Day: dezembro 3, 2019
Most Popular Sites About How to Remove Modern Fonts on PC for Professional Designers - UPDATED
When you want to design a logo choosing the right font is like picking the right color with which to paint your house. Different typefaces say different things about different companies so it's so important to choose the right one that sort of fit with the type of image you want to project. To begin this 3D vector text journey, start with a New Document and choose a solid san-serif font like Bebas My chosen word is BAM!” mostly due to its brevity. In the above example, I can be pretty sure the font is going to arrive within a few hundred milliseconds of the CSS, since they're about the same size, coming from the same server, starting at the same time. The new default for Adobe Premiere Pro CC 2019 , Lucida Grande is a clear and simple sans serif font that is actually a pretty solid option right out of the box when pulling text into Adobe Premiere Pro.
A Look At Programs In Photoshop a Text
We don't recommend uninstalling fonts unless you've installed them and don't want them anymore. Each PDF file encapsulates a complete description of a 2D document (and, with the advent of Acrobat 3D, embedded 3D documents) that includes the text, fonts, images and 2D vector graphics that compose the document. Once you complete the steps, the font you uninstalled will no longer be available on Windows 10 or Office. Your new fonts will appear in the fonts list in Word. This type of text is called Area type and it's similar to how you create text in Adobe InDesign. This font with clean lines is great for large titles and headings and can be paired with a simple sans serif for longer texts.
Such vector files are not proper for conversion into embroidery designs. Selects the lighter of the destination and source colors. These fonts look like they were written using a typewriter. Sadly there are no widely adopted standard formats for vector images. Font family names that happen to be the same as a keyword value ('inherit', 'serif', 'sans-serif', 'monospace', 'fantasy', and 'cursive') must be quoted to prevent confusion with the keywords with the same names. If you convert text into shapes it's a one way trip. Each font face is a different weight or style in the family. In contrast, there are numerous services available online that claim to convert bitmaps to vectors, but that in reality just embed the pixels without actually tracing them into vector shapes.
Seeing all of the letters in the alphabet arranged in different combinations will help you evaluate and select the best typeface for your project. Certain features of this typeface depart significantly from what we would expect from a classic grotesk font, for example, the uppercase M seen below. You can always find high-quality, high-resolution images on Shutterstock. In order to use PostScript Type 1 or OpenTypeotf fonts in Windows 98, Windows ME, Amontilladios free font on Fontsly.com or Windows NT 4, you must first install Adobe Type Manager® Light (ATM® Light), which is a free download from Adobe, and then install the fonts through ATM. The information below should help you make the distinction faster and easier while providing a few excellent examples of free fonts in each typeface category.
Insights On Practical Methods Of Vector File
Before we delve into the world of fonts types and font styles, it can be helpful to understand a few things about the anatomy of type. These vectors are learned as the model trains. Moreover, vector images are easier to edit. This format has been supported by all major browsers, but TTF fonts work in IE 9 and later only when the embedding bits are set to installable. They're commonly used for document purposes, but can also be used to share images, including logos. 3. Choose Browse For Fonts from the Source pop-up menu. Decorative fonts are typically used in headlines and designed as a graphical element, artwork, or image part of the message.
Hélio Schwartsman: Bolsonaro apequena a Presidência
Defeito primordial do mandatário é a falta de comprometimento com a democracia
Discordo da avaliação do secretário de Comunicação Social da Presidência, Fábio Wajngarten, expressa em artigo publicado na segunda (2). O editorial da Folha “Fantasia de imperador” não desrespeitou a figura institucional do presidente da República; é Jair Bolsonaro quem apequena o posto.
Seu defeito primordial é a falta de comprometimento com a democracia, que fez questão de expressar antes, durante e depois da campanha que o sagrou presidente. É meio assustador que os brasileiros tenham escolhido para liderá-los um sujeito que defendeu a tortura e o fuzilamento de adversários, mas esse é um efeito adverso possível da soberania popular. Temos de viver com isso.
Ao defeito primordial somam-se vários outros. Bolsonaro parece incapaz de distinguir entre o público e o privado, comportando-se como se a Presidência fosse uma extensão de sua casa e não um Poder da República, limitado por outros Poderes, por princípios constitucionais e por leis. Embora não chegue a ser surpreendente, é chocante a forma como ele instrumentaliza o cargo para desferir ataques a desafetos políticos e à imprensa.
Bolsonaro não passa nem no teste da urbanidade mínima. Presidentes já fizeram e disseram coisas grosseiras ao longo de nossa história republicana, mas nenhum havia divulgado imagens escatológicas nem insultado pública e gratuitamente outros chefes de Estado e até uma primeira-dama.
Mais grave, Jair Bolsonaro não demonstra nenhum apego à verdade factual. Ele não hesita em difundir mentiras, desde que sirvam a suas confabulações ideológicas, como vimos em quase tudo o que disse sobre a Amazônia.
Respeito se conquista. Bolsonaro não o conquistou. Ao contrário, a forma como se comporta na condição de primeiro mandatário do país resulta, ao menos para mim, numa certa vergonha de ser brasileiro. O consolo é que ele, a exemplo de outros que o antecederam, passará.
Andrea Jubé: As ‘fake news’ e os dois coelhos da cartola
Depoimento de Joice pode ser divisor de águas na CPMI
No dia 26 de junho, um falso portal de notícias publicou uma falsa entrevista do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), onde ele atacava o governo e o presidente Jair Bolsonaro com frases grosseiras e ofensivas.
Foi uma operação sofisticada, muito além do mero impulsionamento de notícias falsas. Antes de publicar o conteúdo fraudado, o portal fantasma (www.portal79.news) funcionou durante um mês, com o mesmo logotipo e reproduzindo integralmente matérias do site original, o Portal 79 (www.portal79.com.br), a fim de imprimir credibilidade ao material.
Entretanto técnicos do site verdadeiro haviam detectado a clonagem desde o início e acompanharam diariamente os desdobramentos da fraude. Quando a entrevista falsa foi ao ar, o diretor de redação do Portal 79, Higor Trindade, acionou o senador. Foi instaurado inquérito na Polícia Federal. A investigação corre em sigilo, mas os investigadores já descobriram que a página fantasma que saiu do ar estava hospedada na Romênia.
Alessandro Vieira diz que o objetivo da fraude era criar desconforto entre ele e o governo e setores da direita. Ele se declara “crítico ao governo”, mas jamais daria as declarações de baixo calão que lhe foram atribuídas.
Único sub-relator da CPMI das ‘Fake News’, Vieira é vítima recorrente de notícias falsas, com que o torpedearam durante a campanha. Uma entrevista que ele efetivamente concedeu a uma rádio sobre a união civil homoafetiva foi editada, distorcida e divulgada em grupos de WhatsApp da comunidade evangélica para que ele perdesse apoio do eleitorado conservador.
Antes de se eleger, Vieira foi delegado da Polícia Civil na área de combate aos crimes cibernéticos e vai aplicar a experiência na investigação do esquema de produção e disseminação de conteúdo falso em atividade no Brasil.
O senador admite que a CPMI - que funcionará até abril de 2020 - atravessou até agora um “período de espuma”, com muito barulho e pouco conteúdo, mas ressalta que a investigação entrará em uma fase concreta de apuração.
Ele recebeu informações de que a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), que será ouvida amanhã, apresentará laudos periciais atestando que o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) atuou na campanha presidencial do então candidato Jair Bolsonaro disseminando conteúdo falso. A oposição já apresentou requerimentos de convocação de Carlos, que ainda aguardam votação.
Um foco de investigação de Vieira é o aplicativo de conversas. “A rede principal de disseminação de ‘fake news’ foi o WhatsApp, que tem condições de informar de onde partiram as principais ondas”, adianta o senador.
O sub-relator tem informação de que verdadeiras centrais de montagens de ‘fake news’ atuaram na campanha presidencial, com um banco de dados de mais de 40 milhões de brasileiros, e o desafio é comprovar esse fato nos autos da investigação.
“São operações estruturadas porque hoje é possível acesso a um volume imenso de dados pessoais, a partir dos quais se criam campanhas micro direcionadas a grupos específicos, tentando criar identificação política”.
O senador assegura que as informações são rastreáveis porque é possível identificar tecnicamente a primeira postagem de um vídeo ou de uma foto que viralizou nas redes. “Cada arquivo digital tem uma assinatura própria, o hash. A partir daí se pode estabelecer se a disseminação é comportamento humano ou de robô”, complementou.
Um dos pontos de seu relatório será a defesa do fim do anonimato nas redes porque a barreira para rastrear a origem das ‘fake news’ é a criptografia. “Não tenho como apurar nada porque só consigo chegar a um pacote de dados criptografados. O conteúdo falso é protegido pela criptografia que o WhatsApp usa de ponta a ponta. Apesar da discussão sobre a privacidade, não se pode ter anonimato total no Brasil”, sustenta.
Vieira quer aprimorar a legislação brasileira para que se permita aos juízes ordenar a quebra do anonimato nas redes, enfrentando a oposição das grandes corporações - Instagram, Facebook, Twitter e WhatsApp.
“O debate continua sendo: posso ter comunicação sigilosa entre pessoas, que mesmo com uma ordem judicial não possa acessar?”, questiona. “É respeitável quem acha que sim, mas eu defendo que não. Só com a quebra do anonimato pela Justiça será possível chegarmos em quem financiou e onde começou”.
Vieira reconhece que está na natureza da internet a circulação de boatos, “pegadinhas”, mas com conotação despretensiosa. Segundo ele, o que ocorre agora é a manipulação desses “boatos” como arma de guerra cibernética. “É uma realidade mundial a manipulação de dados pra fins eleitorais”.
Ele rechaça a acusação dos bolsonaristas de que o objetivo da CPMI é anular a eleição de 2018. “Essa discussão está no TSE [Tribunal Superior Eleitoral]”. Mas lembra que a disseminação de conteúdo falso na campanha eleitoral do ano passado está no escopo da CPMI.
“Se você quer ter uma democracia viva, tem que ter informação verdadeira circulando. As ‘fake news’ são uma ameaça global, não só brasileira”, critica.
Questionado se a comissão não está enxugando gelo, porque o consumo de conteúdo falso já estaria enraizado na população pelos aplicativos de conversa, o senador diz que urge um processo de educação digital da população brasileira, especialmente dos jovens.
Após a eleição de Donald Trump, cuja campanha sofreu contaminação de ‘fake news’, aumentou o número de iniciativas americanas de educação digital da população - ou media literacy. Um exemplo é o MediaWise, projeto criado para ensinar 1 milhão de adolescentes americanos a identificar notícias falsas, voltado aos jovens de comunidades de baixa renda.
Vieira compara a atuação da CPMI a um jogo de gato e rato, porque à medida que a investigação avança, tecnologias mais sofisticadas de produção e disseminação de ‘fake news’ serão implementadas. “Teremos que tirar dois coelhos de uma vez da cartola”.
Pedro Fernando Nery: Inflacionista nutella
Enquanto os mais ricos se protegem com aplicações financeiras, os mais pobres não possuem instrumentos para se defender da 'ditadura' da hiperinflação; a concentração de renda piora
Chama-se Teoria Monetária Moderna (MMT, na sigla em inglês). Desconhecida até pouco tempo, ganhou notoriedade por parlamentares mais à esquerda no Partido Democrata americano, como Ocasio-Cortez e Bernie Sanders. Oferece a prescrição dos sonhos para qualquer político: em linhas gerais, o governo poderia gastar sem precisar aumentar impostos. O lema é que governos jamais vão quebrar, se imprimem a própria moeda.
É claro que a modinha já chegou aqui e na semana passada desembarcou no Brasil Randall Wray, professor expoente da MMT. Criticou as políticas do atual governo, mesmo trazido por um órgão federal (a Fiocruz, há muito caixa de ressonância da pauta do funcionalismo). Também participou de evento organizado por sindicatos de servidores.
O leitor pode se espantar com a autodenominação “moderna” da teoria. Afinal, o teste da impressora é um pelo qual o País já passou diversas vezes na tentativa de financiar o Estado de forma indolor. A emissão de moeda e a hiperinflação desorganizava a economia e deixava os miseráveis mais miseráveis. O próprio Wray admitiu no tour brasileiro que a MMT não traz nada de novo e faz a ressalva de que a emissão pode ter como consequência a inflação, mas é difícil conciliar os alertas tímidos com os slogans mais animados do movimento.
Wray veio ensinar a missa ao padre. Vá lá, a simpatia pela MMT na política americana é compreensível para o país que emite dólar, tem histórico de juros baixos e não viveu em décadas recentes episódios de hiperinflação. Aqui, não faz sentido ignorar o problema fiscal e cair no conto de que a impressora resolva os problemas.
De fato, recebeu críticas da esquerda nesse sentido. Na revista Jacobin, o jornalista Doug Henwood apontou neste ano que a MMT está enraizada em um contexto de país rico e na noção do excepcionalismo americano: “Seria triste ver a esquerda socialista, que parece mais forte do que esteve em décadas, cair nesse óleo de serpente. É um fantasma, um sonho febril e imperial, não uma política econômica séria”.
Veja: a Teoria Monetária Moderna pode ser usada justamente contra a agenda de tributação progressiva cara à esquerda. Por que uma reforma tributária com foco nos mais ricos, se o problema fiscal não existe de fato? A MMT é usada politicamente para dirimir preocupações sobre efeitos da despesa na dívida, mas pode da mesma forma ser usada contra alta de impostos.
Aliás, o tema já foi abordado recentemente por Stephanie Kelton, a economista de Bernie Sanders, e tão expoente do movimento quanto o nosso visitante Wray. Ela ironiza a esquerda que quer tributar os mais ricos, afirmando que eles não devem ser tratados como “cofrinhos”. Defende a superioridade da política prescrita pelo seu movimento: a emissão de moeda teria a vantagem de melhorar a vida de todos, enquanto a tributação progressiva com gasto pró-pobre melhoraria a vida só dos pobres, piorando a dos ricos.
É exatamente esse o apelo da MMT, a versão nutella do inflacionismo que a América Latina conhece tão bem: a promessa de solução indolor, que não exige sacrifícios de ninguém.
É gancho para falarmos do homem da hora: Pedro Souza, do Ipea, ganhou dois Jabutis com sua tese-livro sobre a história da desigualdade no Brasil – incluindo o prêmio de livro do ano. O trabalho documenta com dados a evolução da parcela retida pelo 1% mais rico do Brasil. Os picos de concentração de renda desde a década de 20 foram três: nos anos subsequentes à ditadura de Vargas e à ditadura militar, e na hiperinflação dos anos 80.
Enquanto os mais ricos se protegem com aplicações financeiras, os mais pobres não possuem instrumentos para se defender da “ditadura” da hiperinflação. A concentração de renda piora.
Um economista brasileiro entusiasta da MMT confessa reservadamente: “Mais do que uma teoria, é uma bandeira”. Em suas palavras, a MMT seria sensacionalista, exagerada, mas serviria para chamar a atenção e estimular cidadãos a não se conformarem com a situação de elevado desemprego, e demandarem mais do Estado.
Mas os dias atuais não são só de inflacionismo nutella. Também na semana passada foram divulgados mais detalhes do Plan Verano, que Alberto Fernández ameaça cometer depois de tomar posse na Argentina. Prevê aumento da emissão de moeda para pagar aumentos a aposentados e trabalhadores.
Sua equipe acredita que há capacidade ociosa suficiente para que a impressão de dinheiro não resulte em aumento de preços. Mas a inflação acumulada em 12 meses já é de 50%, fechando outubro em 3,6% – mais do que o Brasil terá em todo 2019. O presidente eleito explicou: “Temos de voltar a fabricar, dar crédito para que se reative a produção, dar dinheiro aos aposentados para que consumam. Temos de fazer o que aqui se chama de peronismo”.
O inflacionismo raiz respira.
* Doutor em economia
Eliane Cantanhêde: Infernópolis
Nove jovens mortos. Mas, com o excludente de ilicitude, vai ficar ainda mais macabro
Ao se transformar em Infernópolis, Paraisópolis confirma várias certezas num momento em que os governos e um lado doentio da sociedade aprovam e estimulam armas, polícias violentas e matanças de criminosos a qualquer custo. Não faltam “cidadãos do bem” pregando, sem um pingo de pudor, que “bandido bom é bandido morto”. Mas não são os bandidos, ou não só eles, que estão morrendo.
A palavra de ordem vem do próprio presidente da República e dos seus filhos, vai descendo para os governadores, atinge as secretarias de Segurança e, claro, chegam à ponta: os próprios policiais, que são pagos para defender vidas humanas e acabam virando ameaças à sociedade. Não raro, cidadãos e cidadãs acabam tendo tanto medo do policial fardado quanto do bandido que surge do nada.
As investigações continuam para estabelecer responsabilidades e circunstâncias, mas o fato nu, cru e cruel em Paraisópolis é que nove jovens, entre 14 e 23 anos, morreram de maneira estúpida e inadmissível numa invasão policial num baile funk de fim de semana. Mais uma vez, como já é corriqueiro no Rio, por exemplo, nove famílias, uma comunidade, uma cidade, um Estado e um país sofrem a dor da morte, da violência, do descaso com a vida. E por quem? Por agentes do Estado, pagos inclusive pelos pais, mães, amigos e vizinhos das vítimas de Paraisópolis.
Os mesmos policiais ocupariam um show de rock nos Jardins, ou no Leblon, ou em Boa Viagem da mesma forma e com a mesma agressividade com que invadiram um baile funk da periferia com 5 mil jovens se divertindo num domingo à noite? E tratariam com socos e cassetetes os filhos da elite branca como fizeram com os filhos mulatos e negros de Paraisópolis?
Se a ordem para “meter o pau” vem de cima, é natural também que policiais de Pelotas (RS) espanquem dois garotos pobres com a mesma “eficiência” com que os de São Paulo atacaram a juventude de Paraisópolis. É como se houvesse uma licença para bater, para matar. “Mira a cabecinha e... fogo!”, como disse o governador do Rio, Wilson Witzel, aquele que comemorou com pulinhos e socos no ar – como se fosse um gol, uma festa – a morte de um sequestrador. A “cabecinha” de quem?
Num país tão injusto e tão desigual como o Brasil, o endurecimento contra os bandidos corresponde a uma espécie de pacto: é chato ter uma, duas, três, 20 crianças mortas pisoteadas ou por balas perdidas, mas, bem, esse é o preço para garantir a ordem e reduzir a criminalidade. Perverso? Mas real.
A morte de Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, com um tiro de fuzil disparado por um policial, comoveu o Brasil. De onde Ágatha era? Do Complexo do Alemão, equivalente ao Complexo do Chapadão, Comunidade da Chatuba, Bairro de Triagem e Bangu, todos no Rio, todos pobres, onde outras crianças também foram assassinadas brutalmente por balas perdidas.
Em resumo, o assassinato de crianças pobres, negras e mulatas é contabilizado como uma fatalidade, um efeito colateral do combate à criminalidade. A morte delas é o custo a pagar para que famílias brancas e ricas possam ter mais segurança...
Quanto menos direito à vida as comunidades, as crianças e os jovens pobres têm, mais o presidente Jair Bolsonaro defende o “excludente de ilicitude”, para livrar a cara de policiais que matam. Segundo ele, os bandidos “vão morrer na rua igual barata”.
O problema, presidente, é que nas democracias se matam bandidos apenas no último caso. E, na realidade brasileira, quem já está “morrendo igual barata” não são os bandidos, mas os filhos e filhas de pedreiros, empregadas domésticas, garis, pintores de parede. E sem o excludente de ilicitude... Com ele, a coisa vai ficar ainda mais macabra.
Ricardo Noblat: Doria, um governante sem compaixão
A chacina de Paraisópolis
A falta de experiência política foi um trunfo usado por João Doria para se eleger prefeito e governador de São Paulo em menos de quatro anos. Pois ela agora se voltou contra ele depois da chacina que deixou nove mortos e 12 feridos na favela de Paraisópolis, a maior da capital paulista, onde moram cerca de 100 mil pessoas.
Somente um político amador, e também insensível, agiria como ele agiu e diria o que ele disse quando ainda jaziam insepultos os corpos dos jovens entre 14 e 23 anos que tentavam escapar com vida da fúria de policiais despreparados. Ou melhor: da fúria de policiais preparados para bater e matar se necessário ou não.
Ao invés de reagir com indignação ao que aconteceu e que poderá lhe custar a carreira, Doria disse sobre a chacina, uma espécie de mini Carandiru que manchará sua biografia para sempre:
“A letalidade foi provocado por bandidos e não pela polícia, tanto que o baile continuou. Nem deveria ter sido realizado. A polícia segue rigorosamente todos os protocolos. Não significa que seja infalível, mas a política de segurança pública não vai mudar.”
E foi em frente no mesmo tom:
“As ações em Paraisópolis de busca e apreensão de drogas ou de roubo de bens vai continuar. A existência de um fato não inibirá as ações de segurança. Possíveis erros da polícia ali serão investigados como excessos circunstancialmente cometidos”.
Por desinformação ou preferência por reescrever os fatos, Doria atribuiu a “bandidos” o que ocorreu unicamente por obra e graça de 38 policiais que invadiram uma rua onde cinco mil pessoas se divertiam a céu aberto em um baile funk. Disseram que perseguiam dois motoristas que teriam atirado em sua direção.
Mentira ou verdade? Mesmo que fosse verdade, ir à caça de dois motoqueiros em meio a uma multidão é um desrespeito a qualquer protocolo policial. Espancar e atirar com balas de borracha em fatias da multidão em fuga por becos e vielas sem saída foi o que provocou as nove mortes por “asfixia mecânica”.
Chamar a chacina de “fato que não inibirá as ações de segurança” é revelar uma ausência de compaixão que não se espera de uma figura pública eleita pelo voto. Da mesma forma, antecipar que “possíveis erros da polícia” em Paraisópolis “serão investigados como excessos circunstancialmente cometidos”.
Possíveis erros? Por tudo o que já se sabe, Doria ainda tem dúvida de que a polícia errou? Erros que resultaram na morte e no ferimento de pessoas podem ser considerados apenas “excessos circunstancialmente cometidos”? Doria assim os consideraria se praticados no Morumbi, bairro vizinho à favela?
Em linha com o governador, o coronel Marcelino Fernandes, comandante da Corregedoria da Polícia Militar, anunciou o afastamento de 6 dos 38 agentes que se envolveram na ação. Para quê? Segundo o coronel, “para preservá-los”. Está sendo montado o cenário para que daqui a meses os 6 policiais sejam inocentados.
Nada que cause espanto. Em setembro último, Doria afirmou que não é prioridade de sua gestão reduzir o índice de mortes em ações policiais. Na ano passado, dissera: “Se fizerem o enfrentamento com a polícia e atirarem, a polícia atira. E atira para matar”. Lembra alguém? Bolsonaro? Wilson Witzel? Quem mais?
Sem licença para matar
Exclusão de ilicitude nunca mais
A chacina de Paraisópolis selou para sempre a sorte do projeto de lei despachado para o Congresso pelo presidente Jair Bolsonaro que trata da chamada excludente de ilicitude. Ou seja: define situações em que militares e agentes de segurança podem ficar isentos de punições ao cometer crimes, como matar.
Em setembro passado, uma proposta semelhante foi retirada do pacote de leis anticrime do ministro da Justiça, Sergio Moro, que tramita na Câmara dos Deputados. Se o ambiente no Congresso já era desfavorável à aprovação do projeto de Bolsonaro, tornou-se mortal depois da chacina na capital paulista.
Carlos Andreazza: Paulo Guedes está irritado
Talvez já não se sinta um superministro
As revoltas recentes na América Latina, sobretudo no Chile, têm servido como desculpa para justificar tanto o ímpeto autocrático do bolsonarismo — o recrudescimento, por exemplo, do discurso que legitima algo como um novo AI-5 caso evento parecido ocorresse no Brasil — quanto as dificuldades do governo Bolsonaro, especialmente em matéria econômica.
Diga-se que ninguém se valeu mais deste recurso — da muleta do quebra-quebra chileno —do que Paulo Guedes.
As rebeliões no continente, aliás, iluminaram o que havia muito estava nu: que o ministro jamais poderia ser agente educador-moderador do presidente-imperador, e pelo fato de que o Posto Ipiranga sempre esteve muito mais próximo da mentalidade bolsonarista, com sua vocação para o conflito e a ruptura, que do lugar de equilíbrio institucional fetichizado por empresariado e mercado financeiro.
As rebeliões no continente — à luz do que manifestam nossos governantes — deveriam nos lembrar de que não há uma tradição democrática no Brasil, e que os limites definidos pela democracia tendem mais a incomodar que confortar. Guedes está irritado. Reage não se opondo — não raro oferecendo tortuosos argumentos — aos que surfam a tentação de atribuir os percalços da agenda reformista liberal ao que seriam excessos da democracia. Seria mais fácil com menos — já nos ensinou Carlos Bolsonaro.
Nas palavras de Guedes, somente na semana passada, as convulsões na América Latina tentaram autorizar uma aberração inconstitucional — excludente de ilicitude em operação de Garantia da Lei e da Ordem — e aliviar a carga de uma constatação: a de que seu programa de reformas estruturais parou. Por ordem do presidente: parou.
Guedes está irritado. Talvez pense em Moro — o ex-Moro. Talvez já não se sinta um superministro. É natural que procure uma narrativa em que se escorar. (Que se utilize de uma fundamentada em instrumento de exceção: aí é quando as circunstâncias expõem os indivíduos.) A versão escolhida depositou sua credibilidade nas mãos de Bolsonaro; em até quando o presidente endossará o texto segundo o qual a “bagunça” no continente seria o motivo por que mandou travar a reforma administrativa.
Guedes prometeu demais. Anunciar metas ambiciosas, sob a lógica do setor privado, costuma cobrar preço alto na administração pública. A expectativa política, gerada desde dentro, era imensa. O país zeraria — neste 2019 — o déficit das contas públicas. Havia outras promessas para já. Sublinhe-se: não cumpridas. O pacote de privatizações — reconhecidamente — avança com mais agruras que o previsto. A reforma tributária foi entregue a um secretário inepto, que tudo centralizava, e cuja queda impôs ao ministério que iniciasse o trabalho do zero. E a da Previdência, tocada sob a tal nova política que encanta Guedes, chegou a bom termo tanto quanto fez envelhecer prematuramente o governo. Ainda não se recuperou o ar, e já vem outro ano eleitoral...
A frustração é evidente. A irritação, materializada em praguejamento autoritário, é consequência. O caldo entornou. Mas ninguém —nem no governo nem em grande parte da imprensa — quer se encontrar com o problema de que Guedes se alavancou em excesso (para curtíssimo prazo), subiu o sarrafo à altura inalcançável; e não entregou.
É óbvio que isso faz aumentar a pressão e alimenta os adversários, inclusive os internos. É óbvio que faz subir o fogo em que o populismo bolsonarista cozinha o liberalismo econômico que supôs ser possível prosperar sem liberalismo político e reformar um Estado ora tocado por um projeto autocrático de poder.
Talvez se queira desfilar com a fantasia de que está tudo bem, tudo sob controle, até o carnaval. Depois de a Mangueira passar, porém, será necessário voltar à claríssima entrevista que o ministro deu à repórter Ana Clara Costa, publicada neste GLOBO , no último domingo, para enfrentar a dor, a ardência, da mensagem.
Guedes, transparente, fala no risco de o Brasil reproduzir a Argentina; nisto contidas uma real possibilidade — a de seu plano, sem a célere implementação das reformas, não resultar em crescimento sustentável e, pois, fracassar — e uma ameaça (ou não seria um bolsonarista): o de a esquerda voltar, como o kirchnerismo no país vizinho.
Não há como ler a entrevista — um longo lamento — senão com pessimismo. É esquisito. Seus melhores momentos se desdobram numa superfície temporal impossível, indefinível. O ministro coloca sua gestão da economia num tempo inexistente, espécie de limbo em que estaríamos sempre atrasados. Isto porque o triunfo de sua agenda — conforme expressa o próprio Guedes — dependeria de rapidez no avanço das reformas. E esta rapidez já não veio. É ele quem diz. A projeção de crescimento que faz —1% em 2019, 2% em 2020, 3% em 2021 e 4% em 2022 — configura Inês morta , dado que ancorada em aceleração que não houve. É angustiante.
Guedes está irritado. Terá cansado?
Merval Pereira: Um século antecipado
Nesses 11 meses de governo, Bolsonaro já quis se livrar de Moro, mas verificou que seria uma perda considerável para seu apoio popular
O que já circulava como rumor nos grupos políticos mais próximos do presidente Jair Bolsonaro, ontem virou realidade. Em entrevista ao Estadão, o articulador político do Palácio do Planalto, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, disse que uma chapa de reeleição com o ministro Sérgio Moro de vice “seria imbatível” na disputa de 2022. “Ganhava no primeiro turno, disparado”, avaliou.
Não é a primeira vez, antes de completar um ano de mandato, que Bolsonaro, que garantira na campanha ser contra a reeleição, aparece nas especulações de seu entorno, e nas suas próprias, como candidato. Mas, como costuma dizer o presidente da Câmara Rodrigo Maia, daqui a até 2002, em política, falta “um século”.
O tempo da política nada tem a ver com o calendário gregoriano, assim como o tempo da economia costumeiramente depende da situação política, e vice-versa. No momento, o governo Bolsonaro vive esse dilema. A perspectiva política é sombria em grande parte dos países, em especial aqui na América do Sul, e por isso o presidente orientou seu ministro da Economia Paulo Guedes a suspender temporariamente as reformas.
Ao mesmo tempo, se a economia não reagir, “esse governo não termina”, como afirmou a senadora Simone Tebet, presidente da Comissão de Constituição e Justiça, refletindo o pensamento majoritário dos políticos.
Tudo isso para dizer que aventar a possibilidade de ter Moro como vice só serve, neste momento, para definir que o vice atual, General Hamilton Mourão, está fora dos planos do Bolsonaro. E que o prestígio popular do Moro fez com que voltasse à posição original de quase intocável.
Nesses 11 meses de governo, Bolsonaro já quis se livrar de Moro, mas verificou que seria uma perda considerável para seu apoio popular. Ele e Guedes continuam superministros, com uma diferença: tiveram que se adaptar ao estilo Bolsonaro de governar, onde qualquer observação, por menor que seja, transforma um ministro prestigiado em traidor. E as exigências de demonstrações de lealdade são permanentes.
Os dois são também os principais alvos do ex-presidente Lula, que também adiantou a máquina do tempo para polarizar com Bolsonaro. Já chamou Guedes de “destruidor de sonhos e de empresas públicas brasileiras”. E Moro de “canalha”.
Tanto três anos antes das eleições presidenciais é um tempo demasiadamente antecipado para avaliar a potencialidade de um candidato a presidente que tanto Ibope quanto Datafolha têm dados bastante escassos desse período em eleições anteriores. O Ibope simplesmente não faz pesquisas nesse período, e o Datafolha faz pesquisas eventuais, com um leque enorme de candidatos. Em 1999, o Datafolha fez uma pesquisa onde os candidatos do PSDB poderiam ser Mario Covas, Tasso Jereissati ou Serra. Em 2007, Serra aparecia na frente à medida que o tempo passava. Em 2015, Bolsonaro nem aparecia na listagem dos possíveis candidatos, assim como Fernando Haddad.
Paranóia
Recentemente escrevi que os deputados estavam dispostos a aprovar a prisão em segunda instância, mas, em contrapartida, aprovariam também uma lei explicitando, entre outras coisas, que a delação premiada não pode ser usada como prova.
Essa afirmação me parecia inócua, pois há decisão do Supremo nesse sentido, e orientação expressa nas cartilhas do Ministério Público. Os deputados alegam, porém, que, não estando em nenhuma lei, essa definição pode ser desobedecida a qualquer momento, de acordo com a interpretação de cada juiz.
Pois parece mais paranóia do que outra coisa. O ministro do STF Marco Aurélio Mello se encarregou de esclarecer o caso. O parágrafo 16 do artigo quarto da Lei 12850, conhecida como Lei das Organizações Criminosas, já prevê que “nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente colaborador”. O ministro Marco Aurélio foi o relator no STF quando se analisou a higidez da lei.
Luiz Carlos Azedo: Tragédia na vida banal
“A repressão policial às manifestações culturais da periferia não é eficaz, apenas amplia a base social do crime organizado. Se fosse, não existiria mais pancadão em São Paulo”
Notável geógrafo, o falecido professor Milton Santos era um observador arguto da vida banal nas periferias do mundo, ou seja, o dia a dia dos cidadãos afetados pela globalização, com suas desigualdades e grande exclusão. Dedicou a vida a analisar sua época, com um olhar crítico sobre o atual modelo de relações internacionais, constituído entre 1980 e 1990, e que está sendo posto em xeque tanto no centro como nas periferias do mundo.
Sua geografia desenvolveu novos conceitos sobre espaço, lugar, paisagem e região, nos quais o fator humano tem um papel central. Sempre pôs uma lupa no uso político dos territórios para compreender o desenvolvimento. Teria hoje 93 anos se fosse vivo e, com certeza, do alto da pilha dos seus 40 livros publicados e com o prestígio de doutor honoris causa em mais de 20 universidades do mundo, seria mais uma voz a subir o tom diante da tragédia deste fim de semana em Paraisópolis, a maior favela de São Paulo.
Dizia que a captura das políticas públicas pelos grandes interesses privados acaba por deixar ao relento o cotidiano da população de baixa renda, que se vê obrigada a buscar alternativas de sobrevivência numa espécie de beco sem saída social, porque esses interesses estavam mais voltados para o lucro do que para os objetivos das políticas urbanas e sociais. Segundo ele, a vida banal é desprezada pelo poder público e, no espaço urbano onde essa ausência é maior, surgem as soluções improvisadas, as transgressões e a economia informal (o gás, a gambiarra, o gatonet, a proteção a agiotagem etc.), que muitas vezes acaba capturada pelo crime organizado, que achaca, chantageia e mata, seja ele o tráfico de drogas, sejam as milícias.
O que deseja um cidadão das periferias? Projetar seu próprio futuro, vislumbrar perspectivas dignas da existência, expressar sua maneira de entender o mundo, seja por meio de crenças, manifestações culturais ou práticas sociopolíticas. Ter qualidade de vida, viver num ambiente agradável e sustentável, provido de água, esgoto, energia e meios de comunicação na medida adequada, com assistência médica, acesso à educação e à cultura, meios de transporte e um sistema de abastecimento adequado.
Agrega-se a isso o acesso ao entretenimento e ao lazer, que também são as aspirações da maioria dos jovens brasileiros, porém, para parcela considerável deles, principalmente nas periferias, são inatingíveis. De certa forma, isso se reflete na cultura de periferia, no hip-hop, no funk, nos bailes de charme, no slam e no passinho. Como as políticas públicas não chegam às periferias na escala necessária, é natural que essas manifestações culturais fomentem a economia informal que dela se retroalimenta, do ambulante que vende água mineral, cerveja e destilados aos traficantes que distribuem a maconha, a cocaína e o crack para animar a festa, como também ocorre na maioria das “raves” de classe média, sem que a polícia toque o terror.
Economia criativa
Sem ironia, cada território tem a sua própria “economia criativa”. Festas de funk como o Baile da 17, em Paraisópolis, no qual nove jovens morreram pisoteados na madrugada deste domingo, após uma ação da Polícia Militar, ocorrem em todas as comunidades de periferia das grandes cidades, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro. Somente neste ano, foram realizadas 7,5 mil “Operações Pancadão” em São Paulo, nas quais foram efetuadas 874 prisões, 76 apreensões de adolescentes, apreensão de 1,8 tonelada de drogas e de 77 armas, de acordo com a corporação.
Era só uma questão de tempo uma tragédia como essa acontecer. Ninguém tem dúvida de que a violência é um dos principais problemas da nossa vida urbana, mas o endurecimento da política de segurança pública e o estímulo à venda de armas como alternativa de autodefesa para a população não são uma resposta à altura do problema. Além disso, a desconstrução das políticas públicas voltadas para as periferias, principalmente na cultura e na educação, contribui para agravar o problema. A repressão policial às manifestações culturais da periferia não é eficaz, apenas amplia a base social do crime organizado. Se fosse, depois de tantas operações, não existiria mais pancadão em São Paulo. É preciso oferecer aos jovens das periferias alternativas melhores para manifestações culturais, entretenimento e lazer. Bombas de gás lacrimogênio, spray de pimenta, balas de borracha e muita porrada, como vimos em Paraisópolis, só podem resultar em tragédias.
http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/tragedia-na-vida-banal/
“Sem negros, não há Brasil”, diz Ivan Alves Filho à nova edição da Política Democrática online
Historiador afirma, em artigo publicado na revista da FAP, que há exclusão social do negro no país
Cleomar Almeida, da Ascom/FAP
O historiador Ivan Alves Filho diz que o Brasil tem a segunda maior população negra do mundo. “Esse é um dado fundamental para se compreender a nossa realidade”, escreveu ele, em artigo publicado na nova edição da revista Política Democrática online. Todos os conteúdos da revista podem ser acessados, de graça, no site da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), que produz e edita a publicação.
» Acesse aqui a 13ª edição da revista Política Democrática online
A FAP é sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania. Autor de uma série de livros, entre os quais Presença Negra no Brasil e Memorial dos Palmares, Ivan lembra que o padre Antônio Vieira, certa vez, disse: “Sem Angola, não há Brasil”. Para o autor, é possível afirmar, ainda, que “sem o negro, não há Brasil”.
“O povo faz história pelo trabalho. E o povo negro vem carregando esse país nas costas há cinco séculos”, afirma o historiador, no artigo exclusivo produzido para a revista Política Democrática online. “Como falar da nossa literatura sem Machado de Assis? Da nossa música, sem Pixinguinha? Da nossa arquitetura, sem Aleijadinho? Do esporte brasileiro, sem Pelé? Das nossas rebeliões, sem Zumbi dos Palmares?”, questiona Ivan.
Na avaliação do autor, “há uma evidente exclusão social do negro entre nós”. “E isso mergulha suas raízes num passado não tão distante assim. Se, por um lado, o regime escravista integra o negro na economia; por outro, o exclui da cidadania”, afirma o historiador. “A própria abolição, ao libertar o escravo, esqueceu-se de libertar o negro, “acrescenta.
De acordo com Ivan, é preciso reconhecer que a questão negra é, acima de tudo, uma questão nacional. “Ou seja, uma luta de todos os brasileiros”, diz ele. “A batalha pelos direitos dos negros no Brasil é parte da luta e não uma luta à parte. Com essa ótica, acreditamos ser fundamental unir o particular ao geral, uma vez que as chamadas lutas setoriais não devem ter um tratamento setorial”, afirma, citando um trecho do livro Presença Negra no Brasil, editado pela Fundação Astrojildo Pereira.
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Míriam Leitão: Por ironia, inimigo dos EUA somos nós
O ataque de Trump ao Brasil é um choque de realidade para o governo Bolsonaro. Países têm interesses, e não amigos ideológicos
O setor do agronegócio dos Estados Unidos é o que mais está sentindo o efeito da guerra comercial criada pelo presidente Trump contra a China. Por isso, ontem, ele inventou um inimigo externo, tática que sempre usa para camuflar seus erros. Desta vez, o inimigo somos nós. E conosco, por ironia, está a Argentina. Os dois países estariam, na delirante explicação de Trump, desvalorizando a moeda deliberadamente para aumentar suas exportações. E de novo mira no aço e no alumínio que já enfrentaram barreiras no governo dele.
Esse é o estilo Trump. Ele cria uma crise contra outros países, dá aos produtores americanos a impressão de que está agindo, e depois faz da retirada do problema, que ele mesmo criou, a sua vitória. Caberá à diplomacia brasileira defender os interesses do Brasil. Ela poderá constatar neste caso o que tem sido dito por todos os analistas que entendem de diplomacia e de comércio exterior, sobre a natureza das relações internacionais.
O que Trump mostrou ontem ao governo Bolsonaro é que países têm interesses e não amigos ideológicos. A resposta de Bolsonaro de que ligaria para ele porque são amigos é patética, tanto que no final do dia já tinha recuado. É preciso ter uma resposta formulada de maneira estratégica. Trump tudo faz de caso pensado e numa entrevista, depois dos ataques matinais no Twitter, voltou a falar contra o Brasil, argumentando que a desvalorização cambial estaria sendo “muito injusta para os nossos industriais e muito injusta para os nossos fazendeiros”.
O que Trump quer? Provavelmente ele está incomodado com a queda da exportação do agronegócio americano para a China, especialmente grãos e proteína animal. Parte da queda se explica pela retaliação chinesa à guerra que Trump iniciou. O governo americano chegou a elevar muito os subsídios à soja, o que desorganiza o mercado. Trump cria um caso na expectativa de falar para o seu público e depois exigir algo. A tática é pôr o bode na sala e depois pedir algo para tirar o bode.
Se ele quiser qualquer coisa que seja autolimitação das exportações do agronegócio para outros países será inaceitável. Mas com Trump é preciso sempre esperar pelo pior.
Nos ataques ao Brasil e à Argentina ontem, o presidente Donald Trump está tentando confundir uma vez mais. Ele fez referência aos produtores agrícolas antes de dizer que elevaria as tarifas do aço e do alumínio. Em um dos tweets, ele disse que deu uma grande redução de tarifas ao Brasil. Mentira. Ele elevou as tarifas, e depois recuou do aumento mas impôs cotas ao Brasil. Os exportadores de aço aceitaram essa limitação quantitativa e as exportações caíram este ano 16%. Ou seja, a desvalorização do real nem poderia ajudar a estimular a exportação porque tem um limite físico.
O dólar tem subido no mundo inteiro por inúmeros fatores, e um deles é a incerteza que Trump cria. O Brasil tem outros problemas internos, e a Argentina, ainda mais. Lá, houve inclusive um acordo entre o governo que sai e o governo que entrará no dia 10 de dezembro para impedir a continuação da desvalorização. Eles impuseram aos argentinos o “cepo”, uma restrição de acesso à moeda americana.
Nada do que Trump disse ontem fica em pé. Ele nada tem a reclamar do Brasil, que nos últimos anos acumulou muito déficit na comércio com os EUA. No ano passado, em dez meses, houve um pequeno superávit para o Brasil, de US$ 50 milhões. Este ano, o superávit dos Estados Unidos está em US$ 1,1 bilhão. Ao mesmo tempo, a exportação brasileira para a China recuou US$ 1,6 bilhão e o saldo comercial encolheu em US$ 1,8 bi. A exportação de soja do Brasil para a China recuou 26% em valor, ou US$ 6,2 bilhões, e o volume teve queda de 16%. A corrente de comércio com a China caiu de US$ 83 bilhões de janeiro a outubro de 2018 para US$ 81 bilhões no mesmo período de 2019. Este ano, por sinal, tem sido de queda do comércio internacional, por culpa de Trump.
O real não está sendo desvalorizado para estimular a exportação, e os números não mostram qualquer sinal de “comércio injusto” por parte do Brasil. A ironia de tudo isso é que a diplomacia de Bolsonaro estava brigando com a Argentina e declarando I love you para Trump. Agora está de cara com a realidade dos fatos: Brasil e Argentina estão no mesmo barco enfrentando o protecionismo americano e a acusação injusta de estarem manipulando o câmbio para ganharem no comércio internacional.
Paulo Hartung: A reforma do Estado e a refundação do Brasil
É preciso reconstruir a nossa máquina governativa, em todos os seus estratos
A impositiva mudança de rumo na História do Brasil passa necessariamente pela refundação do Estado. Para entrarmos no trilho que nos poderá levar a um caminho de prosperidade compatível com nossas potencialidades é preciso reconstruir a máquina governativa, que, ao longo dos séculos, dá prioridade ao patrimonialismo e ao privilégio, desviando-nos do caminho da igualdade de oportunidades, da inclusão social e do desenvolvimento socioeconômico sustentável.
A dramática realidade de desigualdade e baixa mobilidade social remonta a uma sociedade constituída sobre o colonialismo e o escravagismo. Construímos um país que ostenta distância abissal entre quem tem acesso à instrução e aos bens e serviços do progresso e os empobrecidos que quase nada têm para subsistir e cuja possibilidade de ascender a outra posição socioeconômica é quase nula.
Isso tem muito que ver com a estrutura de Estado que vem sendo historicamente montada. Para não nos afastarmos muito na linha do tempo, basta olhar para o getulismo, a ditadura militar e a Constituinte de 1988 e perceberemos o vulto fortalecido de um Estado concentrador de renda e de oportunidades, e perversamente promotor de desigualdades.
Neste modelo injusto de organização governativa se sustentam desde a oferta precária da educação básica, passando pela constituição de insustentáveis sistemas tributário e previdenciário, até a manutenção de inconcebíveis privilégios em corporações/carreiras de Estado.
Entendo que chegamos ao término desse ciclo. Estamos num fim melancólico produzido por absoluta crise de sustentabilidade fiscal. Não há recursos públicos suficientes para financiar este modelo de Estado, caro, injusto e ineficiente.
Os nefastos efeitos socioeconômicos dessa desvirtuosa estrutura governativa se somam a uma série de fatores contingenciais e o que tivemos em 2018 foi um processo eleitoral esvaziado da política em seu sentido estrito. Ao se avizinharem as eleições municipais de 2020, soam os alarmes da emergência democrático-republicana.
O Brasil, depois de um ciclo de potente crescimento, originado com o Real e dinamizado pelo boom das commodities, entrou em grave recessão. Com o equivocado manejo da política econômica aprofundando a crise de 2008-2009, vivemos uma brutal crise no emprego e na geração de renda, incrementando a tragédia nacional das camadas historicamente marginalizadas da população. Some-se a essa cena o déficit de lideranças políticas que vem assolando o País já há algum tempo. Há um vazio crescente na seara de líderes que pensem, formulem e inspirem a modernização do Brasil em termos contemporâneos nos aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais.
Deve-se, ainda, inserir nesse rol de complexidades a crise, vivida planetariamente, da democracia liberal, em tempos de alta conectividade digital em rede. Como bem formulado por Manuel Castells, “na raiz da crise de legitimidade política está a crise financeira, transformada em crise econômica e do emprego, que explodiu nos EUA e na Europa no outono de 2008”.
Como diz o pensador, essa crise política é global, mas também tem colorações nacionais. A brasileira, por exemplo, agravou-se assustadoramente por uma série de equívocos na gestão de políticas econômicas em ambiente atravessado por práticas de corrupção endêmicas. Esse conjunto explosivo nos jogou no fosso da mais grave recessão econômica de nossa História e só ampliou o descrédito da política.
Assim, nesse turbilhão de fatores desconcertantes da vida nacional, tivemos um processo eleitoral que não debateu o País, suas questões e suas oportunidades. Em vez de política genuína, tivemos embates de extremismos com conteúdos desimportantes para a cidadania e o desenvolvimento, dinamizados por redes sociais alimentadas por fake news, ódio e intolerância.
Olhar para a frente é buscarmos eleições em 2020 dignas de serem chamadas de republicanas, centradas que devem ser em ideias e em meios de se fazer prevalecer o bem-estar e o interesse comum. Mirar um futuro diferente do presente e muito distanciado do passado é incrementar os passos reformistas.
Nessa impositiva caminhada de reinvenção democrático-republicana nacional, precisamos fazer avançar as reformas estruturantes do Estado. É necessário reconstruir nossa máquina governativa, em todos os seus estratos. É preciso mudar a vocação de nosso Estado, fazendo de suas principais potencialidades não a promoção de privilégios e desigualdades, mas a indução de prosperidade para todos.
Precisamos que a reforma vá além de ajustes no mapa de arrecadações e responsabilidades governativas. Temos um Estado ineficiente para comprar, contratar e remunerar. Precisamos modernizar as máquinas de governo, dando-lhes capacidade de resposta, possibilitando-lhes agilidade nas entregas e fixando custos compatíveis com a realidade brasileira.
É necessário digitalizar os governos, promovendo o reencontro do modus operandi das institucionalidades com o modus vivendi da sociedade, infundindo eficiência e resolutividade às máquinas públicas e conectando os governos ao mundo em que o universo da produção já opera há muito.
Noutra frente, é preciso que se estabeleça um estável ambiente jurídico-normativo que inspire e torne viável o incremento da participação de empreendedores nacionais e estrangeiros, incluindo parcerias público-privadas, na dinamização da economia nacional.
Na urgente jornada de reinvenção da História brasileira, esse conjunto de reformas modernizantes do Estado é passo decisivo para que tomemos um caminho cujo horizonte seja um País contemporâneo do nosso tempo, verdadeiramente democrático e republicano, digno de nossas possibilidades de desenvolvimento humano e econômico, uma Nação de justiça social e inclusão autônoma e produtiva.
*Economista, presidente executivo da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), membro do Conselho do Todos Pelaeducação, foi governador do Estado do Espírito Santo (2003-2010 e 2015-2018)