Evandro Milet
A sabedoria expressa em ditados populares já não vale mais no mundo atual das startups e da transformação digital. Vejamos alguns deles:
1 – Em time que está ganhando não se mexe
O pessoal do futebol sabe que se fizer sempre as mesmas jogadas elas serão logo marcadas. Portanto, em time que está ganhando também se mexe para poder continuar a ganhar. O clássico O Dilema do Inovador de Clayton Christensen mostrou a dificuldade das empresas em mudar os seus produtos vencedores e acabam atropelados por novos entrantes no mercado. Devemos canibalizar nossos próprios produtos antes que os concorrentes o façam.
2 – Devagar é que se vai longe
No mundo das startups o lançamento de produtos é feito antes que estejam prontos. A validação se dá nos clientes. Se você não tiver vergonha do seu produto no lançamento, você o lançou tarde demais, é um dos mantras do Vale do Silício. Quem trabalhar devagar nesse ambiente não chegará a lugar nenhum.
3 – Quem espera sempre alcança
Só os paranoicos sobrevivem, disse o presidente da Intel. Você pode viver do passado, tentar antecipar o futuro ou se preparar para qualquer futuro que vier, mas a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo, como disse Alan Kay, cientista do Laboratório PARC da Xerox, criador da interface gráfica como a conhecemos hoje. Se você quiser esperar para ver o que vai acontecer, alguém chegará no seu lugar. A época é de arriscar, experimentar, ousar. Pode ter certeza que, se você tiver alguma ideia boa, alguém no mundo estará tendo a mesma ideia. Se esperar para levar adiante, já era.
4 – Os últimos serão os primeiros
Os vencedores levam tudo é o novo ditado. Startups rodam em alta velocidade para adquirir clientes, sem dar lucro por anos a fio para criar uma barreira de entrada intransponível. A Amazon ficou sete anos sem distribuir lucros enquanto vendia a ideia para os investidores que estava criando a maior loja do mundo. Quem consegue disputar com eles no e-commerce, ou com o Google em buscas, ou com o AirBnB em hospedagem? Antes bastava fazer melhor e mais barato. Depois, o importante era fazer diferente. Agora, o fundamental é fazer primeiro. Os últimos serão os últimos mesmo.
5 – A pressa é inimiga da perfeição
Antes feito que perfeito é o novo ditado. A perfeição acontece com o tempo e a validação do cliente. O MVP, Menor Produto Viável, substitui meses de planejamento para lançar um produto. Ciclos longos de planejamento estratégico não conseguem mais sustentar uma concorrência.
6 – Cada macaco no seu galho
Descrição estreita de funções não cabem mais. Procuram-se profissionais T-shaped. Com uma especialidade profunda, porém com outras competências que facilitem o trabalho em equipe. Para participar dos onipresentes squads, os grupos multidisciplinares, é interessante ir além da sua especialidade, pulando em outros galhos de vez em quando. O Google prefere generalistas a especialistas em contratações.
7 – Manda quem pode, obedece quem tem juízo
As estrelas podem ser dissidentes, um pouco radicais, um pouco rebeldes”, diz Jeff Bezos. Beto Sicupira da Ambev aceita pessoas diferentes porque “é mais fácil segurar um louco que empurrar um burro”. Jony Ive, gênio do design da Apple: “queremos um designer que nos impressione a ponto de nos intimidar”. Steve Jobs: “Não faz sentido contratar pessoas inteligentes e dizer a elas o que elas devem fazer; nós contratamos pessoas inteligentes para que elas possam nos dizer o que fazer”. Você acha que pessoas com essas características vão obedecer alguém cegamente em uma empresa? Tchau.
8 – Porrete não é santo, mas faz milagres
Tirar o medo da organização, ensinava o velho Deming nos seus princípios da qualidade. Liderança autoritária inibe a criatividade e pode dar até acusação de assédio moral. A inovação tem que estar difundida em toda a empresa e não só na cabeça da liderança. Pessoas importantes para a organização hoje devem arriscar, tentar coisas novas, ultrapassar barreiras, questionar verdades estabelecidas e explodir velhos paradigmas. Ninguém faz isso com medo.
9 – Faça o que eu digo, não faça o que eu faço
Uma organização não segue a boca dos seus dirigentes, segue as suas pernas. Se a inovação é prioridade, isso tem que estar explícito não só na fala, mas principalmente nas atitudes e nas ações da liderança.
10 – Errar é humano
Em um tempo onde a experimentação constante é fundamental, o erro faz parte. Como diz Elon Musk, um ícone dos novos tempos: “O fracasso é uma opção aqui. Se as coisas não estão falhando, você não está inovando o suficiente”. Nessa velocidade é melhor pedir perdão do que pedir licença. No mundo das startups, erro é sinal de aprendizagem.