora ao ver os dois poderes corrigindo erros do governo Bolsonaro?
Milhares de bolsonaristas e petistas, entre outros, estariam desalentados amanhã ou depois se não fosse o grito de Rodrigo Maia e Dias Toffoli contra a MP que permitia a suspensão de contratos de trabalho e salários por quatro meses. Imaginem se não houvesse Congresso ou Supremo numa hora dessa. A MP de Bolsonaro e Guedes seria ainda mais dura. Ou alguém acha mesmo que foi um erro de digitação ou um esquecimento bobo a ausência de previsão de compensação financeira aos que tiverem seus contratos de trabalho e salários suspensos?
A atenção permanente do Legislativo, do Judiciário e da imprensa é vital para impedir as investidas antidemocráticas, autoritárias ou apenas economicistas dos governantes. Parece que a maioria agora enxerga isso.